Filho de imigrantes libaneses de classe média que buscaram no Brasil o refúgio das dores de um país assolado por guerra e pobreza, Faisal Cury não enfrentou poucos obstáculos para vencer na vida como queria seu pai.
Ao lado dos irmãos Habib, Wanderley, Suleiman e Alice, o jovem Faisal entendeu precocemente a ordem paterna e se graduou em Medicina, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1958.
Após um breve período no interior de São Paulo, fixou-se em Osasco, de onde nunca mais se afastaria, e construiu ao longo de seis décadas na profissão uma das maiores clínicas médicas do Brasil.
A Maternidade Dr. Cury, aberta em 1968, por muitos anos levou seu nome. Os registros dos seus pacientes falam da admiração e da gratidão pelo médico de todas as horas. O "doutor Cury" foi um clínico geral à moda antiga, que cuidou também de crianças, idosos e gestantes, conciliando o saber técnico com um profundo conhecimento da psique e da alma do doente.
Irrequieto, interessou-se por muitas outras atividades: produção rural, construção, contabilidade, religião, cultura em geral. Conversar com ele era irresistível diante do sorriso acolhedor, das boas histórias e do seu humor.
Tal dom, somado à vontade de ajudar, o conduziu à política. Foi vereador, secretário de saúde e vice-prefeito em vários mandatos. Além de trabalhar pela população, defendeu os médicos e os profissionais da saúde.
A compulsão pelo trabalho não o impediu de cuidar da família. Yonne, então mulher e a mãe de seus filhos, foi sua companheira na construção do hospital e na carreira política. Os filhos Alexandre, Fábio e Marcelo fomos fiéis à manutenção da sua história e do seu nome; os primeiros, médicos como o pai, e o último, engenheiro agrônomo e paisagista.
O doutor Cury ainda se achava jovem. Com “somente 86 anos, e ainda com tanta coisa para fazer e conhecer”, dizia.
Não que tenha feito pouco. Nas últimas décadas, com a mulher, Juscileide, pode-se dedicar mais à política e à convivência com a família, composta de mais oito sobrinhos e sete netos.
Mas, nos dias que antecederam sua morte em decorrência de um câncer, no último dia 27 de março, em meio à pandemia do novo coronavírus, parece ter encontrado paz, a ponto de ter sido capaz de nos consolar.
“Calma que esta crise vai passar”, disse ao filho Marcelo. Se falava da pandemia ou de nossa dor é impossível saber.
Possivelmente, ambas serão superadas. Difícil, no entanto, será superar a falta que o doutor Cury fará para todos nós, pacientes, amigos e familiares. De tantas características que lhe eram peculiares, uma sobressaiu: o gosto pela vida.
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