Farmacêutica que pesquisa vacina com Oxford diz esperar primeiros resultados de estudos já em outubro

Se comprovada eficácia, Brasil pode ter vacina contra Covid no 1º semestre de 2021, afirma Fiocruz

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Brasília

A vacina em desenvolvimento pela Universidade de Oxford e a farmacêutica britânica Astrazeneca deve ter resultados preliminares da última etapa de estudos entre outubro e novembro desse ano, disse nesta segunda-feira (29) a diretora médica da empresa no Brasil, Maria Augusta Bernardini.

"O estudo de fase 3 [quando são feitos ensaios clínicos em humanos] tem duração total de um ano, e voluntários serão acompanhados por um ano. Mas ao redor de outubro ou novembro esperamos ter resultados preliminares [de eficácia]", afirma.

Segundo ela, caso os resultados sejam significativos a empresa pretende solicitar a agências reguladoras uma autorização de registro em caráter excepcional para permitir que a vacina comece a ser disponibilizada.

Bernardini ressalta, porém, que a previsão pode mudar conforme a evolução da pandemia. A informação ocorreu em videoconferência com a embaixada britânica no Brasil.

No sábado (27), o Ministério da Saúde anunciou que assinou uma carta-compromisso com a empresa e com a Universidade de Oxford para que a vacina seja produzida no Brasil, por meio de uma transferência de tecnologia para a Fiocruz, no Rio de Janeiro.

Uma reunião para acertar detalhes técnicos e finalizar a assinatura do contrato está prevista para essa terça (30).

O contrato deve ser assinado mesmo sem os resultados clínicos finais na prevenção contra o novo coronavírus. O objetivo, diz o ministério, é tentar acelerar a oferta caso os estudos apresentem bons resultados de eficácia e segurança.

Segundo Marco Krieger, vice-presidente de inovações da Fiocruz, caso os estudos tenham os primeiros resultados até outubro, o Brasil poderia ter a vacina já no início do primeiro semestre de 2021.

A previsão considera um prazo de quatro meses até a importação dos insumos, obtenção de registro na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e início da distribuição. "Acreditamos que, no Brasil, ainda no primeiro semestre do ano que vem podemos ter a vacina. Vamos tentar acelerar ao máximo, mas com toda segurança", diz Krieger.

Inicialmente, o acordo com o Ministério da Saúde e Fiocruz prevê 30,4 milhões de doses, as quais devem ser entregues pela Astrazeneca em duas etapas: uma em dezembro de 2020 e outra em janeiro de 2021.
Caso seja comprovada a segurança e eficácia, o volume, porém, pode ser ampliado para oferta de mais 70 milhões de doses. Com isso, o total chegaria a 100 milhões.

Os custos da fase inicial são previstos em US$ 127 milhões (R$ 695 milhões), de acordo com o Ministério da Saúde.

Já em uma segunda fase, com possível produção ampliada, o custo estimado é de US$ 2,30 por dose, o que leva a uma estimativa de gastos de US$ 161 milhões (R$ 870 milhões).

A população que faz parte do grupo de risco para o novo coronavírus deve ser prioridade para a vacinação caso haja resultado positivo nos testes em humanos, informou no sábado o Ministério da Saúde.

A Fiocruz, porém, tem capacidade para produção de vacinas para toda a população caso haja bons resultados, afirmou nesta segunda a presidente da instituição, Nísia Trindade.

A ideia é que a instituição inicie com o compartilhamento do conhecimento da produção da vacina e envase de lotes para, em seguida, fazer a produção completa no Brasil.

A avaliação de que seria produzir mais do que o previsto é endossada por Maurício Zuma, diretor de Biomanguinhos, laboratório que responderá pela produção.

"Inicialmente, é para grupos prioritários. Mas, se conseguirmos escalonar a produção como estamos planejando, certamente haverá a possibilidade de distribuição para toda a população brasileira e até de cooperar com ajuda internacional", disse.

Questionada sobre a possibilidade de que a última fase de estudos não aponte eficácia, Trindade admite que há riscos.

"Estamos confiantes nesse processo, pela análise e pelas boas condições da vacina de Oxford. Mas a fase 3 tem que ser concluída para definirmos isso", afirma.

"O que é importante é a incorporação tecnológica. O mundo está vivendo cada vez mais epidemias desse tipo de vírus respiratórios, e esse aprendizado vai ser importante para a apropriação de uma tecnologia que poderá ser útil para outras doenças na produção de vacina", completou, sobre o risco de resultado negativo de eficácia nos estudos.

Para Bernardini, da Astrazeneca, os primeiros estudos mostram que a vacina tem grande potencial de eficácia e segurança. Os dados, porém, ainda precisam ser confirmados com a terceira etapa.

"Temos um grande potencial de gerar uma defesa usando uma ferramenta do vírus já na primeira tentativa de contato do vírus com o nosso organismo."

No Brasil, os testes começaram na última semana, e são conduzidos em conjunto com a Unifesp. Ao todo, 2.000 pessoas devem participar dos estudos no Rio e São Paulo.

Segundo Bernardini, a escolha do país ocorre devido ao crescimento da incidência da Covid-19 por aqui, "o que nos coloca com crescimento propício para demonstrar o desenvolvimento de uma vacina."

"Para desenvolver a vacina, precisamos ter o vírus circulante na população e isso é o diferencial nesse momento."

Outro ponto foi o contato com pesquisadores brasileiros e a possibilidade de que parte do estudo fosse custeado por instituições do país.

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