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Fábrica de Itu usa matéria-prima de colchões para produzir máscaras e doar

Epidemia de coronavírus quase paralisou produção totalmente; agora, saem itens para UTIs

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São Paulo

Faz 53 anos que José Carlos Christofoletti, 77, o seu Zito, começou a produzir colchões e a vender de porta em porta com uma carroça puxada pelo cavalo Periquito. Ao longo destas mais de cinco décadas, sua fábrica, a ApoloSpuma, tornou-se uma das dez maiores do segmento no país e já passou por muito aperto, de altas repentinas do dólar a incêndios, mas jamais viveu algo tão grave quanto esta crise do coronavírus.

Ele acompanha por telefone as decisões dos filhos para dar conta de um cenário em que os clientes, tanto no mercado interno quanto nos países para os quais exportam, pararam de comprar. Com as lojas e as fronteiras fechadas, tiveram de interromper a produção dos 3.000 colchões por dia. A expectativa, a partir da análise do mercado internacional, inclusive de fábricas de colchões da China, o primeiro país a sofrer com o coronavírus, é de que a recuperação será gradual e só virá a longo prazo.

Funcionários da ApoloSpuma, fábrica de colchões de Itu que passou a produzir máscaras para doar
Funcionários da ApoloSpuma, fábrica de colchões de Itu que passou a produzir máscaras para doar - Divulgação

Foi então que seu Zito, ligado nos noticiários que alertam sobre a escassez de suprimentos para a prevenção da doença, teve uma ideia: usar o TNT, que serve como matéria-prima na fabricação dos colchões, para produzir máscaras e doar para prefeituras, hospitais, asilos, abrigos e outras entidades. Para isso, a ApoloSpuma consultou as diretrizes da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia), que, diante da atual pandemia, suspenderam por 12 meses a necessidade de certificação para luvas e máscaras.

Medidas de segurança foram adotadas na fábrica, como turnos, distribuição de álcool em gel e marcações no piso para a distância mínima entre os profissionais; todos utilizam máscaras. Dos 350 funcionários, há sete produzindo colchões, também para doação aos hospitais, especialmente para as UTIs, e 15 costureiras fazendo as máscaras —o restante está em férias coletivas. A produção de máscaras começou no dia 26 de março, com 500 unidades diárias e, em uma semana, com a prática, passou a 4.000.

A prioridade é a doação, mas, se houver sobra, analisa-se a possibilidade de venda para empresas privadas. Diante do tamanho do impacto do coronavírus no mercado, não há, no entanto, como vislumbrar lucro com as máscaras ou mesmo redução de prejuízo. “Nada se assemelha ao que estamos vivendo hoje. Nas outras crises, podíamos pensar em como solucionar os problemas e isso trazia entusiasmo. Nesta luta de agora, todos nos sentimos desarmados e isso aumenta a angústia, mas vamos aprender a superar essa dificuldade”, afirma seu Zito.

José Carlos (Zito) Christofoletti, que começou como carroceiro e hoje tem fábrica de colchões que exporta para vários países, em imagem de 2017
José Carlos (Zito) Christofoletti, que começou como carroceiro e hoje tem fábrica de colchões que exporta para vários países, em imagem de 2017 - Avener Prado - 13.mar.17/Folhapress

Além de acompanhar aflito as notícias sobre infectados e de se preocupar com o negócio, ele lamenta não poder ir à fábrica, o que fazia diariamente antes da quarentena. A ideia de produzir as máscaras trouxe luz para esses dias sombrios.

“Nossa intenção é ajudar a comunidade e inspirar outras empresas a fazer o mesmo. Esta crise tem que ensinar a todos a dar mais valor à vida e a ter mais responsabilidade. Além de ter muita fé. Deus ajuda, mas também temos que fazer a nossa parte”, diz seu Zito, que é católico e também está sentindo falta das missas.

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