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SP hesita em fechar transporte, que continua lotado em horários de pico

Apesar de queda de passageiros, trens estão cheios em horários de pico, e passageiros, receosos

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São Paulo

Apesar do apelo das autoridades para que as pessoas fiquem em casa, a fim de reduzir os riscos de contágio do coronavírus, trens e terminais de ônibus de São Paulo continuam cheios nos horários de pico.

Quem não pode parar de usar o transporte público relata uma grande tensão dentro dos vagões, onde um espirro pode gerar confusões.

"Infelizmente, os trens, mesmo com a redução de pessoas, ainda continuam cheios nos horários de pico. Eu particularmente não tenho outra opção pois preciso trabalhar, até até porque minha família não está aqui", diz Marcos Freitas, 28, mineiro e que trabalha num call center.

Diariamente, ele usa a linha 12-safira, da CPTM. Dentro dos trens, qualquer um é visto como um potencial infectado pelo coronavírus. "É bem complicado não sabermos se as pessoas estão doentes ou não", diz.

Ele é contra a paralisação da linha, mas afirma que deveria haver intervalos menores entre os trens.

Os passageiros têm usado as redes sociais para mostrar que, mesmo com diminuição do movimento, ainda andam espremidos no horário de pico.

"Alguém pode me explicar se isso não é aglomeração? Qual a diferença entre um vagão e uma loja? Qual a diferença?", publicou um usuário da CPTM em rede social, com uma foto do trem cheio.

Tanto Governo quanto Prefeitura de São Paulo têm hesitado em tomar medidas restritivas para o transporte público, por onde passam todos os dias 15,3 milhões de passageiros, de acordo com a última pesquisa Origem e Destino do Metrô.

Com escolas fechadas e muitas pessoas trabalhando de casa, no entanto, houve redução no movimento do metrô (em 45%), na CPTM (35%) e nos ônibus intermunicipais da EMTU, (40%), segundo o governador João Doria (PSDB).

Doria tem criticado medidas mais restritivas e, por enquanto, o prefeito Bruno Covas (PSDB) também negou medidas neste sentido.

Na quinta-feira (19), os prefeitos das sete cidades do Grande ABC (Santo André, São Bernardo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra) decidiram suspender o transporte público municipal, gradativamente até 28 de março e totalmente a partir do dia 29, por tempo indeterminado.

O governo, no entanto, não gostou da medida. Em público, Doria chamou a ação de precipitada. No dia seguinte, fez uma videoconferência para pressionar os prefeitos a voltarem atrás.

Presidente do consórcio formado entre os sete prefeitos, Gabriel Maranhão (Cidadania), prefeito de Rio Grande da Serra, rebateu: "Só na linha 10-turquesa [da CPTM, que atende o ABC], são 409 mil pessoas diariamente. Essa limpeza que estão falando que fazem é suficiente? Vão conseguir manter dois metros de distância entre os passageiros? Estão pulverizando alguma coisa? A gente acha que o governo do estado está negligenciando a epidemia".

Há outra reunião por vídeo marcada com o governo para a próxima quarta-feira (25). "Eles fazem videoconferência para eles, mas a população pode continuar pegando transporte público", criticou Maranhão. "Passar pano em banco não resolve nada. E a pessoa contaminada que fica ombro a ombro com o passageiro ao lado?" afirma ele, que lembra que na região há 432 mil idosos.

O Sindicato dos Metroviários tem defendido que pelo menos as estações menores sejam fechadas. A preocupação cresceu entre os trabalhadores do Metrô desde que um oficial de manutenção teve a infecção por Covid-19 confirmada, segundo a entidade.

Em nota, o Metrô afirmou que afastou o funcionário após ter sido comunicado que havia essa suspeita e disse que ele cumpre medidas de isolamento em sua casa.

Como trabalha na manutenção, o funcionário não tem contato direto com passageiros. Segundo o sindicato, entretanto, há outros casos possíveis de Covid-19 entre funcionários do Metrô, parte deles com contato com o público.

O sindicato tem tentado, junto ao Metrô, garantir a redução do fluxo de passageiros, a limpeza profunda nos trens e estações e a disponibilização de álcool em gel, luvas e máscaras.

Para o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), no entanto, o transporte público é serviço essencial e não pode ser totalmente interrompido.

"Há enfermeiros, médicos, policiais, várias funções que não podem parar, sem contar as pessoas que precisam procurar um serviço de saúde. Parar completamente é absurdo e autoritário", afirma Rafael Calabria, coordenador do Programa de Mobilidade da entidade.

O governo e a prefeitura avaliam proibir a entrada de idosos maiores de 60 anos nos horários de pico se a situação se agravar. O comunicado foi publicado nesta sexta-feira (20).

Os governos municipal e estadual também determinaram a suspensão de gratuidades para estudantes, com objetivo de diminuir a lotação do transporte.

A prefeitura deve tirar mil ônibus de circulação a partir de segunda, acompanhando a redução da demanda.

Enquanto as atividades não são suspensas, as empresas têm intensificado suas ações de limpeza. É o caso da Metra, que opera nove terminais de ônibus e 12 linhas da EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos, que atende a Grande São Paulo).

Agora, os ônibus passam por desinfecção a cada viagem que completam (são em média dez por dia), com foco nos balaústres, bancos e encosto de cabeça, além de disponibilizar álcool em gel.

Um problema de uma possível paralisação é que, no modelo atual, parte importante do financiamento do transporte público vem das receitas com bilhetes.

“É complicado. As empresas em geral dependem do passageiro para ter receita. Estamos com um comitê organizado para tratar dessas questões”, diz Thiago Terci, porta-voz da Metra.

A NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos) estima que o agravamento da doença pode fazer os sistemas municipais perderem mais de 50% dos passageiros.

O órgão já vê uma queda de 30% nos últimos dias —metade disso é reflexo do fechamento das escolas. A entidade diz que vai pleitear junto ao governo federal a criação de um fundo de emergência para complementar o déficit previsto entre custos e receitas das empresas de transporte público coletivo urbano.

A CNT (Confederação Nacional do Transporte) também pediu ao governo federal um conjunto de medidas para mitigar os impactos negativos nas empresas do setor, como liberação de crédito e prorrogação do pagamento do INSS, além de orientação para que não seja mais aceito dinheiro em espécie, para reduzir riscos de contágio.

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