Descrição de chapéu Coronavírus

'Bolsonaro pode melhorar a saúde', diz viúva de morto por coronavírus sobre o 'e daí?' do presidente

Corpo de Jocivaldo de Souza Mafra, que tinha 43 anos, foi enterrado nesta quarta

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Manaus

Jocivaldo de Souza Mafra, 43, auxiliar de serviços gerais, foi enterrado na manhã desta quarta-feira (29), dois dias após morrer. Não tinha nenhum comorbidade. Enquanto esperava o sepultamento, sua viúva, Laiane Rodrigues dos Santos, 26, contou como foram os 18 dias durante os quais ele esteve internado.

Bolsonaro pode melhorar a saúde. Se melhorar a saúde, as pequenas emergências [pronto atendimento], tenho certeza que não teria tantas mortes como há por aí. A maioria das pessoas que estão aí morrendo, é tudo por falta de ar, à míngua, definhando.

O que está matando as pessoas? Não é a doença, é a negligência do Estado, dos órgãos públicos, tem milhares nesses hospitais e estão morrendo. Precisam de um respirador e não têm.

Com uma coroa de flores na mão, Laiane Rodrigues do Santos acompanha o enterro do marido, vítima do novo coronavírus, no cemitério Nossa Senhora Aparecida, em Manaus
Com uma coroa de flores na mão, Laiane Rodrigues do Santos acompanha o enterro do marido, vítima do novo coronavírus, no cemitério Nossa Senhora Aparecida, em Manaus - Fabiano Maisonnave/Folhapress

É uma coisa sem noção. Essa doença não tem coisa de idade. O meu marido tinha 43 anos, nenhuma doença crônica, não era obeso. Ficou 18 dias no hospital.

Ele foi internado no SPA (Serviço de Pronto Atendimento, gerido pelo governo estadual) no dia 8 de abril. No dia 10, saiu o resultado positivo. Ele entrou com sintomas de pneumonia, sem falta de ar. Colocaram junto com os positivos [para Covid-19]. Como ele estava com a imunidade baixa, pegou. A maioria está contraindo nos hospitais.

O atendimento é péssimo. Conseguimos um respirador para ele por meio de uma decisão judicial. Conseguimos a transferência para a UTI depois por meio de uma decisão judicial também. Ele ficou 15 dias no tubo, precisando de uma medicação que não tinha. Foi definhando, definhando.

Em um dia, quando o meu esposo estava internado no SPA, morreram 11 de uma vez só, um atrás do outro. Não tinha respirador, estavam todos no cateter [nasal] de oxigênio. Onze pessoas.

Ao SPA, eu ia de manhã em busca de informação, o médico só vinha depois do meio-dia. Um dia, cheguei umas 9h30, só veio às 14h30. Eles reclamavam que não tinha médico, enfermeira, todos infectados: “Só tem um médico, tem de aguardar, aguardar”.

Quando foi pra UTI do Hospital Getúlio Vargas, 90% do pulmão já tinha ido, vaso sanguíneo, coração, não tinha possibilidade mais.

Nem todos respeitam isolamento social. As pessoas veem a situação e, mesmo assim, não acreditam no que está acontecendo. Vão acreditar assim que elas ficarem nos corredores dessas emergências, definhando.

Não entendo essas manifestações [contra o isolamento]. Tanta coisa acontecendo. Manaus está caótica. Você vai pra um hospital, não é atendido. E as pessoas ainda querem abrir as portas, começar a circular. Estão vendo o fim acontecendo e, mesmo assim, custam a acreditar.

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