Sem mortes, cidade de 5.000 moradores do RN decreta 'lockdown'

Itaú não tem UTI; casa de jogos pode ter sido o foco de contaminação

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Ícaro Carvalho
Natal

As grades de ferro bloqueando três ruas nesta terça-feira (12) eram o sinal concreto de que o medo do novo coronavírus atingiu Itaú. Cidade do sertão potiguar a 358 km de Natal, Itaú teve decretado o "lockdown", a forma mais severa de isolamento social para conter o avanço da pandemia. Uma casa de jogos que deveria estar fechada está no epicentro da crise na saúde de Itaú.

Apesar de a cidade de 5.878 habitantes não ter registrado nenhuma morte, a prefeitura decidiu tomar a medida mais extrema de distanciamento depois de ver saltar, em três dias, de zero para 11 os casos confirmados da Covid-19.

Há ainda 14 casos suspeitos, um descartado e 85 pessoas em monitoramento --sem sintomas, mas que tiveram contato com infectados. O fato de o hospital municipal Marcolino Bessa não dispor de leitos de UTI nem respiradores pesou na decisão, segundo o coordenador de saúde da cidade, Nedilson Paiva.

Barreira da vigilância sanitária em Itaú (RN), que tem 'lockdown'
Barreira da vigilância sanitária em Itaú (RN), que tem 'lockdown' - Prefeitura de Itaú/Divulgação

“O comitê gestor achou que era melhor fazermos o 'lockdown', já que corre o risco de um alastramento em massa e o município mais próximo que podemos nos socorrer é Pau dos Ferros, a 40 km”. A maioria dos pacientes tem sintomas leves e com idades entre 25 e 50 anos.

A cidade do sertão do Rio Grande do Norte vive da agricultura —caju, castanha e plantação de feijão, entre outros. A maioria mora na área urbana de Itaú, que é cortada por uma rodovia federal.

Cada bairro, agora, só tem uma entrada e uma saída. Para circular, o morador precisa passar pelas barreiras e informar o que vai fazer —por exemplo, ida a supermercado foi considerado ato essencial. Há comunicação entre os pontos e guardas pelas ruas da cidade para garantir o cumprimento do decreto.

O decreto prevê multa de R$ 150 e até internamento compulsório de quem não respeitar o isolamento. Além de funcionários do município, o cumprimento do "lockdown" terá apoio de policiais militares.
“Se a pessoa precisar passar na barreira, vai dizer o que vai fazer. O acesso à cidade é que é menos liberado. Se alguém vier fazer algo num cartório, não pode, porque não é serviço essencial. Visita a familiar também não”, diz o prefeito Ciro Bezerra (DEM).

Uma casa de jogos é suspeita de ser o foco da contaminação da Covid-19 em Itaú, segundo o prefeito. Ela deveria estar fechada, já que toda a atividade não essencial precisou fechar as portas desde o dia 21 de março.

Um morador da vizinha Taboleiro Grande desencadeou o processo de lockdown. É que ele costumava frequentava o local mesmo com a quarentena decretada. Na sexta-feira (8), fez o teste rápido, que confirmou a Covid-19.

Resolveu avisar a Prefeitura de Itaú que estava com a doença e que teve contato clandestino com frequentadores do carteado.

A prefeitura, então, mapeou quem esteve na casa de jogos. Selecionou 30 pessoas, que fizeram o teste no último sábado. Do total, 11 testes deram positivo.

“Eles estavam abrindo à margem da lei e de uma forma que ninguém sabia. Eles deixavam os carros longe e ninguém percebia que tinha jogo lá dentro", conta o prefeito. "O paciente de Taboleiro Grande vinha todos os dias e nos informou que testou positivo. Foi aí que tomamos a medida para fazer os testes e fechar a casa de jogo.”

A cidade já vinha sentindo os efeitos do isolamento. A última missa presencial na cidade foi dia 15 de março, durante o período da quaresma.

O padre José Mário Freitas, pároco da cidade, é a favor da medida. “A importância desse lockdown é para nos resguardar, enquanto muitas vezes não enxergamos a seriedade da situação. É difícil e desafiante”, disse. “Estou vendo como vou transmitir algo para ajudá-los.”

Alguns comerciantes da cidade, porém, reclamaram que o lockdown veio de forma rápida e gerou surpresa na população.

Além da multa, os pacientes suspeitos ou monitorados podem ser internados de forma compulsória caso sejam vistos nas ruas.

“Tem uma sala reservada para fazer o isolamento compulsório, caso alguém mapeado pela secretaria de saúde desobedeça ao decreto. Se a pessoa não for monitorada, a polícia recomenda ir para casa. Se insistir, é multado e vai responder por negligência”, disse o prefeito.

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