Litoral de São Paulo tem aparição recorde de pinguins e baleias

Foram 504 animais mapeados por ONG no mês passado

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Reginaldo Pupo
São Sebastião (SP)

O sudeste brasileiro registrou desde o início de junho mais de 500 casos de pinguins-de-Magalhães que foram parar em praias da região, especialmente no litoral norte de São Paulo.

Desde o dia 9 de junho até a última quinta-feira (2), o Instituto Argonauta para Conservação Costeira e Marinha, entidade de Ubatuba especializada em resgate e tratamento de animais marinhos, recebeu 504 pinguins das quatro cidades do litoral norte (Caraguatatuba, Ilhabela, São Sebastião e Ubatuba), sendo que 373 já chegaram mortos.

A quantidade de pinguins surgida ainda no início da temporada de inverno mais que dobrou na comparação com 2019 e bate o recorde anterior, alcançado em 2018, quando a instituição registrou 245 animais encontrados.

Segundo o Instituto Argonauta, parte dos pinguins se perde do grupo e acaba parando nas praias. Cansados, debilitados e com fome, muitos morrem antes de concluir a jornada.

Pinguim-de-Magalhães são encontrados na praia das Anchovas,. em Ilhabela (SP)
Pinguim-de-Magalhães são encontrados na praia das Anchovas,. em Ilhabela (SP) - Instituto Argonauta / Divulgação

A temporada de inverno também traz ao litoral brasileiro a visita de baleias, que, assim como os pinguins, viajam entre 2.000km e 3.000km nesta época do ano. Os pinguins fogem das águas geladas da Patagônia e ilhas Malvinas para se alimentarem em águas brasileiras, como fazem todos os anos nesta época.

O primeiro pinguim registrado pelo instituto em 2020 foi no dia 9 de junho na praia do Itaguaçu, em Ilhabela. Além de Ubatuba, parte dos pinguins é encaminhada à unidade de estabilização do instituto em São Sebastião.

Os números referem-se apenas aos animais encaminhados para tratamento. Na última semana, banhistas que estavam na praia de Barequeçaba, em São Sebastião, contam ter visto um bando de pinguins se dirigindo à vizinha praia de Guaecá.

Há relatos desses animais em diversas praias da região. “Eram mais de cem, com certeza. E estavam nadando bem pertinho da faixa de areia. Só que pouco tempo depois, um deles apareceu morto na praia”, disse o autônomo Paulo da Silveira Amaral, 40, turista de São Paulo que estava com sua família na praia de Barequeçaba.

“Nunca tínhamos visto um pinguim tão pertinho, pena que ele estava morto”, disse Larissa Silveira Amaral, 15, filha do autônomo.

Segundo Hugo Gallo, presidente do Instituto Argonauta, em 2016 o órgão contabilizou oito Pinguins-de-Magalhães (nenhum deles sobreviveu). Já em 2017, foi registrado um total de seis espécimes, sendo dois vivos e quatro animais mortos.

O instituto realiza a reabilitação desde 2012. O pinguim-de-Magalhães é uma ave marinha com o corpo adaptado para viver na água, mas não voa e tem suas asas modificadas em nadadeiras.

De acordo com a bióloga Carla Beatriz Barbosa, os pinguins permanecem na água durante a época não reprodutiva, entre os meses de abril e setembro.

“Neste período, eles saem em busca de alimento se aventurando por distâncias mais longas, podendo chegar até o nosso litoral sudeste. Alimentam-se de peixes, polvos, lulas e pequenos crustáceos”.

Quem encontrar um pinguim nas praias do litoral norte, assim como outros animais marinhos, mesmo já morto, pode ligar para 0800 642 3341. Os biólogos recomendam que caso o animal permita (não fique agitado e tente reagir), deve-se colocar ele em uma caixa de papelão com jornal e mantê-lo em local seguro de outros animais como cachorros, gatos e urubus até a chegada da equipe.

Além dos pinguins, baleias também são encontradas no litoral nesta época do ano. Ao menos 12 foram avistadas por biólogos do instituto desde maio, igualando o número de espécies registradas durante todo o ano passado.

As baleias avistadas neste ano são da espécie baleia-de-Bryde e Jubarte e, de acordo com a bióloga Carla Barbosa, as águas do litoral paulista servem como rota para que elas possam chegar até Abrolhos, na Bahia, para reprodução.

Em maio, a reportagem acompanhou biólogos do Instituto Argonauta durante monitoramento de praias da bacia de Santos. Duas baleias jubarte foram vistas na entrada da baía de Castelhanos, em Ilhabela.

Desde 2016, quando o instituto iniciou o monitoramento de baleias, foi registrada a presença de 45 delas no litoral norte paulista. Em 2018, ao menos 12 delas apareceram mortas. Os números não levam em consideração baleias avistadas por embarcações de recreio ou banhistas, que fazem relatos, fotos e vídeos de baleias ao longo do litoral paulista.

O monitoramento é uma ação condicionante do licenciamento ambiental federal das atividades da Petrobras para produção e escoamento de petróleo e gás natural na Bacia de Santos, conduzido pelo Ibama.

O trabalho é realizado em dez trechos desde Laguna (SC) até Saquarema (RJ) e avalia os possíveis impactos das atividades de produção e escoamento de petróleo sobre as aves, tartarugas e mamíferos marinhos e presta atendimento veterinário aos animais vivos e necropsia daqueles encontrados mortos. O Instituto Argonauta monitora o Trecho 10, compreendido entre São Sebastião e Ubatuba.

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