Facções usam foguetório para celebrar conquista de territórios no Ceará

Polícia investiga mensagens em aplicativos que mandam soltar fogos em bairros

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Fortaleza

Facções criminosas no Ceará têm assustado moradores ao comemorar tomadas de territórios inimigos ou a chegada de novas remessas de drogas com foguetórios, sempre à noite por volta das 20h. A Polícia Civil já prendeu ao menos dez suspeitos, alguns considerados chefes de facções como o Comando Vermelho e o GDE (Guardiões do Estado) por apologia ao crime.

Os fogos de artifício chamaram a atenção da população já que o Ceará está em quarentena devido à pandemia do novo coronavírus, e eventos que utilizam esse tipo de material estão proibidos por decreto estadual. As festas de São João, tradicionais no Nordeste em junho, foram canceladas neste ano.

A noite de 20 de junho em Fortaleza e na região metropolitana parecia comemoração de Réveillon. O foguetório, apesar de, segundo a investigação, ter tido origem em três áreas periféricas dominadas pelo tráfico, pôde ser observado em vários bairros e durou mais de dez minutos. Quem olhava para o céu de varandas ou mesmo das ruas via fogos de artifício coloridos, de tipos variados.

Houve relatos também de fogos em cidades do interior, como Forquilha, vizinha a Sobral na região norte do Ceará, a 250 km da capital.

Horas antes, uma mensagem circulou por aplicativos de mensagens no que seria a ordem para soltarem os fogos de artifício. A polícia ainda investiga a veracidade, mas o texto pedia para que às 20h do dia 20 de junho "todas as áreas do GDE" soltassem bastante fogos para comemorar duas áreas tomadas pela facção. O foguetório começou exatamente nesse horário.

Não foi a primeira vez que isso ocorreu no mês: nos dias 2 e 8, foguetórios noturnos já chamaram a atenção porque o Ceará está em isolamento social com a proibição de aglomerações. Internautas chegaram a associar um deles ao aniversário do Ceará, popular clube de futebol do estado, mas imagens que circularam depois por redes sociais mostravam membros de facções festejando a tomada de territórios. Junto com os fogos de artifício, homens armados atiravam para cima.

A investigação da polícia apurou que o foguetório do dia 20 de junho foi organizado pela facção Guardiões do Estado, criada no Ceará e que tem como aliados membros do PCC. Hoje essas duas facções brigam por territórios com homens do Comando Vermelho. Neste dia, segundo a investigação, houve tomada de áreas no bairro da Maraponga, em Fortaleza, e na cidade de Cascavel, no litoral leste do estado a 65 km da capital cearense.

No dia 21, a polícia prendeu dez suspeitos e apreendeu armas, drogas e fogos de artifício. No dia 24, dois outros suspeitos, estes acusados de chefiarem facções, foram detidos também na investigação de apologia ao crime pelos foguetórios.

"É uma resposta com relação aos fogos de artifício. Entendemos que essas prisões somadas às investigações com certeza provocarão também uma baixa no índice de homicídio", disse o delegado Harley Filho, responsável pela operação.

O Ceará teve aumento dos homicídios em 2020, comparado com 2019. Em fevereiro ocorreu o motim de policiais militares, o que elevou os números mesmo com a presença da Força Nacional de Segurança, mas os meses seguintes, com a situação da segurança pública já normalizada, mantiveram a curva ascendente.

De janeiro a maio de 2020 ocorreram 1.887 assassinatos no estado —no mesmo período em 2019 foram 937. Em junho, o aumento continuou: até o dia 28 foram 326 assassinatos, contra 169 durante todo o mês no ano passado.

O governo atribui esse crescimento principalmente à disputa territorial entre as facções.

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