Discreto e de poucas palavras, Raul Wassermann não era óbvio na forma de demonstrar seu carinho. Fazia isso nos detalhes.
Figura importante do mercado editorial, como fundador do Grupo Editorial Summus e ex-presidente da Câmara Brasileira do Livro, o semblante sério escondia um homem de coração enorme, muito ligado à família e que sonhava em distribuir bibliotecas pelo país.
Quando recebeu o diagnóstico de linfoma, há 12 anos, uma das primeiras reações foi demonstrar o medo de não ver os netos crescerem. Por ser alto e grande, o colo do “vovô Raul” era um dos lugares favoritos dos netos. Era ali, também, que ele lia para os pequenos.
Filho de judeus emigrados da Bessarábia, região da atual Moldávia, ele herdou o amor pelos livros da mãe e fez questão de passá-lo para as gerações seguintes. O filho Paulo, que trabalha com o pai e é seu sucessor na editora, lembra que cresceu numa casa rodeada de livros, com estantes cheias deles. Não importava se lessem gibis, o pai explicava, o principal era adquirir o hábito.
A paixão pelo ofício fica evidente no legado que deixa. Foi sob sua gestão que a CBL saiu do conjunto alugado no centro de São Paulo e se estabeleceu na rua Cristiano Viana, em Pinheiros, sua sede até hoje.
Com o slogan “a editora que se assume”, lançou selo voltado para o público LGBT muito antes do movimento ter tantas letras, no fim da década de 90. Edições GLS (gays, lésbicas e simpatizantes) nasceu porque ele enxergava a importância de atingir esse público, conta Paulo. O filho lembra do preconceito da época e de como as livrarias colocavam as obras na área de sexualidade.
Às sextas-feiras, Raul Wassermann gostava de cozinhar para a família —paixão descoberta nos últimos anos. A dificuldade, entretanto, era conseguir reunir todos. Com um filho e uma enteada que moram na Europa, quando conseguia ter toda a família em terras brasileiras, fazia questão de tirar uma foto. Depois, enviava uma cópia para cada um.
“Você podia ver o orgulho nos olhos dele quando ele reunia a família e via aquilo que ele construiu”, diz Paulo.
Nascido em Santos, torcia pelo clube da cidade, frequentava os concertos da Osesp na Sala São Paulo e gostava dos filmes do Woody Allen. Raul Wassermann morreu na quinta (9), aos 77, em São Paulo. Deixa a mulher, Edith Elek, três filhos, dois enteados e oito netos.
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