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Para combater Covid-19, cidade de TO monta barreira racial contra índios

Em Formoso do Araguaia, povo da etnia javaé foi proibido de entrar na cidade após determinação da secretaria de Saúde

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Manaus

Sob a justificativa de combate à epidemia do novo coronavírus, a prefeitura de Formoso do Araguaia (276 km de Palmas) proibiu desde o dia 1º de julho a entrada de indígenas no espaço urbano. Com a medida, uma barreira sanitária na entrada da cidade passou a impedir a passagem.

Em comunicado às lideranças do povo javaé, a Secretaria de Saúde de Formoso informou que “fica proibida a entrada de toda comunidade indígena javaé". A medida, inicialmente válida por sete dias, foi renovada por por mais uma semana.

Indígenas do povo javaé barrados por fiscalização sanitária na entrada da cidade de Formoso do Araguaia (TO)
Indígenas do povo javaé barrados por fiscalização sanitária na entrada da cidade de Formoso do Araguaia (TO) - Luana Ijakariru Javaé/Arquivo Pessoal

“A preocupação deles não é com a nossa saúde, e sim para não infectar a cidade. A gente se sentiu muito desprezado”, disse à Folha Vantuíres Javaé, presidente da Conjaba (Conselho das Organizações Indígenas do Povo Javaé da Ilha do Bananal).

Um vídeo gravado nesta terça (7) mostra a liderança sendo barrada quando tentava passar pela fiscalização na BR-242. Na tenda armada ao lado da estrada, aparecem alguns índios impedidos de continuar a viagem. Segundo ele, motoristas não indígenas transitavam livremente.

De acordo com o boletim epidemiológico da cidade divulgado na segunda-feira (6), o município tem 192 casos confirmados, dos quais 83 são indígenas moradores da Terra Indígena Araguaia (Ilha do Bananal), que abriga quatro povos e uma população estimada de cerca de 3.500 pessoas.

Javaé denunciou o caso ao Ministério Público Federal, à Funai e ao Ministério Público do Tocantins. Ele também registrou um boletim de ocorrência por prática de discriminação racial.

Com a repercussão do caso, a Secretaria de Saúde enviou nesta quarta-feira (8) uma nova mensagem às lideranças indígenas flexibilizando a proibição. O texto diz que a passagem foi liberada para todos os não infectados e sem suspeita de infecção por Covid-19.

Via mensagem de texto, a assessoria jurídica da Secretaria de Saúde de Formoso do Araguaia informou que não houve proibição, e sim "um isolamento domiciliar nas aldeias”. Questionado sobre o vídeo, disse que “são indigenas aguardando resultado de exames do Lacen com suspeita de Covid 19, que estavam em isolamento domiciliar nas suas aldeias."

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