Secretário de Educação Básica do MEC pede demissão

Consultora Ilona Becskeházy vai assumir lugar de Janio Macedo; essa é a segunda baixa no alto escalão do ministério neste ano

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Brasília

O secretário de Educação Básica do MEC (Ministério da Educação), Janio Macedo, pediu demissão do cargo por causa de desgastes na pasta comandada por Abraham Weintraub.

Macedo passou a avisar interlocutores na manhã desta quinta-feira (9) sobre sua saída do governo, antes mesmo da confirmação oficial. A subpasta é responsável pelas políticas federais que vão da creche ao ensino médio.

Questionado, o MEC anunciou nesta tarde que a consultora em educação Ilona Becskeházy assumirá o cargo. Ilona já estava próxima do governo e integra um grupo de especialistas envolvidos na nova política de alfabetização do ministério.

A consultora Ilona Becskeházy no jantar pela educação promovido pelo cônsul geral de Portugal, Paulo Lourenço, no Consulado de Portugal em São Paulo, em 2017
A consultora Ilona Becskeházy no jantar pela educação promovido pelo cônsul geral de Portugal, Paulo Lourenço, no Consulado de Portugal em São Paulo, em 2017 - 27.out.2017 - Mastrângelo Reino/Folhapress

Ilona é doutora em educação pela USP com estudo sobre as políticas de educação de Sobral (CE), município com resultados educacionais de destaque e para o qual Ilona prestou consultoria na elaboração de currículo.

Assim como o ministro, a consultora tem presença constante nas redes sociais e nos últimos meses era, entre especialistas da área, uma das poucas vozes de apoio à gestão Jair Bolsonaro na educação. Dessa forma, ela passou a ser seguida e elogiada por entusiastas do escritor Olavo de Carvalho, guru ideológico do bolsonarismo.

Sua indicação para compor o MEC era dada como certa por especialistas, integrantes do MEC e secretários de Educação.

A educação básica é apontada como prioridade pelo governo Jair Bolsonaro.

Secretários de Educação e especialistas viam Janio Macedo como uma fonte de diálogo dentro do MEC, em contraponto ao beligerante Weintraub.

Sua relação com o chefe, porém, desgastou-se sobretudo nos últimos dois meses, segundo relatos obtidos pela Folha. A falta de autonomia diante de um insistente crivo ideológico de Weintraub em praticamente todas as decisões foi fundamental para sua saída.

Macedo apostava na construção de iniciativas em consenso com secretários de Educação, que concentram as matrículas. Uma das políticas em que insistia era o apoio à implementação da Base Nacional Comum Curricular junto às redes, tema desprezado pelo ministro por causa de questões ideológicas.

Weintraub, por sua vez, criou atrito com os secretários ao insinuar que havia acordado com eles a opção de distribuir nas escolas alimentos da merenda para alunos pobres durante a pandemia de coronavírus, o que diverge da proposta dos dirigentes estaduais.

A nova secretária de Educação Básica já criticou as entidades que representam os secretários de Educação. No dia 12 de março, por exemplo, Ilona escreveu que elas têm agendas políticas e as ONGs, alvo de ataques do governo Bolsonaro, trabalham para cooptá-las.

"Dirigentes de entidades como Consed e Undime [que agregam dirigentes de Educação] tb [sic] têm agendas próprias, alguns são deputados, ou ligados a chefes do executivo de partidos que fazem oposição ao Governo Federal. Além disso, ONGs vêm usando a cooptação sistemática deles, desde que o MEC abdicou das políticas de indução. É uma cooptação limpinha, institucional: viagens, destaques em mesas e eventos, passeios em geral, possibilidade de virarem consultores, etc. Não quer dizer absolutamente nada que haja oposição institucional verbalizada por esses líderes", escreveu ela, numa série de mensagens que partiu de um editorial jornalístico crítico à gestão do MEC.

Funcionário aposentado do Banco do Brasil, onde trabalhou por 34 anos, Macedo já ocupou cargos na área de economia. Antes de chegar ao MEC, era secretário-adjunto de gestão e desempenho de pessoal, área ligada à Secretaria Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital. Assumiu a Secretaria de Educação Básica com a chegada de Weintraub ao MEC.

Essa é a segunda baixa no alto escalão do ministério neste ano. Arnaldo Lima, que também havia entrado no MEC com Weintraub, pediu demissão da secretaria de Educação Superior no fim de janeiro após desentendimentos com o ministro.

Weintraub completou um ano à frente do MEC na quarta-feira (8). Sob sua gestão, houve trocas em praticamente todos os órgãos importantes ligados à pasta. Além dessas duas secretarias, alterações ocorreram no comando do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas), FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) e Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).

A Folha procurou Janio Macedo, mas até a publicação deste texto não obteve resposta.

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