Descrição de chapéu Coronavírus

Em cidades da Grande SP, periferias são as mais afetadas por Covid-19

Governo estadual determinou que região fique em fase que não permite reabertura ainda

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Barueri (SP), Osasco (SP), Carapicuíba (SP), São Bernardo do Campo (SP) e Guarulhos (SP) | Agência Mural

Analista na área de Tecnologia da Informação, Juliana Rodrigues de Oliveira, 27, mora do Parque Imperial há 25 anos. O bairro, na periferia de Barueri, na Grande São Paulo, fica em uma área populosa entre o Residencial Tamboré, o Rodoanel Mário Covas e a cidade de Osasco.

É ali onde houve o maior número de mortes registradas por Covid-19 no município. Apesar disso, Juliana vê descrença em boa parte dos vizinhos. “Nem todos acreditam nesses números”, afirma. “Os moradores do bairro não estão seguindo o isolamento”, completa.

A situação tem sido comum apesar do número de casos. A região metropolitana de São Paulo chegou a 5.320 mortes por causa do novo coronavírus nesta terça-feira (26). Do total, 1.899 são nas cidades vizinhas à capital paulista. Em boa parte delas, as periferias têm sido as mais afetadas pela doença.

Parque Imperial, em Barueri, é o bairro da cidade com mais vítimas da Covid-19
Parque Imperial, em Barueri, é o bairro da cidade com mais vítimas da Covid-19 - Juliana Rodrigues de Oliveira/Arquivo Pessoal

No plano de reabertura anunciado pelo governador João Doria nesta quarta-feira (27), a capital paulista foi colocada na fase 2, laranja, que permite a reabertura de comércios. A Grande São Paulo, no entanto, foi colocada na fase 1, vermelha, sem reabertura ou flexibilização da quarentena por enquanto, o que gerou revolta dos prefeitos da região.

Só em Barueri, 105 pessoas morreram por conta da Covid-19. Porém, nos bairros mais ricos da cidade, em Alphaville e Alphaville Empresarial e Industrial, 2% dos 98 casos de Covid-19 foram fatais. No Jardim Mutinga, 27% dos doentes não sobreviveram (8 mortes) e no Imperial, 19% (12 vítimas).

A prefeitura informou que tem feito campanhas para conscientizar a população sobre o isolamento social e ações com a guarda municipal.

“Para quem mora aqui é muito triste saber que estamos no primeiro lugar no ranking de contaminação dessa doença”, lamenta Juliana, que tem um filho de seis meses. Ela se reveza entre os cuidados com o bebê e o trabalho em home office.

Ela acredita que os moradores entendem que os casos são de pessoas que são de cidades vizinhas que se tratam nos municípios.

Um deles é Osasco, segunda cidade com mais registro de mortes por Covid-19 na região metropolitana, atrás apenas da capital. Dados da prefeitura apontam 295 óbitos até terça-feira (26). São 42 mortes para cada 100 mil habitantes —na capital são 28.

O mecânico Nilton Oliveira, 58, mora no Jardim Conceição, uma das regiões consideradas com maior contágio segundo a prefeitura. “A coisa está ficando séria e ninguém está nem aí”. Ele soube de mais casos na UBS (Unidade Básica de Saúde) da região.

Bairro do Padroeira, na zona sul de Osasco, perto de Carapicuíba, tem movimento normal
Bairro do Padroeira, na zona sul de Osasco, perto de Carapicuíba, tem movimento normal - Paulo Talarico/Agência Mural

No mesmo bairro, o aposentado Edvandro dos Santos Silva, 65, minimiza a situação, mesmo conhecendo pessoas infectadas. “Estou seguindo a vida normal e acho que a doença não é tão grave. Quem pode, está ficando em casa”, diz. “Não sabia que aqui estava morrendo mais.”

A prefeitura divulgou nas últimas semanas uma tabela com bairros onde há risco extremo de contágio. Além do Conceição, estão neles regiões como Rochdale, São Pedro, Santa Maria e Vila Menck, na zona norte, e Bandeiras e Novo Osasco, na zona sul. O centro da cidade também foi considerado como risco extremo.

