Descrição de chapéu Coronavírus

Ocupação de leitos de UTI do litoral de São Paulo beira colapso

Hospitais de Santos chegam a 95% de ocupação em leitos por convênios, e rede pública alcançou 100% em cidade do litoral norte

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Santos

As cidades do litoral paulista já vêm sentindo os efeitos da pandemia do novo coronavírus em suas redes de saúde. Em alguns locais, os hospitais já começam a ficar perto da lotação, o que tem feito os municípios temerem um colapso iminente.

Em Santos, maior cidade do litoral do estado, está a maior parte dos leitos de UTI do litoral, 217. Desse total, 106 são da rede pública, que está cerca de 60% lotada com os casos do Covid-19. A cidade também vem percebendo um aumento gradual da ordem de até 5% por dia dos novos casos de coronavírus.

"Estamos bastante preocupados com esses números", apontou o secretário de saúde de Santos, Fabio Ferraz, que teme um colapso nos hospitais do município.

Equipe médica atende pacientes no Complexo Hospitalar dos Estivadores, em Santos (SP)
Equipe médica atende pacientes no Complexo Hospitalar dos Estivadores, em Santos (SP) - Prefeitura de Santos/Divulgação

Na rede privada, a média de internação em Santos chega a 80% nos leitos de UTI, segundo apurou a Folha. Na Santa Casa de Saúde, maior hospital da região, por exemplo, as internações unidades de terapia intensiva por convênios ou particulares alcançaram 95% da taxa de ocupação até a última sexta.

Já na Casa de Saúde, outro grande hospital da cidade, 85% dos leitos de UTI estão ocupados, e os leitos de internação atingiram ocupação total, com 100% de doentes

A preocupação é ainda maior porque Santos recebe muitos doentes das cidades próximas, o que ajuda a sobrecarregar o sistema de saúde. Segundo a prefeitura, 40% dos internados são de cidades próximas.

"Como cidade polo, temos uma ocupação média de 30% dos leitos de pessoas de outras cidades. Percebemos que esse número está crescendo, já que, com a saturação em outras cidades, as pessoas procuram os hospitais de Santos", explicou o secretário de saúde.

Segundo dados de Santos, 21% dos internados na cidade são da vizinha, São Vicente. Até a última sexta-feira (24), a prefeitura vicentina informou que os pacientes com Covid-19 eram encaminhados para hospitais de referência da região, mas que a cidade passará a contar com 120 leitos, sendo 47 de UTI, além de 4 de retaguarda com estrutura semelhante.

Com capacidades bem menores nos sistemas de saúde, outras cidades da Baixada Santista costumam recorrer a Santos. Até o fim de semana, a região tinha mais de 1.100 casos confirmados, mais de 1.600 suspeitos, cerca de 350 pessoas internadas em hospitais, 82 óbitos e 65 em investigação.

Em Cubatão, 5 dos 10 leitos de UTI estão preenchidos por pacientes doentes. Em Bertioga, são 10 leitos de UTI, sendo 2 utilizados. No Guarujá, são 30 leitos de UTI, com 12 ocupados. Já Itanhaém possui 10 leitos de UTI para Covid-19, com 9 casos confirmados e 1 óbito até o momento, enquanto Mongaguá, sem leitos, encaminha os casos críticos para hospitais da região —Santos fica a 40 km de distância.

A proximidade do limite nas internações em leitos de UTI vem se estendendo a outras cidades do litoral. Em Caraguatatuba, com 24 leitos de UTI, o fim de semana que teve o feriado prolongado por Tiradentes, no dia 21, registrou 100% de ocupação.

O secretário de saúde Amauri Toledo manifestou a tensão que houve na cidade quando os leitos de UTI chegaram à capacidade máxima. "Chegamos a ter todos sendo usados, foi estressante, é perigoso. E com o fluxo das pessoas que estão vindo e andando pela cidade, pode ser que a gente tenha um problema futuro​", desabafou. Na última sexta, a taxa de ocupação estava em 60%.

Caraguatatuba possui um hospital regional que também atende pacientes de cidades próximas, como São Sebastião, Ubatuba e Ilhabela. Na sexta, 7 dos 10 leitos desse hospital estavam ocupados.

Entre essas cidades, Ilhabela tem somente 8 leitos de UTI. Ubatuba não possui nenhum na rede pública da cidade e, até a manhã desta terça, tinha 3 pacientes internados em Caraguatatuba.

Já em São Sebastião, que com mais de 30 praias e 100 km de litoral costuma receber milhares de turistas, foi registrado um aumento de 130% no número de casos em um período de apenas cinco dias. No momento, dos 22 leitos de UTI locais, 7 estão ocupados e 2 mortes foram registradas pela doença.

Carlos Eduardo Antunes Craveiro, diretor-presidente da Fundação de Saúde Pública de São Sebastião, explicou que a cidade pensou em sua grande extensão de uma ponta a outra para montar a logística de combate à Covid-19, com os atendimentos de síndromes respiratórias agudas graves isolados no centro, pois é esperado que o número de casos cresça.

"Esperamos agora mais um aumento no número de casos. Mas estamos apostando no nosso alto índice de isolamento social. Tivemos 73% de adesão, apesar de sermos uma cidade turística e ainda termos aumento da procura dos turistas que não moram aqui, mas têm casa. Na costa sul da cidade identificamos esse aumento, o que pressiona nosso sistema de saúde", apontou.

No litoral sul, Iguape, Cananeia e Ilha Comprida, cidades menos populosas do litoral de São Paulo, também não possuem leitos de UTI. As três cidades utilizam os 39 leitos dos dois hospitais regionais, um de Pariquera-Açu e um de Registro, que ficam em média de 40 km a 70 km de distância.

Até a quinta-feira da semana passada, Ilha Comprida tinha uma criança internada em uma cidade vizinha e registros de 20 casos confirmados, 18 suspeitos e 1 óbito. A cidade foi uma das primeiras cidades do Vale do Ribeira a contratar laboratório credenciado e fazer os testes em todos os casos suspeitos, após ver que um exame havia demorado 20 dias.

"Isso nos preocupou muito, pois precisávamos realmente saber se o vírus estava circulante na cidade, uma vez que nesse momento a barreira sanitária da cidade já estava em funcionamento", disse Vanessa Melo, diretora do departamento de saúde de Ilha Comprida, que tem cerca de 11 mil habitantes.

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