Descrição de chapéu Obituário Ronan Soares (1939 - 2020)

Mortes: Mestre das palavras, deu à vida a emoção e humor

Ronan Soares foi um dos mais importantes editores do Jornal Nacional, da Globo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O jornalista Ronan Soares tinha a alma leve. Carregava nela a emoção do tango de que tanto gostava. Levou a precisão e a paixão presentes na música para a carreira que escolheu, de jornalista.

Foi em sua terra natal, Araxá (MG), que Ronan entrou na profissão, com inteligência, competência e uma generosa pitada de humor.

Serviu de inspiração aos filhos, que herdaram de Ronan o prazer de casar as palavras para contar histórias.

O início foi como repórter, época em que conseguiu alguns furos importantes, como a frase dita pelo general Olímpio Mourão Filho— “Em matéria política, sou uma vaca fardada” —no momento em que a grande questão era se Castello Branco prorrogaria o mandato ou não.

Ronan sabia misturar a doçura ao jeito simpático do mineiro. Assim, conquistava a confiança até de militares e conseguia acesso à informação.

Ronan Soares (1939-2020)
Ronan Soares (1939-2020) - Arquivo pessoal

A primeira grande reportagem de sua vida foi a inauguração de Brasília.

O primeiro furo surpreendeu até seu chefe. Ronan anunciou a renúncia do presidente Jânio Quadros duas horas antes de ela acontecer.

Ele também foi o chefe que todos gostariam de ter. Sereno, estendia a mão aos iniciantes e lhes oferecia a calma e o apoio de que necessitavam.

O olhar delicado e preciso para o próximo era um dos ingredientes do grande contador de histórias que se tornou. Em Araxá, era tradição sentar-se à mesa de queijos e vinhos com a família para contar e ouvir causos.

Ronan deixou sua marca em veículos como O Estado de S. Paulo e O Globo. Teve passagem importante pelo Jornal Nacional e por outros programas. Além disso, contribuiu para as produções da GloboNews, como o Estúdio i.

“Ele era um frasista”, diz o filho, o jornalista Marcel Souto Maior, 53.

“As palavras foram o único brinquedo que guardei da minha infância.” Da autoria de Ronan, a frase foi gravada em sua lápide.

Para explicar os altos e baixos da profissão, costumava dizer: “Tem dias em que a gente é Pitanguy e tem dias em que a gente é Osmani”, utilizando como referência as personalidades diferentes de dois cirurgiões plásticos.

Em sua carteira, guardava um papel amarrotado pelo tempo, mas de valor inestimável: uma frase criada por Guimarães Rosa, anotada quando o abordou para pedir uma dedicatória durante o lançamento de um livro em Brasília.

“De nuvem a nuvem o céu se faz.” Guimarães Rosa disse a ele que havia inventado a frase naquele momento.

E completou: “se não fossem as nuvens, seria só o infinito”. O escritor morreu um mês depois. Ronan Soares morreu dia 30 de abril, aos 80 anos, de infecção. Deixa esposa, três filhos, seis netos e um grande legado no jornalismo.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

Veja os anúncios de mortes

Veja os anúncios de missa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.