“Aqui está um terror, viu, só Jesus Cristo por todos nós”, diz Juliana Castro, 32, do Novo Osasco. “Acho que os governantes deveriam olhar para esse lugar mesmo e não vi a prefeitura fazendo nada aqui.”

“A prefeitura tem utilizado carros de som para incentivar o isolamento”, afirma a gestão. “Uma das principais medidas para se evitar a disseminação do coronavírus é o isolamento social. Quando há circulação de pessoas, a ausência de máscaras e das medidas de higienização, como utilização de álcool em gel ou água e sabão, há a disseminação do vírus”.

COHAB

Enquanto conversa com a reportagem da janela de seu apartamento na Cohab 5, em Carapicuíba, Denis do Nascimento Leão, 29, vê três pessoas soltando pipas, crianças brincando na rua sem máscara e uma turma reunida em uma garagem fazendo um churrasco.

Apesar de certo clima de normalidade, a Cohab é o bairro mais afetado pelo coronavírus na cidade da Grande São Paulo. Até o dia 19 de maio registrava 32 casos confirmados da doença.

O último boletim divulgado pela prefeitura, na terça-feira (26) indicava que já eram 57 óbitos e 911 casos confirmados, mas sem divulgar novos dados sobre os bairros.

Leão divide o apartamento com a mãe e o irmão. “O medo maior é que das três pessoas aqui de casa, duas pertencem ao grupo de risco. Evitamos bastante sair” conta. Ele observa que algumas pessoas estão respeitando o isolamento social, mas nem todas já que há muita desinformação.

Atualmente, Carapicuíba conta com apenas um hospital público, localizado justamente na Cohab.

Criança brinca na Cohab, em Carapicuíba
Criança brinca na Cohab, em Carapicuíba - Ana Beatriz Felicio/Agência Mural

De acordo com a prefeitura, para o combate ao coronavírus, no último sábado (23), a prefeitura de Carapicuíba realizou pulverização para higienização de bairros, incluindo a Cohab. Além disso, moradores relatam que carros de som alertando sobre a importância do isolamento social circulam pelas ruas do bairro.

Na cidade, foram entregues três equipamentos para o combate à doença, um centro de enfrentamento, no bairro Vila Dirce, um hospital de campanha, no Parque Santa Tereza, e um Centro de Acolhimento e Apoio ao Isolamento Social, no bairro da Aldeia.

SÃO BERNARDO E GUARULHOS

Presidente da associação comunitária do núcleo Cafezais, do Montanhão, em São Bernardo do Campo, Rosa Maria de Souza, 47, contabiliza as pessoas próximas que estão doentes. São seis, dois deles sobrinhos dela, na região mais afetada do município do ABC Paulista.

O Montanhão reúne 32 bairros. Dos 1.395 casos da Covid-19 confirmados em São Bernardo, 166 são da região.

“Tem bastante gente infectada e procuro orientar da minha forma, pois eu também sou do grupo de risco”, conta Rosa. “Quando tenho que receber alguém, é no portão, de máscara e com álcool. Tomo todos os cuidados.”

Segundo a prefeitura de Guarulhos, os leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) municipal e estadual reservados para pacientes com Covid-19 já passam de 100% de ocupação. Nos próximos dias a Prefeitura começará a utilizar leitos de UTI locados de hospitais particulares da cidade.

A técnica de enfermagem Gabrielly Felisbino Leigue, 22, mora no Pimentas, na periferia de Guarulhos e cita a fragilidade sentida por profissionais da saúde. “É triste e decepcionante nos colocarmos a risco para cuidar de todos, enquanto a outra parte da população não respeita as normas”, comenta.

Ela teme que possíveis flexibilizações nas medidas adotadas até aqui agravem ainda mais a situação. “Conseguimos segurar o 'boom' no início, só que agora, com as novas decisões, é pouco provável que isso vá se manter.”

Ana Beatriz Felicio , Lucas Veloso , Paulo Talarico e Thalita Monte Santo
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