Descrição de chapéu Obituário Elizabeth Dória Scatolin (1955 - 2020)

Mortes: Educadora escutava crianças com respeito e afeto

Beth dedicou 45 anos ao ensino e respeitou a cultura própria que há na infância, não como algo infantil, mas sagrado

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São Paulo

Beth despertava as coisas simples e bonitas do mundo. Era doce, sorridente e gostava de flores. Não só dos vasos que moldava, haste por haste, e acomodava sobre a mesa, em torno da qual acolhia família e amigos com afeto.

Ela gostava de jardins e de seu ritual. Tinha a mesma afeição por pomares e hortas. Plantar, regar, colher —algumas, deixava murchar, cair, adubar.

Outro dia, comprou um monte de mudas de ipês, que estão por chegar pelo correio. Ia fazer um bosque bem colorido no sítio, para alegrar a casinha campestre que sonhava construir para viver a velhice, na qual ia cuidar de uns pés de café, que florescem e espalham perfume de jasmim.

Elizabeth Dória Scatolin (1955-2020)
Elizabeth Dória Scatolin (1955-2020) - Arquivo pessoal

Papai disse que plantará um a um —e assim vamos homenageando essa mulher que criou a mim e a minha irmã como filhas, e que amamos como uma segunda mãe. Não só nos deu o mais sensível dos irmãos, como o escolheu. E nele canalizou o maior amor que já pôde sentir.

Ela me ensinou, e a muitos, a generosidade. Dividir. Acreditar em todo e qualquer tipo de gente. Sempre acolheu o diferente e apostou, com confiança, no ser humano.

Nunca duvidou da capacidade de transformação das pessoas —e isso fez dela uma educadora vital ao ensino infantil do Vera Cruz. À escola dedicou quase 45 anos, de seus 65 —doou sua alma e algumas jabuticabeiras.

Há certo consolo na ideia de que ela se fez existir em todos nós, e é uma existência tão sólida, que parece se contrapor à sua delicadeza.

Como alicerce de um projeto pedagógico inovador, Beth impregnou outros profissionais da seriedade de observar uma criança. Escutá-las com reverência, e com a crença de que têm uma riqueza extraordinária a transmitir.

Respeitou a cultura própria que há na infância, não como algo infantil, mas sagrado. Era como se carregasse dentro dela um Manoel de Barros. O respeito às coisas e aos seres desimportantes —apreciar insetos mais que aviões. A liberdade para desinventar objetos e fazer de pentes, begônias. Cuidar de um quintal maior que o mundo.

Elizabeth Dória Scatolin morreu na noite do dia 10, de infarto, repentinamente. Adormecida, chamou pelo pai e seu coração parou, com serenidade. Deixa marido, um filho e duas enteadas.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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