Quem pôde ver o pernambucano Cézar Vieira sozinho em um boteco, acompanhado somente de uma boa birita, como chamava seus contumazes drinks, jamais imaginaria que ele ajudou a revolucionar a cena do rock underground nacional.
Com sua guitarra triste, na década de 1990, Vieira compôs um corajoso grupo musical, na terra onde reinava o axé music.
A banda brincando de ser deus, escrito tudo em minúsculo mesmo, foi uma das mais conhecidas da cena baiana, sendo também pioneira ao sair do underground e participar de grandes festivais no Rio de Janeiro e São Paulo. Ela também foi precursora ao criar um site, quando a internet ainda engatinhava, em 1993.
"O Vieira ajudou outras bandas a surgir, por conta da brincando de deus", afirmou o chef de cozinha Rafael Spencer, que participou de outro capítulo na vida do amigo, com quem conviveu por mais de 20 anos.
O guitarrista também se tornou administrador de empresas, atividade exercida na Bahia e em São Paulo, para onde ia e vinha, conforme suas demandas, sempre parando em algum bar.
Em janeiro deste ano, Vieira se mudou para a casa de Spencer, com quem trabalhou no restaurante Sotero, empresa que ajudou a administrar na quarentena.
Isolado no sobrado do amigo, no centro da capital paulista, Vieira começou sentir falta de ar e cansaço constantes.
Ele chegou a pensar, no começo, que estava com Covid-19, mas constatou, após uma consulta médica, feita remotamente pelo computador, que o problema era no coração.
Com medo de contaminação pelo novo coronavírus se negou a ir ao hospital. Por isso, concordou em ficar na casa da mãe, em Santana de Parnaíba (Grande SP).
Cézar Mattos Vieira morreu no dia 23 de maio, aos 47 anos, após um ataque cardíaco fulminante.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.