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Banhistas burlam veto e voltam às praias no litoral paulista

Surfistas foram liberados em São Vicente e Praia Grande, mas uso da faixa de areia é vetado

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Santos

Virou cena comum para moradores de São Vicente (a 65 km de São Paulo) ouvirem de suas janelas discussões quase que diárias entre vizinhos na praia do Itararé, a mais frequentada da cidade.

“Sai da praia logo, vão todos morrer. Sai da rua”, gritam alguns. “Vai lavar o banheiro! Vai lavar a louça!”, rebatem outros.

A troca de ofensas é causada por uma espécie de invasão às praias da cidade, acentuada após o anúncio de liberação para a prática de surfe, anunciada pelo prefeito Pedro Gouvêa (PMDB) há quase um mês em uma live no Facebook.

Banhistas vêm burlando o veto para uso das praias em São Vicente, fechadas desde 19 de março, em medida conjunta adotada com outras oito cidades do litoral sul paulista no período de quarentena em razão do novo coronavírus.

Litoral paulista vem tendo movimento de pessoas na areia e no mar - Reginaldo Pupo - 26.abr.20/Folhapress

Diariamente, é comum ver pessoas caminhando, sentadas com crianças, praticando corrida ou formando pequenas aglomerações sem nenhum tipo de proteção. Nem mesmo a presença de policiamento tem inibido.

Carros da Polícia Militar e quadriciclos da guarda civil municipal ficam posicionados em diversos trechos da faixa de areia durante todo o dia, mas turistas e moradores são pouco incomodados. Há apenas registros de abordagens, sem detenções.

A volta dos banhistas às praias vem aumentando gradativamente desde o anúncio de liberação para a prática de surfe.

Em São Vicente, a flexibilização é condicionada à prática do esporte e em horário restrito, entre 6h e 10h. No papel, há regras claras, mas na prática elas não são obedecidas. Os principais registros são na praia do Itararé.

Já no litoral norte, a Prefeitura de São Sebastião liberou o uso da praia apenas de segunda a quinta-feira, para evitar acúmulo de turistas na faixa de areia aos fins de semana.

“Tem muita gente vindo de Santos para São Vicente. Os guardas têm permitido caminhar normalmente, o que acaba criando uma superpopulação. Pedimos que tomem cuidado para não perdermos a liberação”, disse o fabricante de pranchas e membro da Associação São Vicente de Surfe, Delton Menezes, 62.

No litoral sul, apenas Praia Grande e Bertioga adotaram medidas semelhantes. Em Praia Grande, o período para a prática é das 5h às 8h, enquanto em Bertioga é das 6h às 18h, de segunda a quinta-feira.

Cidades como Santos, Guarujá, Itanhaém, Peruíbe e Mongaguá seguem com suas faixas de areia totalmente interditadas, permitindo apenas o uso do calçadão.

“Moro bem em frente à praia dos Milionários e percebemos um movimento que tem aumentando a cada dia. Há poucos surfistas, pelo fato de o mar ser mais calmo, mas vemos um grande volume de pessoas circulando e na praia”, diz a psicóloga Elaine Medeiros, 59.

A preocupação da associação de surfistas, agora, é que o uso da faixa de areia, sem permissão, ocasione medidas proibitivas ao esporte. No último dia 28, em comunicado, o grupo espalhou pela rede social um texto chamado “Movimento Surf Consciente” pedindo para que os esportistas procurem por horários alternativos, surfem com distanciamento e retornem logo para suas casas.

“No começo, alguns surfistas iam escondidos. Então, conversamos com o prefeito [Pedro Gouvêa], e houve essa flexibilização”, diz Delton. “Não entendo esse temor sobre o surfe e a praia. É preciso, sim, colocar regras em supermercados, feiras, correios, casas lotéricas, bancos que estão lotadas diariamente.”

Apesar da preocupação com banhistas, surfistas são vistos no mar durante todo o dia. À reportagem Delton e alguns deles explicaram que jamais receberam orientações para o cumprimento do horário entre 6h e 10h.

A Prefeitura de São Vicente diz que a guarda civil da cidade faz abordagens constantes, com orientações sobre as restrições de permanência na faixa de areia para atender as regras estabelecidas. Em caso de resistência, a pessoa pode ser conduzida à delegacia.

Cidades como Santos e Guarujá já registraram detenções devido ao não cumprimento das recomendações. A Prefeitura de Santos diz que é constante a presença de carro de som orientando as pessoas a permanecerem em suas casas, assim como a de agentes da guarda municipal em quadriciclos pela areia.

Apesar da presença nas praias, de acordo com o último levantamento divulgado pelo governo, São Vicente é a décima cidade do estado com maior índice de isolamento, com 55%. Até esta quinta-feira (14), foram 318 casos confirmados de Covid-19 e 32 mortes.

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