Descrição de chapéu Coronavírus

Sem UTI, paciente de pequena cidade pode precisar viajar até 82 km para ser internado

Pequenos municípios apelam a desinfecção de ruas e uso de máscaras para evitar casos da Covid-19

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Ribeirão Preto

Se um paciente de uma pequena cidade no interior de São Paulo tiver caso grave de Covid-19 em meio à pandemia do novo coronavírus, poderá ter de viajar até 82 km para ser internado, já que seu município dificilmente terá leito de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) disponível.

Por isso, prefeituras do interior têm apelado à desinfecção de ruas e distribuição de máscaras para tentar evitar a propagação da doença, que até a tarde desta quinta-feira (23) provocou 1.345 mortes no estado, em 114 das 645 cidades paulistas.

Jaborandi (a 420 km de São Paulo), com quatro casos da doença, até tem um hospital municipal com 17 leitos, dos quais 3 foram destinados a atender pacientes isolados com Covid-19. Mas nenhum foi usado até aqui.

Pacientes internados em 'área vermelha' do HC de Ribeirão Preto, que inclui casos confirmados e suspeitos do novo coronavírus
Pacientes internados em 'área vermelha' do HC de Ribeirão Preto, que inclui casos confirmados e suspeitos do novo coronavírus - Daniel Menezes/HC Ribeirão Preto/Divulgação

Isso porque ou os casos eram brandos, e não necessitaram de internação, ou mais graves, precisando inclusive de UTI, o que obrigou a prefeitura a levar os pacientes em ambulâncias para Barretos, onde havia nesta quinta duas pessoas da cidade internadas, uma delas na UTI, no hospital Nossa Senhora.

Segundo a secretária da Saúde, Rita da Silva Pereira, uma terceira paciente, de 37 anos, teve alta na última segunda (20) em Barretos, distante 34 km da cidade de origem.

O hospital também tinha nesta quinta internados de outras duas localidades, dois de Guaíra e um de Colina, de acordo com a prefeitura.

O cenário é corriqueiro, já que as maiores cidades têm mais recursos e demanda para leitos de UTI, fazendo com que casos de média e alta complexidade em pequenos municípios dependam de transferência para esses locais de referência. Menos de 10% dos 5.570 municípios brasileiros têm leitos de UTI.

Além do alto custo para implantação —só o respirador pode custar mais de R$ 50 mil, conforme o modelo—, a manutenção de equipamentos e equipe médica inviabiliza a existência em cidades pouco populosas.
O mesmo problema de Jaborandi, mas com distância bem maior, é registrado em Guzolândia (a 604 km de São Paulo).

Durante o feriado prolongado a cidade registrou um caso do novo coronavírus, de uma paciente que ficou internada na Santa Casa de Auriflama, distante 14 km, e teve alta. Se o caso fosse agravado, porém, teria de ser levada para Araçatuba, segundo a diretora da Saúde Maria Cristina de Souza.

“Aí não tem jeito, põe na ambulância e leva para lá. Não temos estrutura [respirador e UTI]”, afirmou a diretora sobre a cidade, que fica a 82 km de Guzolândia.

Com seus 5.038 habitantes, o município tem apenas uma unidade de saúde, que agora atende em horário estendido, das 7h às 19h, de segunda a sexta-feira. “Tivemos pedidos para prorrogar [mais] o atendimento, mas não temos condição. Não temos estrutura.”

Quem mora em Quintana, por exemplo, terá de ser levado para Marília, distante 46 km, caso seu caso seja considerado grave. A cidade tem um caso da Covid-19.

Com 6.403 moradores, Quintana tem respirador em uma unidade de saúde, mas não há leitos de UTI. Com isso, o paciente terá de viajar para ser tratado, segundo a diretora de Saúde, Andréia Lopes Pereira.

Foi o que ocorreu com o caso confirmado até aqui no município, um homem pertencente a grupo de risco, que ficou internado até o último final de semana em Marília. A condição pulmonar ficou reduzida e a alternativa foi hospitalizá-lo. Ele se recupera bem.

O cenário é visto também em Ribeirão Preto, onde o HC (Hospital das Clínicas), da USP, tinha na quarta (22) 16 dos 24 pacientes internados com diagnóstico confirmado de Covid-19 ou aguardando resultados de exames oriundos de cidades da região. Os outros 8 são de Ribeirão.

Do total, 9 estão em leitos de CTI (Centro de Terapia Intensiva) e 15 em enfermaria.

PULVERIZAÇÕES

O receio acontece até mesmo em locais em não há casos da doença registrados, como Cabrália Paulista (a 357 km da capital), onde a prefeitura está fazendo pulverizações semanais em todas as ruas com hipoclorito de sódio (água sanitária), distribuído nas vias por tratores.

O receio é que, sem leitos de UTI, se surgirem casos os pacientes terão de ser levados para Bauru, a 45 km, segundo o prefeito José Madrigal Ruda Filho (PTB).

A medida também ocorre em outros locais, como Jaborandi, onde todos os carros que chegam à cidade, em todos os acessos, passam por desinfecção, assim como ruas e avenidas. Estão sendo usados 20 mil litros do produto.

Em Quintana, o hipoclorito foi doado e uma empresa emprestou uma bomba pulverizadora que foi acoplada a um trator da prefeitura para fazer a limpeza.

Em Guzolândia, o produto foi utilizado uma vez e a cidade passará por outra desinfecção nos próximos dias.

Com os casos confirmados nesta quinta, já são 256 os municípios paulistas com registros do novo coronavírus, num total de 16.740 confirmações, segundo a Secretaria de Estado da Saúde.

Em geral, as cidades também têm pregado o uso de máscaras. A taxa de ocupação de leitos para atendimentos da Covid em UTI está em 55,3%.

Trator da Prefeitura de Quintana faz pulverização com hipoclorito nas ruas da cidade em ação de combate ao novo coronavírus
Trator da Prefeitura de Quintana faz pulverização com hipoclorito nas ruas da cidade em ação de combate ao novo coronavírus - Prefeitura de Quintana/Divulgação
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