Descrição de chapéu Coronavírus Ao Vivo em Casa

Falta de coordenação do governo na pandemia tem impacto na saúde mental do brasileiro

Psiquiatra Jair de Jesus Mari, da Unifesp, foi o convidado de live da Folha nesta quarta

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São Paulo

O "maior experimento psicológico em nível global" que a huamanidade já enfrentou, as restrições de deslocamento impostas pela pandemia do novo coronavírus, vai deixar sequelas profundas na saúde mental da população.

No Brasil, há um fator a mais para complicar esse quadro: a falta de coordenação do governo federal na condução da política de combate e prevenção à doença, alerta Jair de Jesus Mari, chefe do Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

O psiquiatra foi o convidado desta quarta-feira (1) no Ao Vivo em Casa, série de lives da Folha.

Na conversa, mediada pelo jornalista Emilio Sant'Anna, o professor titular da EPM-Unifesp falou sobre a forma como o governo vem conduzindo o combate à pandemia e os problemas evidentes de gestão.

Para o psiquitara, a falta de coordenação do governo federal no combate à pandemia causa efeitos tanto na saúde mental, com a geração de mais angústia, como no trabalho das instituições como a Unifesp.

"Há uma situação no país em que Saúde e Educação foram negligenciadas. Você tem um minstro da Saúde que não tem uma equipe de epidemiologistas que possa interpretar o que deve ser feito", disse o médico.

"A questão da cloroquina será debate para a vida inteira. O absurdo que isso assumiu, o debate ideológico", disse. "Um ministro pode ser um militar, mas tinha que ter um braço direito, um técnico, que possa auxiliar."

Segundo ele, há alguns exemplos negativos claros dessa falta de coordenação na Saúde e na Educação. "Há uma dificuldade de acesso aos equipamentos de proteção individual. Estamos conseguindo sobreviver com doações privadas. Hoje, por exemplo, falta medicação para anestesiar a pessoa que vai ser intubada. Você precisa de um técnico [no ministério] que saiba toda a logística do processo", disse.

"E na Educação, como vamos tocar uma faculdade de medicina? Eles [o governo] estão mais preocupados com as questões ideológicas do que com as questões práticas. Hoje [no governo] você não tem as melhores cabeças na Saúde e Educação", disse.

Psiquiatra Jair de Jesus Mari, da Unifesp
Psiquiatra Jair de Jesus Mari, da Unifesp - Núcleo de Imagem

"O que você tem são pessoas fracas, que não sabem dar respostas para o dia a dia e para a atividade futura. E que estão cometendo erros que serão cobrados futuramente. E estão cometendo muitos erros, como estimular que as pessoas invadam hospitais para saber se eles estão realmente sendo utilizados", afirmou Jair Mari.

O psiquiatra também falou sobre o tamanho do luto que o país enfrenta. Nesta quarta (1), o Brasil rompeu a marca das 60 mil mortes causadas pelo novo coronavírus. Se cada uma dessas vítimas se relacionasse, entre familiares e amigos, com dez pessoas, ao menos 600 mil pessoas foram impactadas pelo luto.

"Quando você vê as estatísticas e vê mais 1.200 mortos por dia, isso são quatro acidentes aéreos", disse. "Temos uma perda muito grande de pessoas, além do medo da doença, e do impacto de não poder se despedir. Isso vai influenciar lá na frente. É o que chamamos de luto complicado. É um luto em que há maior probabilidade de desenvolver depressão."

Jair Mari lembrou também do impacto que esse quadro terá na saúde pública, e falou sobre a necessidade de o Sistema Único de Saúde (SUS) se preparar para receber esses pacientes com disturbios mentais causados pela pandemia.

Segundo ele, o confinamento compulsório exige mudanças na rotina e explicou os impacatos emocionais que isso causa, como ansiedade, angústia, irritabilidade e desconforto.

Os sinais que denotam os problemas também foram explicados pelo psiquiatra e como proceder quando esses sintomas se manifestam.

Segundo pesquisa Datafolha divulgada nesta semana, os brasileiros têm cada vez mais medo de serem infectados pelo novo coronavírus. ​O levamento mostra que a parcela da população que disse ter muito medo do vírus chegou a 47% em junho, maior índice desde que a pergunta passou a ser feita, em março, quando 36% disseram temer muito a doença.

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