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Rodízio radical em SP reduz trânsito, enche transporte público e vira alvo de ações na Justiça

Críticos veem risco à saúde da população; secretário diz que avaliação do primeiro dia é positiva

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São Paulo

O transporte público encheu e as ações judiciais surgiram no primeiro dia do novo rodízio de carros em São Paulo, que tira das ruas metade da frota e vale em todos os horários. Os congestionamentos, como esperado, diminuíram em relação às últimas semanas, mas esse resultado, não evitou uma torrente de críticas.

A partir desta segunda (11) , apenas carros com placa com final par podem circular em dias pares. Em dias ímpares, como foi o caso desta estreia, só aqueles com placa com final ímpar saem às ruas. Além da duração estendida, a restrição vale agora em toda a cidade, e não mais apenas no centro expandido.

A prefeitura diz que o objetivo é diminuir o número de pessoas em circulação na cidade a fim de combater a disseminação do novo coronavírus, que só na capital paulista já matou pelo menos 2.305 pessoas. Com o nível de isolamento social da população caindo semana a semana, medidas mais drásticas foram postas em prática.

Depois de cair drasticamente desde 20 de março, quando a prefeitura mandou fechar comércios e serviços não essenciais, o trânsito na capital vinha subindo.

Na segunda-feira da semana passada (4), houve 24 km de congestionamento às 18h, de acordo com a gestão Bruno Covas (PSDB). Nesta segunda, foram 4 km —provocados por um protesto de caminhoneiros que pediu, entre outras coisas, o fim da restrição.

As reclamações não se ativeram ao campo político. Nas ruas e nas redes sociais, usuários do transporte público relataram que se sentiram mais expostos com o maior número de pessoas nos ônibus, trens e metrôs —algo que vai contra o consenso para evitar o contágio pelo novo vírus, de manter distância de outras pessoas.

A estudante Mirtes dos Passos, 22, diz que já vinha percebendo um aumento no número de pessoas tanto nas linhas de ônibus que pega, na Vila Natal (zona sul da cidade), quanto na linha 9-Esmeralda da CPTM, onde embarca na estação Grajaú e vai para o trabalho próximo da estação Morumbi

"Sexta-feira já estava ruim, e eu fui até outro ponto, me arrisquei e passei por um lugar perigoso, para pegar mais vazio. Hoje estava no trem e, quando chegou à estação Santo Amaro, lotou muito. Eu fico com muito medo, porque você fica a milímetros de distância das pessoas. Você vai vendo o trem enchendo, enchendo, e você não pode se mexer, não pode fazer nada, vai entrando em pânico. Não sei como vou fazer", diz ela.

Para a auxiliar administrativa Elenice Paula Ferreira, 35, era nítido o aumento de passageiros na estação Grajaú da CPTM, por volta das 8h30 desta segunda. Usando máscara, ela afirmou usar a estação todos os dias, para ir ao trabalho, no centro. “Só estou na estação porque preciso trabalhar. Quem pode ficar em casa deveria respeitar isso [quarentena] e não expor [à contaminação] quem é obrigado a usar o transporte público.”

Uma analista financeira que trabalha na região da avenida Paulista e pediu para ter o nome omitido aguardava de máscara e luvas aa estação Capão Redondo da linha 5-lilás do metrô. “A placa do meu carro é [final] par, então hoje [segunda, dia 11] precisei apelar para o metrô”, justificou, acrescentando que temia a contaminaçãom, mas não tinha alternativa.

Na plataforma em que ela estava, mais de 150 pessoas esperavam para embarcar por volta das 10h10.

Na avaliação do secretário municipal de Mobilidade e Transportes, Edson Caram, no entanto, a medida "foi extremamente positiva, não só com relação à redução de carros, mas com relação ao transporte público".

Caram afirma que houve 300 mil viagens a mais no transporte municipal desta segunda em relação à última semana, um aumento de 10% na demanda. A SPTrans afirma que colocou 1.000 ônibus a mais em circulação, além de 600 veículos em bolsões próximos a terminais, a serem acionados caso houvesse demanda para isso —o que ocorreu nesta segunda.

O secretário diz que, por enquanto, revogar o novo rodízio "não é uma possibilidade." "Temos esta semana inteira para avaliar, a população está entendendo o recado que a doença é séria e que é preciso ficar em casa", afirmou.

O governo João Doria (PSDB) diz que houve pela manhã um aumento de 15% na demanda da CPTM. O estado diz que ajustou a frota em até 20% em algumas linhas e que isso é feito o tempo todo de acordo com a necessidade.

A lotação de trens e metrô não é de hoje, no entanto, e já vem ocorrendo ao longo das últimas semanas. Na zona leste, por exemplo, a linha 15-prata está fechada há mais de dois meses por uma falha no projeto do monotrilho, o que tem enchido outros meios de transporte que passam pela região.

Para barrar o novo rodízio, a Associação Comercial de São Paulo e o vereador Fernando Holiday (Patriota) entraram na Justiça.

No processo do vereador, o Ministério Público se manifestou a favor de suspender a medida, argumentando que a prefeitura não respondeu ao órgão os objetivos e estudos que subsidiaram o rodízio. A Promotoria tem um inquérito aberto para apurar as medidas tomadas pela prefeitura em relação ao trânsito, como o bloqueio de avenidas ensaiado na última semana e descartado logo depois.

Em carta ao poder público, o Conselho Municipal de Trânsito e Transporte afirma que a medida seria mais eficaz se proibisse viagens não essenciais e liberasse trabalhadores de serviços essenciais, como da área da saúde, segurança, abastecimento e transporte de pessoas, entre outros.

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