Cidades esperam avanços tecnológicos e descentralização da Justiça após virarem metrópoles

Estudo do IBGE coloca Campinas, Florianópolis e Vitória como novas metrópoles do país

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Ribeirão Preto

Após o IBGE publicar um estudo que aponta novas metrópoles no país, prefeituras das cidades com a nova classificação já esperam aumento de investimentos em setores como saneamento, além de avanço tecnológico e até mesmo a descentralização da Justiça.

O país ganhou três novas metrópoles e viu outras 32 cidades receberem o título de capitais regionais em 12 estados, segundo o estudo Regic (Regiões de Influência das Cidades), feito pelo IBGE e que mostrou o avanço na rede urbana brasileira entre 2008 e 2018.

As novas metrópoles são Campinas (primeira não capital a entrar na lista), Florianópolis e Vitória. Elas se somam a São Paulo, que ocupa o topo da hierarquia como grande metrópole nacional, Rio e Brasília (consideradas metrópoles nacionais), Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Salvador, Manaus, Belém, Fortaleza, Recife e Goiânia.

Coordenador da pesquisa, o geógrafo Marcelo Mota diz que o estudo é importante para a definição de políticas de acesso a serviços públicos e para o setor privado planejar, por exemplo, a localização de filiais de empresas ou a regionalização de vendas conforme as zonas de influência de cada cidade.

“A realidade evoluiu e o IBGE captou isso. Metrópole é uma cidade que tem capacidade de articulação muito grande no território. Todas as atividades de empresas, órgãos públicos, ONGs, indivíduos, associações, enfim, toda a constelação de entes que existe numa cidade e tem ligação de longa distância com outras.”

Complexo Intermodal de Rondonópolis, que liga o terminal de Alto Araguaia a Rondonópolis, principal corredor exportador de grãos do país - Sirlei Alves/Divulgação

Foram analisadas gestão do território, comércio e serviços, instituições financeiras, ensino superior, saúde, informação, cultura e esporte, transporte, atividades agropecuárias e ligações internacionais para se chegar ao resultado.

Campinas foi alçada à condição devido ao seu dinamismo empresarial e ao porte demográfico, por influenciar uma rede com mais de 4 milhões de habitantes.

A classificação como metrópole fará com que a prefeitura envie ao TJ (Tribunal de Justiça) um pedido para ser instalado na cidade um braço do tribunal de segunda instância. “Só temos segunda instância em São Paulo. Seria natural essa descentralização e seria natural começar por Campinas”, afirmou o prefeito Jonas Donizette (PSB).

Para ele, a cidade pode se beneficiar também com programas de habitação e saneamento da União que começam pelas metrópoles.

Já em Florianópolis, a prefeitura espera novas oportunidades de investimentos, especialmente na área tecnológica, que em 2019 obteve arrecadação de ISS (Imposto Sobre Serviços) superior a do turismo pela primeira vez.

O secretário de Turismo, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico, Juliano Richter Pires, diz que a vocação foi extrapolada pela pandemia, que atraiu paulistas e habitantes de centros maiores para a capital catarinense.

“O home office mostrou que é possível associar qualidade de vida com qualidade profissional e temos um aeroporto entre os melhores do país. É muito fácil trazer a família para morar aqui e vez ou outra ir a São Paulo para o que for preciso.”

Líder no ranking, São Paulo tem uma rede de influência que concentrava 49 milhões de habitantes em 2018 e mais de R$ 2 trilhões anuais de PIB, o equivalente a 23,6% da população e 33,3% da renda total do país, conforme o estudo do IBGE. Sua influência ultrapassa o próprio estado e atinge Mato Grosso do Sul, norte do Paraná, sul de Minas Gerais e do Triângulo Mineiro --onde divide influência com Belo Horizonte.

Das 15 metrópoles, 5 estão no Sudeste. Para elas convergem 97 capitais regionais, 352 centros sub-regionais, 398 centros de zona e 4.037 centros locais —estes últimos, mais numerosos no Nordeste.

As capitais regionais são definidas como centros urbanos que têm alta concentração de atividades de gestão, mas com alcance menor que as metrópoles.

O estudo mostrou avanço de Mato Grosso nesse ponto. O estado só tinha Cuiabá como capital regional e agora passou a ter também Rondonópolis e Sinop.

Em Goiás, Anápolis também subiu para essa categoria, assim como Cacoal e Ji-Paraná, em Rondônia. Em comum, são ligadas ao agronegócio.

O secretário de Desenvolvimento Econômico de Mato Grosso, César Miranda, disse que o estudo consolida Rondonópolis como a mais importante cidade do interior do estado, e vê na soja e no gado bovino os principais pontos a gerar o avanço.

Por ali passa boa parte da produção de soja do Centro-Oeste, escoada pelo terminal ferroviário, mas isso não é suficiente para o prefeito José Carlos Junqueira de Araújo (SD), que queria mais industrialização. “As commodities não são interessantes para nós. O correto é agregar valor à produção, é industrializar.”

E levanta outra questão: “A estrutura que tenho talvez seja maior que muitas cidades grandes de São Paulo, pois tenho de cuidar das pessoas 220 quilômetros distante da capital. Se a cidade não tivesse a estrutura que tem, como socorreria a região? É necessidade”.

De maneira geral, as cidades progrediram ou se mantiveram estacionadas na classificação, mas 3% dos municípios foram rebaixados. É o caso de Campina Grande (PB), que segue como capital regional, mas agora caiu da classificação B para C.

“Muitos municípios que buscavam serviços em Campina Grande passaram a ter Patos como referência. Com isso, ela perdeu área de influência”, disse o geógrafo.

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