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Com restaurantes fechados, turistas almoçam na calçada em Campos do Jordão (SP)

Cidade turística no inverno está na fase laranja da flexibilização, mas não é permitido fazer pedido na porta dos estabelecimentos

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Reginaldo Pupo
Campos do Jordão

Acostumados ao charme e ao glamour do inverno em Campos do Jordão (SP), na serra da Mantiqueira, turistas agora estão pedindo comida e fazendo as refeições sentados no chão ou nas calçadas do bairro Capivari, principal reduto turístico da cidade. Bares e restaurantes estão fechados há quatro meses por força de um decreto municipal, motivado pela pandemia de Covid-19.

Para tentar diminuir os prejuízos causados pelo fechamento, muitos restaurantes migraram para o delivery. Alguns, inclusive, encontraram brechas para driblar a fiscalização e fazem entregas do outro lado da rua para caracterizar o delivery, já que a retirada do pedido na porta do estabelecimento para levar para casa ou para o hotel também está vetada pelo decreto.

A praça do Capivari, onde é realizado o Festival de Inverno, transformou-se em uma praça de alimentação ao ar livre. Com o evento cultural adiado para 2021, o vaivém é de turistas com caixas de pizzas e lanches nas mãos. Uma pastelaria recebe os pedidos no balcão e funcionários saem à caça dos clientes no local, gritando seus nomes.

Um proprietário de restaurante que preferiu não se identificar disse que se sente como bandido, como se estivesse fazendo algo errado, e diz achar que a situação é vergonhosa para a cidade, conhecida justamente pelo turismo de alto padrão.

A universitária paulistana Amanda Coelho Florença, 21, usava uma floreira como mesa para que ela e duas amigas comessem um lanche na tarde deste sábado (18). “É muito incômodo comer assim, exposta na rua. Se quisermos ir a um banheiro ou lavar as mãos não podemos, porque os restaurantes não podem deixar a gente entrar para não serem multados”, disse. Bancos e calçadas também são usados como mesas para as refeições.

O fechamento dos restaurantes, na opinião de alguns proprietários, provocou um efeito contrário do desejado, já que há aglomerações nas ruas e nas praças do centro da cidade.

“Os turistas correm mais riscos almoçando no chão, em meio aos cachorros, do que dentro dos restaurantes, que já estão configurados com distanciamento entre as mesas, higienização frequente das instalações e a disponibilização de álcool em gel logo na entrada. Os visitantes estão sendo tratados com total desprezo pela prefeitura”, diz Luis Fernando Peretti, presidente do Grupo Cozinha da Mantiqueira, uma associação que reúne parte dos restaurantes de Campos do Jordão.

Na próxima semana, proprietários de 38 estabelecimentos de gastronomia vão mover uma ação na Justiça para tentar uma flexibilização para o funcionamento. Os empresários se queixam de que quase todo o comércio já foi liberado para funcionar, inclusive hotéis e pousadas, que estão lotados. A única exceção, até o momento, são os restaurantes.

De acordo com Peretti, proprietários do meio gastronômico estão tentando evitar demissões, mas, se a quarentena persistir, muitos restaurantes terão que recorrer à ação.

Oziel Faria, do grupo Cantinho da Serra, que reúne restaurantes e uma pousada, disse que, por enquanto, não demitiu nenhum dos 180 funcionários. “Eles estão em casa, recebendo mesmo sem trabalhar. Afinal, são 180 famílias que dependem do emprego deles. O governo federal vem auxiliando os colaboradores com pagamento de parte de seus salários, mas o que foi feito pelos órgãos públicos para os empresários, que continuam recebendo os boletos?”, questiona.

FASE LARANJA

A prefeitura de Campos do Jordão informou, por meio de sua assessoria, que a cidade está na fase laranja do plano do governo estadual, que permite que hotéis funcionem com capacidade reduzida, cumprindo protocolos. A fase, no entanto, não contempla os restaurantes, segundo a administração.

A gestão do prefeito Frederico Guidoni Scaranello (PSDB), que está em isolamento por ter contraído o coronavírus no início do mês, diz que vem fazendo ações de fiscalização desde o início da pandemia para garantir o isolamento social. Já foram feitas 570 notificações, que resultaram em 13 estabelecimentos fechados e 22 autos de notificação com aplicação de multas, que variam de R$ 50 a R$ 5.000. Na reincidência, o valor dobra. Com isso já há estabelecimentos multados em R$ 25 mil, segundo a prefeitura.

A próxima fase, segundo a administração, será o fechamento dos estabelecimentos que não cumprirem o decreto, além da abertura de processo administrativo que poderá resultar na perda do alvará de funcionamento.

Até a última sexta-feira (17), Campos do Jordão registrava 289 casos confirmados de Covid-19, com quatro mortes confirmadas e uma morte suspeita. Há um total de 217 casos suspeitos aguardando resultados, segundo a prefeitura.

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