Descrição de chapéu Universidade do Futuro

Futuro do ensino universitário será um híbrido de presencial e virtual

Em debate, especialistas apontam desafios na adoção de tecnologias na educação superior

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São Paulo

O isolamento social imposto pela pandemia do novo coronavírus trouxe à superfície as dificuldades e os desafios de atualizações do ensino superior. Universidades em todo o país tiveram de se adaptar, em poucas semanas, ao ensino a distância, o que impulsionou uma mudança que não era imaginável em tão pouco tempo.

Se as instituições de ensino estão --ou não-- aptas a internalizar essas mudanças e absorver parte delas no mundo pós-pandemia foi uma das questões mais polêmicas da mesa de discussão do Seminário Universidade do Futuro, realizado nesta segunda-feira (8) em formato webinar. O evento foi organizado pela Folha e contou com patrocínio da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).

Fabio Takahashi aparece sentado em um palco, na frente do banner do seminário; ao seu lado, dois monitores mostram os convidados que acompanham o evento online
Primeiro dia de debate seminário Universidade do Futuro, evento promovido pela Folha e transmitido por um link ao vivo; o repórter Fabio Takahashi faz a mediação da conversa com especialistas - Keiny Andrade/Folhapress

“Antes de falar em futuro, precisamos chamar a universidade para o presente, porque ela não chegou ao século 21. Agora, na pandemia, ela deveria mostrar sua relevância social. A universidade não pode ser uma emissora de diploma”, provocou Maria Alice Carraturi, pesquisadora de novas tecnologias para educação e diretora de conteúdo da BETT Brasil Educar (evento de educação e tecnologia da América Latina).

Alexandra Geraldini, pró-reitora de graduação da PUC-SP, concorda que as universidades precisam avançar, mas chama a atenção de que não adianta buscar a mudança por modismo. “É a construção de uma nova cultura, um processo, estamos em um momento intermediário.”

Uma das dificuldades das instituições é que boa parte do corpo docente não domina novas tecnologias e, às vezes, os próprios alunos não têm autonomia necessária ou tempo para se dedicar às metodologias ativas de ensinos, um modelo que traz um formato de aula horizontal e colaborativa.

“A instituição de ensino deveria ser aquela que provoca as mudanças, mas muitas vezes é impulsionada por elas. Temos que aproveitar esse momento de pandemia para virar a chave efetivamente”, defendeu o José Motta, fundador da Moonshot Educação (curso de método de inovação no ensino remoto) e mestre em tecnologias emergentes em educação. Para ele, a maior falha é tentar reproduzir a aula presencial no online, em vez de tornar os alunos mais ativos na construção do conhecimento.

“Os professores devem escalar uma parede de humildade e contribuir, assumir bandeiras dessa mudança e nos inspirar. Eu fico triste ao ver essa resistências [à mudança], queria que fosse efervescente”, completa Motta.

Para Frederic Michael Litto, presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância, a "obsessão com isonomia" atrapalha muito a educação. "Não dá para achar que ‘o tamanho de sapato tem que servir pra todo mundo.’”

Ele enxerga que “os alunos do futuro” vão ter cada vez mais voz na construção de seu conhecimento, com mais liberdade nas escolhas das disciplinas. Em vez de seguir um currículo ditado pela instituição, cada um poderá construir algo sob medida.

Quando se fala em mudanças, também é preciso levar em consideração as particularidades do país e olhar com cuidado experiências internacionais como inspiradoras para o Brasil, salienta Carraturi. Afinal, cerca de 70 milhões de brasileiros têm acesso precário à internet ou não têm nenhum acesso, de acordo com o levantamento mais recente, feito em 2018, pelo Cetic.br, departamento do Comitê Gestor da Internet que monitora a adoção de tecnologias de informação há 15 anos.

“Não dá pra fazer importação e implantar sem condições adequadas e precisamos de política de estado muito séria”, complementa a pró-reitora Alexandra Geraldini. A professora contou que a PUC teve de ceder computadores e comprar pacote de dados de internet de forma emergencial para que alunos conseguissem ter acesso aos programas online.

Para os debatedores, o ensino universitário do futuro não será totalmente online.“Precisamos formar pessoas humanas, o futuro é híbrido”, prevê José Motta.

“Para nós da universidade fica um desafio enorme: precisamos construir um caminho para trazer esses dois mundos, o digital e o presencial, e avançar num uso mais qualificado de recursos tecnológicos”, concluiu Alexandra Geraldini

Na terça-feira (9), a discussão será sobre a interdisciplinaridade nos currículos de universidades e, na quarta-feira (10), o evento termina com um debate sobre a diversidade nas instituições de ensino.​Os debates acontecem às 15h30. Basta acessar o link na home da Folha.

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