Polícia investiga jornalistas após morte de homem que Record disse ser assassino

Homem de Salto foi assassinado por desconhecidos após ter sua imagem divulgada

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São Paulo

A Polícia Civil de São Paulo decidiu instaurar um inquérito para apurar se profissionais da TV Record cometeram crime ao mostrar imagem de Alécio Ferreira Dias, 41, como suspeito pela morte de uma mulher de 18 anos. Após a veiculação da foto na emissora, ele foi assassinado, na segunda (13), na cidade de Salto, a 104 km da capital paulista.

O programa “Cidade Alerta” afirmou que o catador de material reciclado era o principal suspeito de ser um “serial killer”.

“A informação que nos chega é que seria 99,9%, viu Bacci? Certeza de que é este homem, que você tem a foto em mãos, mas que a gente não pode divulgar”, disse a repórter Lorena Coutinho ao apresentador Luiz Bacci durante o programa. “A polícia tem praticamente certeza de que é este homem”, completou ela.

O apresentador fez apelos para que a população não fizesse justiça com as próprias mãos.

A reportagem da TV Record trazia uma foto borrada de Dias, que foi reconhecido na cidade e morto a tiros.
O caso foi revelado pelo colunista Maurício Stycer, do UOL.

A polícia afirma que Dias não era suspeito de crime algum. Diz que só foi procurada por produtores do programa quando a matéria já estava no ar, com uma série de informações imprecisas.

Um homem foi assassinado com sete tiros horas depois de ter sido apontado como suspeito de um crime durante o Cidade Alerta, da Record
Um homem foi assassinado com sete tiros horas depois de ter sido apontado como suspeito de um crime durante o Cidade Alerta, da Record - Reprodução/TV Record

Um policial ouvido pela Folha afirmou que a reportagem da Record foi alertada então de que não havia provas contra o homem apresentado como suspeito pela emissora.

A reportagem da emissora afirmava haver relação entre a morte de Priscila Martins, 18, e outros dois assassinatos de mulheres na cidade. De acordo com a emissora, Dias seria o principal suspeito da morte da moça porque, segundo testemunhas, foi visto conversando e dando carona para ela no dia 6 de julho, última vez que Priscila foi vista com vida.

Para a polícia, há uma série de problemas nessas informações. Primeiro, porque não haveria nenhuma ligação entre as mortes mencionadas —uma ocorreu em 2018, outra em 2019. Sobre Priscila, não há ainda confirmação sobre sua morte. O corpo que supostamente seria dela foi encontrado carbonizado e, assim, só será possível essa confirmação após exames de DNA.

Segundo os policiais, não é certa a participação dele na eventual morte de Priscila. Os dois foram vistos juntos em 6 de julho, e o corpo dela foi encontrado dois dias depois.

Procurada pela Folha, a TV Record ainda não se manifestou. Ao colunista do UOL divulgou uma nota.

"O 'Cidade Alerta' tinha as informações sobre o nome e a foto do suspeito. Entre amigos, familiares, testemunhas e moradores da região de Salto, todos já sabiam quem era. Inclusive a investigação aponta que a pessoa era conhecida de Priscila Martins, que foi encontrada morta depois de ser torturada e o corpo queimado. O mesmo suspeito é apontado como envolvido em outros crimes", diz o texto da emissora.

"Diante da revolta que a informação causou na região, o 'Cidade Alerta' decidiu não identificar o suspeito e fez um apelo para quem soubesse o paradeiro do investigado que informasse a polícia e que ninguém tentasse fazer justiça com as próprias mãos", completa a Record.

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