Descrição de chapéu Coronavírus

Fortaleza usa carro de som e caminhão vaporizador contra avanço de Covid na periferia

Bairros mais pobres respeitam menos o isolamento social, segundo os próprios moradores

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Fortaleza

Em Fortaleza, os carros de som com avisos para que as pessoas evitassem aglomerações tiveram como primeiro alvo as pessoas que insistiam em ir à praia apesar das recomendações do isolamento social.

O avanço dos casos de contaminação pelo novo coronavírus para a periferia da cidade, porém, fez com os veículos mudassem de rota.

Hoje, eles servem para tentar impedir que moradores fiquem amontoados nas calçadas, batendo papo ou jogando cartas, algo comum nos bairros mais pobres da capital cearense.

Caminhão vaporizador roda por bairros de Fortaleza com substância que ajuda a conter o novo coronavírus - Prefeitura Fortaleza/Divulgação

Uma pesquisa elaborada por quatro professores do Lepec (Laboratório de Estudos em Política, Educação e Cidade) da Universidade Federal do Ceará mostrou que faz sentido a Prefeitura de Fortaleza se preocupar com a falta de isolamento social em bairros periféricos. Segundo a percepção dos próprios moradores, locais mais pobres respeitam menos a quarentena.

Decreto do governo estadual de 20 de março fechou comércio e indústrias não essenciais no Ceará e já foi renovado três vezes —o último vale até 5 de maio.

"Os bairros mais nobres foram os que tiveram o maior número de casos confirmados laboratorialmente, mas há mais óbitos confirmados em outras regiões das cidades. Isso acontece porque a capacidade de testagem é muito pequena e muitas pessoas assintomáticas ou com sintomas leves não são diagnosticadas, mas transmitem a doença", disse o prefeito Roberto Cláudio (PDT), por meio de redes sociais no início da semana.

O último balanço divulgado pela prefeitura, na quarta (22), mostrou que os bairros Vicente Pinzón, Meireles, Barra do Ceará e José Walter são os que mais têm mortes por Covid-19 na cidade. Com exceção de Meireles, na área nobre, que registrou oito mortes, os outros bairros estão em regiões pobres. No Vicente Pinzón morreram nove pessoas; nos outros dois, sete.

O Ceará tem um total de 239 mortos pela doença e 5.121 casos confirmados, destes 4.063 em Fortaleza, que teve 228 óbitos, segundo dados de sexta (24).

Para tentar conter a disseminação, a Prefeitura de Fortaleza colocou nas ruas, além dos carros de som, um caminhão vaporizador que lança uma substância desifetante contra o vírus.

O caminhão é diferente do que também é usado em Fortaleza contra o Aedes aegypti, mosquito que pode transmitir doenças como a dengue e a zika. O veículo que leva o vaporizador contra o novo coronavírus é maior e não mira pontos específicos que possam ter água parada.

"É importante que a substância caia nas calçadas e dentro da casa das pessoas para fazer a higienização", afirmou o prefeito. A prioridade do caminhão no início serão os bairros da periferia da cidade.

Segundo a pesquisa feita por meio de um questionário enviado online e respondido por 1.977 pessoas entre 8 e 11 de abril, 85% dos entrevistados da Barra do Ceará responderam "não" à pergunta "As pessoas da sua rua estão respeitando a quarentena?".

No Vicente Pizón, esse número foi de 75% e, no José Walter, 57%, bem superior as respostas negativas de pessoas que vivem em bairros de áreas nobres como Aldeota (19%) ou Meireles (21%).

"Percebemos que as pessoas em bairros mais pobres têm mais dificuldade em manter o isolamento porque precisam sair para trabalhar. Condomínios não dispensaram porteiros ou zeladores, muitas pessoas não abriram mão de babás ou diaristas", disse a socióloga Danyelle Nilin, que, ao lado dos pesquisadores Irapuan Peixoto, Harlon Romariz e Rafael de Mesquita, elaborou a pesquisa cujos números preliminares foram divulgados nesta semana.

Segundo Nilin, os dados recolhidos mostram que tarefas costumeiras do dia a dia, como ir ao supermercado ou pagar conta em bancos ou lotéricas, continuaram a ser feitas normalmente em áreas mais periféricas, onde as pessoas não tem acesso a bancos por aplicativos de celular ou computadores.

Mas não só isso. "As pessoas não conseguem deixar de ficar na calçada conversando com o vizinho, ou jogando cartas com os amigos. É uma questão cultural", disse Nilin.

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