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Viviana Santiago

É preciso uma sociedade inteira para manter crianças e adolescentes a salvo

Violência doméstica, psicológica e sexual ameaçam meninas e meninos na quarentena

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O ano de 2020 trouxe para o Brasil desafios inimagináveis —a pandemia de Covid-19 chega ao país e traz consigo o rastro de dor e morte visto em outros continentes. Nossa vantagem sobre os países por onde a doença já passou é recolher as lições aprendidas e tentar reduzir os impactos e perdas. Para isso, o isolamento social e o respeito à quarentena serão essenciais.

A quarentena, em curso na maioria dos estados do Brasil, é a nossa melhor aposta para tentar deter o coronavírus. No entanto, existem muitos perigos a ela associados. Quando falamos em proteção, crianças e adolescentes podem ser expostos a um maior risco de sofrerem várias violências.

Isso porque a casa não é um lugar seguro para muitas meninas e meninos no Brasil, especialmente para meninas —em condições de normalidade, na maioria das vezes, estar em casa significa vivenciar a violência.

Brinquedos em biblioteca vazia em prédio em São Paulo
Brinquedos em biblioteca vazia em prédio em São Paulo - Amanda Perobelli - 19.mar.20/Reuters

O Brasil ainda é um país fortemente marcado por uma cultura machista, que confere a homens um poder corretor que lhes possibilita subjugar meninas e mulheres, objetificar e controlar suas vidas. Os papéis tradicionais de gênero implicam muitas vezes em se submeter a expectativas de comportamento que as preparem para viver responsabilidades que assumirão enquanto adultas.

Estamos falando, então, da casa e do seu entorno como o principal local dos quase 500 mil casos de violência sexual que acontecem no Brasil ao ano. A cada hora, três meninas menores de 18 sofrem essa violência. E entre o medo e a vergonha existe um gap de meses, às vezes de anos, entre o ocorrido e a denúncia.

O trabalho infantil doméstico, que é classificado pela Organização Internacional do Comércio como uma das piores formas de trabalho infantil, está presente na vida da maioria das meninas —e em um tempo de quarentena, pode afetá-las seriamente. Há famílias que consideram que meninas são adultas em miniatura e isso faz com que achem normal e exijam que elas sejam inteiramente responsáveis por limpeza, preparo de alimentos e cuidados com outras crianças, impedindo assim que acessem seu direito a lazer, estudos e impactando seu desenvolvimento.

A violência doméstica, presente na vida de milhões de mulheres, afeta crianças e adolescentes também: episódios de violência física e psicológica, especialmente contra meninas, são comuns —e muitas vezes motivam a saída de casa, resultando em casamentos infantis como fuga dessa realidade.

Como elas não têm a possibilidade de sair de casa e buscar ajuda em outros espaços, é nosso dever enquanto sociedade apoiar crianças e adolescentes e apoiar meninas para que se mantenham em segurança. Essas violências sempre existiram e já foram toleradas por tempo demais. Elas não são naturais só porque “sempre foi assim”.

É preciso conscientizar meninas e meninos sobre canais de denúncia e dar a eles acesso aos números de conselho tutelar e ao Disque 100, que recebe denúncias de violações a direitos humanos. Vizinhas e vizinhos devem ter atenção e, se virem algo suspeito, se ouvirem algo suspeito, devem denunciar. Vamos espalhar essa ideia e nos engajar nessa luta.

Junto com mais dez organizações e movimentos de defesa de direitos de crianças e adolescentes das cinco regiões do Brasil, nós da Plan International Brasil lançamos a campanha #QuarentenaSimViolênciaNão. A ideia é fazer chegar ao máximo possível de famílias informações sobre riscos e meios de denúncia e prevenção.

Precisamos da sua ajuda para chegar mais longe! Divulgue nossos posts nas redes sociais, espalhe nossas ideias e utilize nossa hashtag para contar como você está fortalecendo essa campanha. Contamos com você. Contamos com a sociedade inteira.

Participam dessa Campanha: Acmun, Engajamundo, Força Menina, GirlsRockCampBrasil, Girl Up, Gol de Letra, Instituto da Infância, Instituto Alana, Plan International Brasil, Think Twice, Visão Mundial, MP-BA, MP-SP e OAB-SP-Comissão de Direitos Infanto-Juvenis.

Viviana Santiago é gerente de Gênero e Incidência Política da Plan International Brasil

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