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A nova realidade de hábitos e consumo

Quarentena transforma hábitos e aprofunda desigualdades, mostra pesquisa Datafolha

Mulheres e indivíduos mais pobres são os mais prejudicados pela crise e pelo aumento do serviço doméstico

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Alessandro Janoni, diretor de pesquisas do Datafolha
São Paulo

Para os paulistanos, o distanciamento social provocado pela pandemia é marcado principalmente pela rotina de tarefas domésticas, especialmente no preparo das refeições em casa. O alívio vem de hábitos culturais, com música, televisão e filmes, além da busca de conforto em orações ou meditação.

No mercado de trabalho, há redução da jornada para 42% e de salário para 46%. O home office é realidade para apenas um terço, chegando à maioria só entre os mais escolarizados e ricos.

No consumo, a internet tem papel importante, alcança a maioria dos domicílios e potencializa a cobertura de serviços de streaming, bancos online e aplicativos de entrega.

Esse é o retrato de pesquisa Datafolha realizada no início deste mês sobre as mudanças de comportamento provocadas pela quarentena na vida dos moradores da capital paulista. O instituto ouviu 700 pessoas de todas as classes sociais e mapeou alterações e tendências em diferentes estratos da população.

No entanto, ao se observar os cruzamentos dos dados, os contrastes entre segmentos sugerem que a nova realidade pode, na verdade, reproduzir e aprofundar velhas desigualdades, especialmente por gênero e níveis econômicos.

As mulheres e os mais pobres, por exemplo, revelam de maneira mais enfática a intensificação dos serviços domésticos e apontam para a manutenção dessa tendência no futuro próximo.

No segmento feminino, a taxa das que afirmam cozinhar é superior em quase 20 pontos percentuais à verificada entre os homens, e o aumento na ajuda com as tarefas dos filhos é nove pontos maior que o verificado no estrato masculino. Elas também cuidam mais de plantas e animais.

Entre os homens, o trabalho fora de casa durante a quarentena é mais comum, superando o segmento feminino em 25 pontos percentuais. Mas o dado não significa que elas eram donas de casa —pouco mais de um terço das paulistanas tinha ocupação fora do lar antes do isolamento.

Quando no domicílio, em comparação com o segmento feminino, os homens assistem mais a filmes e séries, mantêm mais atividades físicas e leem mais jornal. Elas oram mais do que eles e assistem a programas de televisão tanto quanto.

O acesso majoritário à internet em todas as classes econômicas, mais expressivo nas A/B e C (que somadas totalizam 90% dos paulistanos) facilita o isolamento especialmente para esses grupos. A maioria recebe refeições em casa, faz transações bancárias pela rede e tem assinatura de serviços de streaming.

O reflexo disso é o alto reconhecimento de marcas digitais no levantamento que mede o desempenho de empresas na quarentena. O recall de Netflix em sua categoria chega a 68% da população, com lembrança majoritária inclusive nas classes D/E.

Na categoria entrega de supermercados, o iFood ameaça, ao lado da Rappi, a liderança do Pão de Açúcar entre os que integram as classes A/B. A rede é líder histórica do setor nas pesquisas do Datafolha sobre serviços da capital.

O iFood também foi o mais lembrado pelos paulistanos em outras duas categorias de serviços de delivery. A pesquisa Datafolha foi feita logo depois da primeira greve dos entregadores, em 1º de julho.
Quanto ao futuro próximo, com a queda no contágio, mas antes da vacina, talvez seja prematuro apostar no encasulamento como forte tendência.

Todas as atividades externas apresentadas pelo Datafolha aos entrevistados foram de fato bastante reduzidas na quarentena. E são essas atividades que lideram o ranking de tendências para os próximos meses. A maior parte dos paulistanos diz que a frequência com que vão realizar essas ações fora de casa vai aumentar mesmo antes da vacina.

A manutenção ou não de hábitos adquiridos durante o período depende não só da evolução da epidemia como também da crise econômica.

Entre os que trabalham, a maioria descarta redução de salários nesse futuro próximo e se vê economicamente ativa após o período. No geral, os paulistanos estão otimistas com a vida pós-Covid-19, inclusive as mulheres e os mais pobres.​

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