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Igrejas evangélicas mantêm cultos presenciais nas periferias de SP

Entidades se baseiam em decreto para manter funcionamento, mas nem todas seguem orientações sanitárias

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Lucas Veloso
São Paulo | Agência Mural

“Bom dia, voltamos a realizar cultos neste último domingo graças a Deus em algumas igrejas de São Paulo", disse o pastor Matheus Souza, líder religioso na igreja Plenitude do Trono de Deus, em Guaianases, zona leste da capital, quando questionado sobre os cultos no local.

Em seu perfil nas redes sociais, o pastor publicou um vídeo no último sábado (18) em que anuncia o retorno dos cultos presenciais nas igrejas. O post cita a publicação do decreto 59.349, com orientações sobre estabelecimentos que prestam serviços considerados essenciais.

Assinado pelo prefeito Bruno Covas (PSDB), o documento autoriza atividades religiosas de qualquer natureza, “obedecidas as determinações do Ministério da Saúde”.

Em 26 de março, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) incluiu atividades religiosas e casas lotéricas no rol de serviços essenciais, que não podem ser interrompidos durante os esforços de combate ao novo coronavírus.

O pastor diz que as atividades voltaram a funcionar segundo os requisitos do governo: todos devem obrigatoriamente usar máscaras e álcool em gel na entrada do templo. Além disso, somente 30% do salão pode ser usado pelos fiéis.

Assim como a circulação de pessoas pelas ruas, as celebrações religiosas variam de bairro para bairro. Há igrejas que adotaram os cultos online e tentam manter tradições, como o uso das roupas habituais, e outras fecharam o espaço, mas o deixam aberto para quem procura.

A PIB (Primeira Igreja Batista), localizada em Perus, no noroeste da cidade, adotou os cultos onlines há algumas semanas. O próximo está programado para domingo (26).

“Devido às atuais circunstâncias, momentaneamente nossos cultos serão online. Porém, mesmo desta forma , queremos juntos manter a comunhão e os momentos de louvor e adoração ao nosso Deus e Senhor”, avisa a descrição do evento.

Nos últimos dias, porém, têm aumentado o número de celebrações que têm ocorrido normalmente. A igreja Paz e Vida, no Jardim São Jorge, distrito da Cidade Ademar, na zona sul, é um exemplo disso.

Por ali, moradores reclamam do som alto e da reunião de pessoas. Manoel de Almeida, pedreiro e vizinho do salão, diz que apesar das determinações, as coisas não mudaram. “Tem dia que entra mais de 60 pessoas aí, numa gritaria só. E não adianta reclamar, pois eles continuam sem acreditar."

Em Poá, na Grande São Paulo, a Adap (Assembléia de Deus Ministério Apostólico) publicou em suas redes sociais um vídeo em que aparecem dezenas de pessoas reunidas para celebrar a Páscoa, no domingo (12). O encontro presencial foi realizado apesar da transmissão online na página da igreja nas redes sociais.

Nas imagens disponíveis da celebração, é possível ver pessoas dividindo pão, oferecido em uma cesta por um membro da igreja. Medidas de prevenção, como o distanciamento social e o uso de máscara e de álcool em gel, não foram vistas no vídeo.

Responsável pelo local, o apóstolo Neves Barbosa, 39, diz que segue todas as medidas de segurança, mas diz que não pode impedir a entrada das pessoas. “Pedimos para vir, mas não podemos impedir a entrada na casa de Deus e nem obrigar o uso de máscara."

A Prefeitura de Poá afirma que o departamento de fiscalização recebeu denúncias e já orientou a igreja quanto ao período de quarentena e os procedimentos que devem ser seguidos. “Em caso de descumprimento, o departamento informará os órgãos de segurança competentes”, afirma.

Há duas semanas, a organização Rede de Proteção e Resistência ao Genocídio monitora espaços nas periferias que não estão seguindo as determinações. Entre campos de futebol e festas, há também igrejas evangélicas no levantamento em locais como o Parque Maria Helena, zona sul da capital, e a favela do Jardim São Remo, zona oeste.

"Sem aglomeração nas quebradas! E sem violência! É pela vida! É uma questão de saúde pública!", diz a nota publicada pelo grupo.

Relatos de moradores falam de cultos com as portas fechadas, mas algumas denominações, como a Deus é Amor, ficam com as portas abertas.

O bispo Eduardo Bravo, presidente da Unigrejas (União Nacional das Igrejas e Pastores Evangélicos), associação fundada em dezembro de 2018, orientou sobre as medidas necessárias nos cultos.

Entre as recomendações estão o impedimento da entrada de pessoas com mais de 55 anos e/ou com algum problema de saúde e o espaçamento maior entre os assentos.

Procuradas, a Paz e Vida, Deus é Amor e a Plenitude do Trono de Deus não responderam às perguntas sobre orientações dadas aos fiéis sobre cultos no período de quarentena nem sobre os relatos de aglomerações em seus cultos.

A Prefeitura de São Paulo disse que, de acordo com o decreto 59.349, de 2020, os locais que descumprirem as regras estão sujeitos à interdição imediata de suas atividades e, em caso de resistência, cassação do alvará de funcionamento ou autorização temporária.

A aposentada Rosa do Carmo, 68, moradora de Guaianases, afirma não concordar com a postura das comunidades evangélicas. “Acho um absurdo tanta luta para as pessoas ficarem em casa e uma insiste em fazer culto. Gente, vamos orar em casa”, diz. “Não é justa essa situação, sem conscientização."

Moradores também criticaram o não funcionamento do 156, telefone de serviços da prefeitura da capital para reclamações de barulhos.

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