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Funcionários de asilo em Americana (SP) se confinam com idosos

Dois grupos de funcionários se alternam no local por mais de 30 dias, sem sair

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Americana (SP)

Os funcionários de um lar assistencial de idosos de Americana (SP) adotaram uma medida radical para preservar os moradores da pandemia de Covid-19: confinaram-se com eles na instituição.

Quando a cidade do interior paulista ainda registrava apenas um caso e nenhuma morte da doença, 12 funcionários do Residencial Evangélico Benaiah propuseram à direção que ficassem internados permanentemente com 34 idosos. Zerando as entradas e saídas, esperavam proteger o grupo, mais vulnerável à doença.

A instituição é ligada à Igreja Presbiteriana e tem parceria com a prefeitura. Até quinta-feira (14), a cidade registrava 61 casos confirmados, 22 casos suspeitos e 4 mortes por Covid-19.

Interior do residencial Evangélico Benaiah, em Americana (SP)
Interior do residencial Evangélico Benaiah, em Americana (SP) - Reprodução

O confinamento começou em 23 de março. Durante esse período, todos os tipos de visita foram suspensos. Os idosos deixavam o local apenas se precisassem de atendimento médico.

Além de prestar atendimento aos moradores, os funcionários confinados também realizavam as atividades de limpeza e de cozinha, já que os demais foram para casa.

“Foi uma experiência incrível. No primeiro momento, foi uma questão de cuidar deles, de tentar protegê-los dessa pandemia”, afirmou técnica de enfermagem e cuidadora Mayara Ribeiro da Cruz, 27.

“Mas estando o tempo todo lá, a gente pôde perceber um pouquinho do que eles sentem. Nós ficamos lá 34 dias, mas eles ficam o tempo inteiro. A gente pôde ter esse outro olhar e compartilhar muitas experiências”, afirmou.

Mayara deixou marido e filho de 9 anos “do lado de fora”. No residencial, acumulou as funções de enfermagem com o trabalho na cozinha. “A gente até brincava que o patrão ia ver que 12 davam conta”, falou, rindo.

“Foi como um milagre. Ocorreu tudo na paz, não houve nenhum enrosco”, disse Alcides Luchesi, 91, morador e um dos fundadores do residencial. “Foi uma situação que o Benaiah, com mais de 50 anos, nunca tinha vivido. Fiquei contente”, afirmou. Sentiu saudades da filha? “Eu sou meio grande para ficar de nhem-nhem-nhem”, riu.

Em 29 de abril, a primeira leva de funcionários deixou o local e foi substituído por outra, com 13 pessoas, que deve ficar pelo menos até 31 de maio.

“Não há previsão de por quanto tempo o confinamento vai durar. Será enquanto os funcionários estiverem dispostos”, afirmou a coordenadora do residencial, Enara Crepaldi de Campos Seco, 31.

A coordenadora fez parte do primeiro grupo e passou o aniversário com os idosos. Saiu brevemente e voltou com a segunda leva.

Os períodos de afastamento dos dois grupos foram computados como férias. Cinco funcionários optaram por não aderir ao rodízio e, segundo Enara, farão algum acordo de compensação quando voltarem ao serviço. Ninguém, disse ela, teve o salário suspenso ou reduzido.

Antes do confinamento e para garantir que os idosos continuassem seguros, todos os membros do segundo grupo foram submetidos a testes de Covid-19.

“Esses cuidados são muito importantes, nos dão uma segurança muito grande”, afirmou Maridelma Oliveira Cabral, 72. Sua mãe, Marinete de Oliveira Silva, 92, é uma das moradoras do asilo. “Eles são muito dedicados.”

Os exames foram realizados em laboratório particular e bancados pelo residencial a um custo negociado de R$ 200 cada.

“Tentamos o apoio da [Secretaria de] Saúde mas não conseguimos, então a instituição pagou”, afirmou Enara. A resposta da pasta, segundo ela, foi de que os testes não faziam parte do protocolo.

Segundo a coordenadora, a instituição também bancou os exames de Covid de dois idosos que tiveram de ser internados durante o confinamento (por outros motivos), antes que voltassem ao asilo.

Procurada, a Vigilância Sanitária de Americana informou que “está realizando os testes da população-alvo conforme o que consta na nota técnica CIB-SP (Distribuição de testes rápidos para Covid-19 fornecidos pelo Ministério da Saúde)”.

A nota caracteriza como público-alvo “indivíduos com quadro respiratório agudo, caracterizado por sensação febril ou febre e nos casos dos idosos, os que ainda apresentarem outros sintomas, tais como síncope, confusão mental, sonolência excessiva, irritabilidade, inapetência, tosse, dor de garganta, coriza ou dificuldades respiratórias”.

“Até a presente data não houve nenhuma notificação de caso suspeito de Covid-19 em idoso institucionalizado. Se houver, será realizado o teste”, afirmou.

Alguns asilos de cidades vizinhas registraram surto de coronavírus. Em Hortolândia, 6 idosos do residencial Lar Feliz morreram e outros 13 tiveram diagnóstico da doença.

Em Piracicaba, o Lar Betel registrou 8 mortes por Covid-19, e 34 pacientes e 23 funcionários tiveram teste positivo para coronavírus, enquanto o Residencial Bem Viver registrou 4 mortes e 16 casos confirmados.

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