Descrição de chapéu Coronavírus

Limitação de novos testes em São Paulo compromete abertura da economia

Capital lança plano; Florianópolis, com 9 mortes e mais teste que Coreia, espera nova paralisação

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São Paulo

A cidade de São Paulo testará cerca de 44 mil pessoas em seus 96 distritos nas próximas semanas para monitorar infecções pelo coronavírus e calibrar a reabertura da atividade econômica.

A primeira rodada dos testes sorológicos terminou nesta sexta (12) e será seguida por outras sete, com cerca de 12 pessoas todas as vezes, em cada uma das 468 unidades básicas de saúde.

Assim como em pesquisas de opinião, os testados são escolhidos de forma a representar as comunidades envolvidas. Os resultados da primeira fase já estão sendo tabulados.

O objetivo será mapear onde o vírus segue mais presente, tentar monitorar as pessoas próximas aos infectados e tratá-los antes que precisem de internação.

O secretário da Saúde de São Paulo, Edson Aparecido, reconhece, no entanto, que o município não tem estrutura para realizar uma ampla testagem —incluindo um grande número de pessoas que tenham tido contato com os casos positivos. “Não temos testes para todos”, afirma.

Nesse momento, o estado de São Paulo também encontra o mesmo tipo de limitação.

No caso da prefeitura, a alternativa será usar equipes de atenção básica para tentar levantar casos de outras pessoas com quem o infectado possa ter interagido. A medida é considerada insuficiente pelos agentes da atenção básica.

“Isso não é estratégia de contenção. Uma coisa é monitorar onde o vírus está. Outra é fazer testes para identificar as pessoas infectadas e garantir seu isolamento quando se reabre a economia”, diz Denize Ornelas, diretora da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade.

O momento atual é diferente do início da epidemia, quando havia pouquíssimos testes, mas as pessoas ficavam em casa. Agora, os assintomáticos podem estar transmitindo o vírus sem saber —o que põe em risco a reabertura.

Segundo Ornelas, tem sido grande a pressão da população nas unidades de saúde para a realização de testes, muitas vezes por exigência dos empregadores.

Ela afirma que São Paulo deveria se espelhar em Florianópolis, que vem testando todos os casos suspeitos e as pessoas no entorno deles.

Segundo Ronaldo Zonta, chefe do departamento de Gestão da Secretaria Municipal de Saúde da capital catarinense, Florianópolis tem feito 1.052 testes por milhão de habitantes por semana. É mais do que os 942 por milhão na Coreia, um dos países referência no combate à pandemia.

Mesmo assim, a cidade se prepara para eventualmente ter de dar um passo atrás na reabertura. “Sabemos que, em algum momento, teremos eventualmente que fechar novamente”, diz Zonta.

Com apenas nove mortos durante a epidemia, Florianópolis proibiu até a circulação de ônibus na fase mais aguda.

Agora, os que entrarem nos coletivos poderão copiar nos celulares um QR Code para serem avisados (e testados) caso surja um infectado que tenha tomado o mesmo ônibus.

Para Daniel Soranz, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, o problema da falta da testagem em massa no Brasil “vem desde o princípio”. “Esta é a primeira epidemia em que o país não tem uma coordenação nacional a partir do Ministério da Saúde, que tinha como comprar testes em massa a preços competitivos e coordenar a sua aplicação.”

Segundo Soranz, como cada estado ou município agiu separadamente, permitindo, em muitos casos, a rápida proliferação da doença, testar todas as pessoas que tiveram contato com um infectado demandaria testes em populações inteiras, algo impraticável.

Dados da plataforma Our World in Data mostra que o Brasil é um dos países que menos testam para a Covid-19 no mundo, com 2,3 exames a cada 100 mil habitantes. No Chile, são 35 por 100 mil. Nos maiores países da Europa e nos EUA, a taxa varia entre 50 e 86 testes por 100 mil.

No estado de São Paulo, a promessa do governo é aumentar nas próximas semanas o número de testes diários do tipo PCR pelo Sistema Único de Saúde dos atuais 2.500 para 8.000, segundo Paulo Menezes, coordenador de Controle de Doenças da Secretaria de Estado da Saúde.

Menezes afirma que, assim como a prefeitura paulistana, o estado não teria capacidade nesse momento de ampliar a testagem para todas as pessoas no entorno de um caso confirmado —como a Coreia ou Florianópolis.

Ele pondera, no entanto, que o estado terá mais informações sobre a testagem a partir dos testes feitos em funcionários de empresas que estão voltando ao trabalho e por laboratórios privados.

A partir desta semana, os resultados de todos os testes no estado devem ser obrigatoriamente informados à vigilância epidemiológica. “Assim, teremos melhores condições de saber quanto da população está sendo testada.”

O estado também está aplicando 1 milhão de testes sorológicos, disponibilizados pelo Ministério da Saúde, em profissionais de saúde e da segurança pública, entre outros.

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