Estou saindo do Brasil o mais rápido possível, diz Weintraub após demissão por pressão do STF

Em rede social, demitido do Ministério da Educação pede que o deixem em paz; ele será indicado a cargo no Banco Mundial

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Brasília

Demitido do Ministério da Educação após pressão do STF (Supremo Tribunal Federal), Abraham Weintraub disse nesta sexta-feira (19) que deixará o país o mais rápido possível. Indicado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) a um cargo no Banco Mundial, Weintraub pediu em uma rede social que o deixem em paz e cobrou que não o provoquem.

"Aviso à tigrada e aos gatos angorás (gov bem docinho). Estou saindo do Brasil o mais rápido possível (poucos dias). NÃO QUERO BRIGAR! Quero ficar quieto, me deixem em paz, porém, não me provoquem!​", escreveu Weintraub numa rede social.

A exoneração de Abraham Weintraub ainda não foi oficializada no "Diário Oficial".

Nesta manhã, ele também foi à rede social rebater comentário do governador de São Paulo João Doria (PSDB), que disse que Weintraub foi o pior ministro da Educação, que mais se preocupou em ofender que em educar, num misto de incompetência e ideologia, no que significou anos de atraso em uma das áreas mais sensíveis do governo.

"Gov Dória [sic], docinho, que delícia!Pegue as compras dos hospitais de SP e compare com os preços dos hospitais universitários do MEC. Respirador, máscara, álcool gel, pode escolher. Caso tenha um item seu mais barato, uso sapato sem meia e calça apertada sem cueca, para não marcar", escreveu Weintraub.

Bolsonaro anunciou nesta quinta-feira (18) a demissão de Abraham Weintraub após 14 meses e 10 dias em que o então ministro acumulou polêmicas e pouco realizou à frente da pasta, e em decorrência de longo desgaste político com os ministros do STF.

A queda foi confirmada em um vídeo publicado em rede social em que os dois comunicam a exoneração. Na gravação, Weintraub diz que "desta vez é verdade".

"Não quero discutir os motivos de minha saída", afirmou.

Ele disse ter recebido um convite, referendado por Bolsonaro, para ser o diretor representante do Brasil e de outros oito países no Banco Mundial, instituição multilateral de fomento ao desenvolvimento com sede em Washington (EUA). O salário anual previsto é de US$ 258.570, o equivalente hoje a R$ 115,8 mil por mês sem 13º, ou mais de três vezes o salário atual do ministro, de R$ 31 mil.

O presidente não queria demitir o ministro, que tem boa aceitação na militância mais alinhada ao governo exatamente pelo perfil combativo que mantém nas redes sociais.

Não foi anunciado, por ora, novo titular para MEC —o terceiro em um ano e meio de governo Bolsonaro.
A expectativa de assessores presidenciais é a que Bolsonaro nomeie o secretário-executivo da pasta, Antonio Paulo Vogel, como ministro interino no lugar de Weintraub.

Nesta quarta (17), o mais cotado para suceder o ex-ministro era o secretário de Alfabetização da pasta, Carlos Nadalim. Ele é aliado de Olavo de Carvalho e representaria uma mudança sutil nos rumos do ministério, o que agradaria Bolsonaro.

Dois fatores, porém, pesam contra Nadalim: a resistência de alas do governo e o fato de o próprio secretário ter demonstrado resistência para assumir a função.

A demissão de Weintraub coroa 14 meses de controvérsias e insultos disparados contra os mais variados alvos, do educador Paulo Freire (1921-1997) à China, passando por desafetos políticos, jornalistas, especialistas em educação, o presidente francês Emmanuel Macron e, com especial virulência, reitores, alunos e professores de universidade federais.

Foi contra o Supremo Tribunal Federal, porém, que o agora ex-ministro cruzou limites legais e institucionais, exacerbando declarações anteriores ao comparecer a um protesto em Brasília de apoiadores do governo no domingo (14).

No encontro com manifestantes, sem citar ministros do STF, Weintraub voltou a usar a palavra "vagabundos", em uma referência a afirmação dele na reunião ministerial de 22 de abril, em que disse: "Eu, por mim, colocava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF".​

As declarações provocaram reação do Supremo, que nos bastidores cobrava a demissão do ministro. No início desta semana, magistrados diziam acreditar que ele poderia acabar sendo preso se continuasse atacando as instituições, como insistia em fazer.

Sua permanência ficou insustentável, e a saída passou a ser defendida pelo entorno de Bolsonaro, que sofria pressão dos filhos para mantê-lo no MEC. Para a cúpula militar e uma ala do governo considerada técnica, só a demissão do ministro arrefeceria o clima beligerante entre os Poderes, incluindo o Congresso.

Weintraub é alvo do inquérito das fake news, que tramita no Supremo, e também de uma investigação no tribunal por racismo por ter publicado um comentário sobre a China.

Na primeira investigação, ele teve negado nesta quarta-feira (17), por 9 votos a 1, um pedido de habeas corpus ao STF para ser excluído do caso.

Antes, na semana passada, o então ministro amargoara uma derrota política após o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), devolver medida provisória que dava poderes para ministro da Educação nomear reitores de universidades federais temporariamente durante a pandemia. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-AP), também virou desafeto de Weintraub, chegando a chamá-lo de "desqualificado".
Weintraub é o sétimo ministro a deixar o governo e o quarto em dois meses, após a saída de Henrique Mandetta e Nelson Teich (ambos na Saúde, sob comando interino) e Sergio Moro, que pediu demissão da Justiça.

A gestão de Weintraub à frente do MEC ficou marcada pelo anúncio de projetos que não andaram, derrotas no Congresso, ausência de diálogo com redes de ensino e falta de liderança nos rumos das políticas públicas da área —inclusive durante a pandemia de coronavírus.

Professor universitário de carreira curta e tímida, sem experiência em educação, Weintraub chegou ao MEC por indicação da ala ideológica do governo.

Com o irmão, Arthur, aproximou-se da família Bolsonaro ainda na campanha eleitoral, levando ideias sobre a reforma da previdência. Também nessa época ficaram próximos de Onyx Lorenzoni (DEM-RS), atual ministro da Cidadania e que até fevereiro controlava o ministério da Casa Civil.

Caiu no gostos das redes sociais, habitat do bolsonarismo, quando publicou, em 3 de maio de 2019, um vídeo em que exibia o ombro para mostrar uma cicatriz da juventude. Foi a forma de justificar notas baixas no boletim da faculdade, divulgado por detratores em redes sociais.

No mesmo mês, ainda surgiria com guarda-chuva, dançando, para dizer que eram mentirosas as notícias sobre cortes na pasta. “Está chovendo fake news”, dizia ele.

A rede social Twitter recebeu grande parte do tempo do ministro durante seus 14 meses no cargo.
A Folha analisou 807 mensagens publicadas em sua conta nos 12 primeiros meses no cargo, excluindo respostas a outros tuítes. Em 42% das mensagens havia algum tipo de ataque, sobretudo contra a imprensa, o PT e a esquerda. Metade de suas postagens não falava de educação, e, quando o fazia, raramente evitava rompantes ideológicos.

Com essa artilharia, virou alvo de apurações do Conselho de Ética da Presidência, de processos judiciais e de questionamentos públicos do Congresso. Mas também ganhou ressonância com a militância de direita mais fiel a Bolsonaro, que via nele um prócere da chamada "revolução cultural", como ressaltou o deputado Eduardo Bolsonaro em vídeo com o ministro em fevereiro.

Congressistas chegaram a ingressar com pedido de impeachment contra o ministro, mas o STF não aceitou.

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