O jornalista Ronan Soares tinha a alma leve. Carregava nela a emoção do tango de que tanto gostava. Levou a precisão e a paixão presentes na música para a carreira que escolheu, de jornalista.
Foi em sua terra natal, Araxá (MG), que Ronan entrou na profissão, com inteligência, competência e uma generosa pitada de humor.
Serviu de inspiração aos filhos, que herdaram de Ronan o prazer de casar as palavras para contar histórias.
O início foi como repórter, época em que conseguiu alguns furos importantes, como a frase dita pelo general Olímpio Mourão Filho— “Em matéria política, sou uma vaca fardada” —no momento em que a grande questão era se Castello Branco prorrogaria o mandato ou não.
Ronan sabia misturar a doçura ao jeito simpático do mineiro. Assim, conquistava a confiança até de militares e conseguia acesso à informação.
A primeira grande reportagem de sua vida foi a inauguração de Brasília.
O primeiro furo surpreendeu até seu chefe. Ronan anunciou a renúncia do presidente Jânio Quadros duas horas antes de ela acontecer.
Ele também foi o chefe que todos gostariam de ter. Sereno, estendia a mão aos iniciantes e lhes oferecia a calma e o apoio de que necessitavam.
O olhar delicado e preciso para o próximo era um dos ingredientes do grande contador de histórias que se tornou. Em Araxá, era tradição sentar-se à mesa de queijos e vinhos com a família para contar e ouvir causos.
Ronan deixou sua marca em veículos como O Estado de S. Paulo e O Globo. Teve passagem importante pelo Jornal Nacional e por outros programas. Além disso, contribuiu para as produções da GloboNews, como o Estúdio i.
“Ele era um frasista”, diz o filho, o jornalista Marcel Souto Maior, 53.
“As palavras foram o único brinquedo que guardei da minha infância.” Da autoria de Ronan, a frase foi gravada em sua lápide.
Para explicar os altos e baixos da profissão, costumava dizer: “Tem dias em que a gente é Pitanguy e tem dias em que a gente é Osmani”, utilizando como referência as personalidades diferentes de dois cirurgiões plásticos.
Em sua carteira, guardava um papel amarrotado pelo tempo, mas de valor inestimável: uma frase criada por Guimarães Rosa, anotada quando o abordou para pedir uma dedicatória durante o lançamento de um livro em Brasília.
“De nuvem a nuvem o céu se faz.” Guimarães Rosa disse a ele que havia inventado a frase naquele momento.
E completou: “se não fossem as nuvens, seria só o infinito”. O escritor morreu um mês depois. Ronan Soares morreu dia 30 de abril, aos 80 anos, de infecção. Deixa esposa, três filhos, seis netos e um grande legado no jornalismo.
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