Descrição de chapéu Coronavírus

'Se o álcool em gel não for suficiente, só Deus para me proteger', diz comerciante

Obrigados a ter contato direto com o público, trabalhadores temem contágio

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São Paulo

A poucos metros da entrada do pronto-socorro do hospital Samaritano, em Higienópolis, no centro de São Paulo, Joaquim Ferreira de Araújo, 46, passa o dia ressabiado. "Agora mesmo veio um rapaz de máscara", diz. "A gente não sabe quem é, o que tem. Às vezes, não tem nada, mas mesmo assim uso o álcool em gel o dia inteiro."

Joaquim é vendedor em uma banca de frutas na praça bem ao lado do hospital. "Já tá todo mundo meio nervoso com isso, ficar aqui do lado é um pouco mais preocupante", afirma.

Contra a ameaça invisível, ele se fia mesmo é no tubo de plástico ao lado das frutas. "Se esse álcool em gel não for suficiente, só Deus para me proteger do corona", diz.

Ele é parte do contingente de trabalhadores que obrigatoriamente têm que manter contato com o público em geral. Para estes, as recomendações não são tão diferentes das destinadas ao resto da população.

As principais recomendações para se proteger incluem bons hábitos de higiene, como sempre manter as mãos limpas (com água e sabão ou álcool em gel de concentração de pelo menos 60%), cobrir a boca ao tossir e espirrar (com a dobra do cotovelo ou lenços descartáveis) e manter distância de 2 metros de quem estiver tossindo e espirrando.

A OMS aconselha o uso racional de máscaras descartáveis para evitar desperdício, ou seja, usá-las apenas em caso de sintomas respiratórios, suspeita de infecção por coronavírus ou em caso de profissionais que estejam cuidando de casos de suspeita.

O vírus é transmitido pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como:

  • gotículas de saliva;
  • espirro;
  • tosse;
  • catarro;
  • contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão;
  • contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.

A um quarteirão de Joaquim, mas igualmente ao lado do hospital, Raimundo Marcos de Araújo, 46, está mais tranquilo em relação ao contato com os clientes. Enquanto fala com a Folha, um grupo de médicos e enfermeiros, com jalecos a tira colo, tomam café na conveniência em que ele é gerente.

Do lado de dentro do balcão, um enorme tubo de álcool em gel faz parte da rotina dos funcionários. Nenhum produto é manuseado, nenhum café é tirado sem que os atendentes usem o produto.

"Não tenho receio, não. Às pessoas que vem aqui sabem como se proteger e nunca tivemos problema", diz Joaquim. "Mas mesmo assim, quando chego em casa a primeira coisa que eu faço é passar mais ainda."

De acordo com o presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, Ricardo Patah, o órgão comunicou as principais empresas cujos funcionários são ligados a eles para que disponibilizem produtos de higiene.

Para os funcionários que não podem trabalhar de casa e que têm alguma doença ou condição que aumente o risco da doença, Patah afirma que o sindicato pleiteia que sejam liberados para ficar em casa sem prejuízos no salário.

Tire suas dúvidas sobre o coronavírus

DEVO USAR MÁSCARA?

Se você não tiver nenhum sintoma, não. A OMS recomenda o uso apenas por pessoas com sintomas, para que evitem a transmissão, em combinação com outras medidas de higiene. A exceção são pessoas cuidando diretamente de doentes.

TENHO SINTOMAS DE GRIPE (FEBRE, TOSSE SECA, DIFICULDADE PARA RESPIRAR). O QUE FAÇO?

Quem não teve contato com um possível transmissor provavelmente tem um resfriado ou outro tipo de gripe.

Segundo o infectologista da USP Esper Kallás, pessoas com quadros leves deveriam receber orientações para ficar em casa com ​remédios para os sintomas, hidratação e repouso. Já a falta de ar progressiva é sinal de infecção grave pelo novo coronavírus.

“Se a pessoa tem nariz escorrendo, um pouquinho de tosse e uma febre baixa, a doença é benigna. Se ela começa a ter tosse mais intensa, com catarro com pus, febre alta com calafrios, falta de ar, com as ponta dos dedos e os lábios arroxeados, tem que ir para o hospital.”

Por que todo mundo não deveria ir para o hospital? "A pessoa que vai para o hospital com dor de cabeça e um pouco de febre tem grande chance de pegar coronavírus na sala de espera do sujeito ao lado.”

Segundo Kallás, não adianta fazer testes diagnóstico em todo mundo. "A prioridade deve ser a população com risco de ter a doença mais grave, como idosos e pessoas com doenças crônicas, e profissionais de saúde.”

Em caso de dúvida, consulte um médico por telefone, se possível, para receber orientações sobre o que fazer.

DEVO PROCURAR UM SERVIÇO DE SAÚDE MESMO SEM SINTOMAS?

Não. Atualmente, não há recomendação para que casos sem sintomas sejam testados para o novo vírus. "Do ponto de vista da saúde pública, não vamos fazer exame em todo mundo para, numa loteria esportiva, saber se alguém teve o vírus", disse o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.

O risco maior é de acabar pegando o coronavírus no próprio hospital.

HÁ VACINA CONTRA O CORONAVÍRUS?

A vacina ainda não foi desenvolvida. Por isso, a forma mais eficaz de se proteger é manter bons hábitos de higiene.

DEVO EVITAR VIAJAR?

Não necessariamente, mas locais com índice de contaminação mais alto comprovado, que estão na lista do Ministério da Saúde, exigem atenção redobrada às medidas de higiene e aglomerações de pessoas. O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, também pediu bom senso.

DEVO EVITAR AGLOMERAÇÕES?

Aglomerações ajudam na disseminação do vírus, mas, tomados os cuidados básicos, elas só precisam ser evitadas em uma áreas de alta incidência, o que não é o caso do Brasil.

FIZ UMA ENCOMENDA INTERNACIONAL. CANCELO?

O vírus pode sobreviver por mais de quatro dias em superfícies de objeto. Esse tempo diminui com as variações constantes de temperatura. Na dúvida, limpe a superfície com álcool.

O PRIMEIRO PACIENTE COM CONFIRMAÇÃO DE CORONAVÍRUS FOI PARA CASA. ELE ESTÁ DISSEMINANDO O VÍRUS?

Ele ficou em isolamento domiciliar e pessoas que tiveram contato com o paciente são monitoradas. O vírus pode ser transmitido por pacientes sintomáticos durante um período de 14 dias. Não há dados conclusivos a respeito de risco de transmissão por doentes assintomáticos.

CHÁ QUENTE COMBATE O VÍRUS?

Não.

E VITAMINAS?

Não.

E ANTIBIÓTICO?

Não.

E HOMEOPATIA?

Não.

BEBIDAS PODEM AJUDAR A PREVENIR O VÍRUS?

Não, mas, em caso de infecção, a hidratação é importante.

RECEBI UMA MENSAGEM SUGERINDO CUIDADOS. COMO SEI SE ELA ESTÁ CORRETA?

Vale atenção mesmo para mensagens que tenham fontes supostamente críveis —um hospital conhecido, a OMS, um veículo de comunicação reconhecido, o Ministério da Saúde ou a secretaria estadual. O mais indicado é entrar, por conta própria, nos sites das fontes confiáveis citadas anteriormente.

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do publicado em versão anterior deste texto, estudos apontam que o novo coronavírus Sars-CoV-2 pode sobreviver por mais de quatro dias em superfícies de objeto, e não durante poucas horas. O texto foi corrigido
 

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