Resgate de cadela Brigite mobiliza moradores, policiais e acaba em perda de guarda

Tutor de uma shi tzu de três anos de idade afirmou à polícia que foi jantar na casa de cunhado e ficou 'desconfortável' em levar animal

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São Paulo

Policiais militares de São Paulo, com ajuda de integrantes do Corpo de Bombeiros, resgataram por volta das 22h40, da última sexta-feira (3), Brigite, 3, que era mantida em cárcere havia quase três horas no interior de um veículo estacionado na rua Campos Vergueiro, na Vila Anastácio, zona oeste de capital.

O resgate de Brigite, uma cachorrinha da raça shi tzu, foi acompanhado por moradores do bairro, alguns pelas sacadas de apartamentos, muitos pelos grupos de WhatsApp, e outros pela rua mesmo, se aglomerando, e terminou com aplausos às equipes de salvamento e xingamentos ao “pai” da resgatada, quando este apareceu para explicar porque havia trancado a “filha” ali.

"Ela é o amor da minha vida", disse o advogado Everson Rogério Pavani, 49, tutor de Brigite, provocando risos raivosos e xingamentos da plateia, entre eles de "assassino" e "sem-vergonha".

As explicações dele não convenceram os policiais que repassaram a guarda de Brigite a outra família naquela mesma noite.

O delegado Caio Camargo Scarlatti registou o caso como maus-tratos e, após avaliação de veterinária, decidiu entregar o animal a outra família, “visando resguardar sua integridade física”.

A história do salvamento da cachorrinha começou duas horas e quarenta minutos antes, às 20h, quando Fernando Buldrini, 38, um morador da Campos Vergueiro, passeava com seu cachorro, o Pudim, e ouviu uma série de latidos abafados vindos do interior de um Land Rover estacionado a meio-fio.

A cachorra Brigite, com pelagem em preto e branco e lacinho na cabeça
A cachorra Brigite, que foi resgatada de interior de veículo na zona oeste de SP - Redes sociais

A rua estava praticamente deserta, muito em razão das baixas temperaturas naquela noite, cerca de 13º C (com sensação de muito menos), e Buldrini quase não conseguiu uma testemunha para compartilhar sua descoberta:

"Tem um cachorrinho trancado aqui dentro desse carro, está escutando os latidos?", disse ele para um morador que apareceu no espaço pet, do outro lado das grades, bem em frente ao veículo estacionado.

Buldrini voltou para o apartamento dele, mas não abandou o assunto. Contou sobre o ocorrido para mulher dele, Maísa, e no grupo do WhatsApp tentou encontrar o dono do veículo. Moradores repassaram a mensagem (e foto do veículo) para outros grupos e notícia tornou-se o assunto da noite.

Buldrini acionou a Polícia Militar. Foi orientado a procurar nas portarias dos prédios pela proprietária do veículo, como constava no banco de dados do Dentran, e caso não a encontrassem, iriam encaminhar uma equipe para lá. A dona não foi localizada, até porque o veículo estava sendo conduzido por um homem, Pavani.

Duas equipes da PM apareceram. Informaram, porém, que não podiam quebrar o vidro do veículo. A solução seria acionar o Corpo dos Bombeiros. Os bombeiros chegaram, cerca de uma hora depois, e romperam um dos vidros do veículo em poucos segundos, quando já havia uma grande plateia no entorno, muito diferente do momento quando Buldrini ouviu os primeiros latidos.

A cadela Brigite, no interior de um veículo. A imagem está em preto e branco e um pouco distorcida
Cadela Brigite, no interior do Land Rover em que foi resgatada pela polícia na última sexta (3), na zona oeste de SP - Redes sociais

Nessas cerca de duas horas e quarenta minutos, Brigite latiu muito no começo, mas, na maior parte do tempo, ficou quieta, sentadinha no assoalho atrás do banco do motorista. Só demonstrou muito estresse quando foi agarrada dentro do veículo pelos policiais para ser entregue a Buldrini.

Menos de cinco minutos depois do resgate da cachorrinha, Everson Pavani chegou ao local e informou ser ele o dono do veículo.

"Eu estava aqui, gente", disse o advogado apontando com o braço a sacada de um dos apartamentos, no mesmo condomínio do homem do espaço pet.

Na delegacia, Pavani disse que trancou a cachorro no veículo na intenção de deixar o filho (de 11 anos) na casa de um parente e ir embora, mas foi convidado para jantar.

Ele afirmou também que não tem o hábito de deixar a cachorra fechada no veículo e o que ocorreu foi algo pontual, uma vez que não se sentia confortável em levá-la até o apartamento de seu cunhado.

Testemunhas ouvidas pela polícia disseram, porém, que Pavani disse anteriormente que o veículo era “o ambiente dela, sendo que sempre a deixava trancada neste”, e também afirmaram que havia forte odor de urina no interior da SUV, segundo o boletim de ocorrência ao qual a Folha teve acesso.

Procurado pela Folha, Pavani não quis comentar o assunto. Apenas enviou nota: “Tudo o que tinha a informar fora declarado em meu depoimento. Agradeço seu interesse. Gostaria de deixar claro que não autorizo a publicação de meu nome, assim como quaisquer imagens (meu carro, pessoal etc). Mais uma vez, meus agradecimentos pelo interesse.”

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