Descrição de chapéu Coronavírus

Entidades aprovam extensão da quarentena em SP, mas temem impactos

Médicos avaliam que, apesar de difícil, esta é a única alternativa para evitar colapso do sistema de saúde

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São Paulo

A extensão da quarentena contra o novo coronavírus em São Paulo, agora prevista para pelo menos até 31 de maio, é vista como necessária por médicos e entidades, mas setores do comércio temem o impacto da medida nas empresas se não houver ações de mitigação desses impactos.

Nesta sexta-feira (8), o governador João Doria (PSDB) decretou a prorrogação da quarentena por pelo menos mais 21 dias. Desde 24 de março, apenas serviços essenciais estão abertos ao público no estado, como medida para conter o avanço do novo coronavírus.

Infectologista do hospital Emílio Ribas, Jamal Suleiman admite que a decisão não é fácil, mas a considera necessária. “Estamos em franca ascensão e o que você tem é uma taxa alta de ocupações de 80% a 90% leitos de UTI. Se quiser que o colapso seja evitado, não há alternativa.”

Ele avalia que há, evidentemente, uma circulação maior de pessoas. “As pessoas sabem como saber para reduzir a transmissão, mas fazem umas perguntas tipo ‘posso descer para a piscina do meu prédio?’, ou então passeiam quatro vezes com o cachorro por dia”.

“É difícil, mas a Espanha aguentou, Portugal aguentou, porque o brasileiro não consegue?”, indaga ele e completa: “Para ser bem honesto, acho que poderia ser um lockdown [confinamento restrito, onde é proibido sair de casa sem justificativa]”.

Gerson Salvador, infectologista e diretor da Simesp (Sindicato de Médicos de São Paulo), acredita que a extensão da quarentena é necessária, mas não suficiente. "Estamos em uma situação na qual não é só necessário manter o isolamento como modificar a maneira como está sendo conduzido. Um caminho possível é o lockdown."

Segundo o médico, para isso é necessário que o governo estadual e municipal garantam a renda da população mais pobre. "Se eles não tiverem dinheiro para comer, não vão ficar em casa", disse.

A medida é apoiada por entidades como a Fecomercio (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo).

"Entendemos que ainda a prioridade é salvar vidas, e por conta disso seguimos os protocolos orientados pelo governo, através das orientações que recebem dos seus médicos e cientistas ligados a saúde", diz o vice-presidente do órgão, Francisco De La Tôrre.

"Isso posto, nós enxergamos essa prorrogação da quarentena com um impacto muito forte no comércio, principalmente agravado pelo fato de até o momento o governo do estado de São Paulo pouco feito no sentido de socorrer as empresas”.

No começo de abril, Doria anunciou um auxílio de R$ 650 milhões para pequenos e microempreendedores. De La Tôrre diz que isso representa menos que um dia de faturamento do comércio do estado. “Deveria contrabalancear esse impacto disponibilizando mais recurso para as empresas e para a população”.

Percival Maricato, que preside a AbraselSP (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), reconhece a necessidade de se proteger a população e a importância da quarentena para o combate ao coronavírus.

Ele avalia que logo no começo já deveria ter sido adotado algo de âmbito nacional, como um lockdown de 15 ou 20 dias. “Porém, as medidas demoraram, ficamos pela metade do caminho e muitas pessoas ainda estão desrespeitando a quarentena”, afirma.

Porém ele ressalta que, como muitas empresas já quebraram ou estão prestes a ir à falência, era esperado que “o governo nos mais diversos níveis ajudasse as empresas”. Ele sugere o adiamento de impostos como o IPTU e financiamentos mais acessíveis.

Além disso, ele acredita que é importante haver uma data mais precisa para a reabertura do comércio. “Muita gente fecha e demite funcionários porque não aguenta mais ou porque não sabe quando vai poder retomar as atividades”, diz.

Procurada, a Fiesp afirmou que não vai se manifestar.

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