Ao rejeitar um casamento infeliz, Nelci Amélia Guimarães ignorou convenções morais do final da década de 1960. Deixou o interior da Paraíba e buscou vida melhor em São Paulo para ela e dois filhos crianças.
Sair de Alagoa Nova, a 148 km de João Pessoa, era deixar para trás o sítio Bacuparí, em uma bonita zona rural. Foi lá que nasceu, em família de agricultores de dez filhos, e onde vivem até hoje o irmão Abdias, 85, e dezenas de familiares afetuosos.
Na capital paulista, foi faxineira, passou roupa, namorou e dançou forró, como fazia no interior nordestino.
A morte do filho Ednaldo, em 1988, aos 33, foi uma dor incontornável. Manteve a fortaleza no amor à neta Jacqueline Guimarães, filha de Ednaldo e da advogada Celina, e também à Bárbara, fruto do segundo casamento da nora.
Zélia, filha de Nelci e mãe de outros quatro netos, morreu em 2019. Representou a terceira perda: João, o primeiro filho, morrera precocemente antes de ela deixar a Paraíba.
Mesmo com tantas dores, “vó Nelci” viveu com coragem e generosidade, lembram os familiares.
Preservava um humor arretado, ainda que por vezes rabugento, e a alegria de viver com quem amava—seja junto da família ou de amigas de toda vida, como dona Neves.
“Sempre apoiava a felicidade das pessoas, era compreensiva, não gostava de injustiças”, diz a relações públicas Jacqueline, 35. “Foi exemplo de perseverança, uma mulher muito forte”.
Tinha mão boa para cocada, tapioca e dobradinha. Mas também uma predileção por macarrão instantâneo, motivo de brincadeiras na família.
Regressou a Alagoa Nova em 2019 —por medo de bichos do mato, preferiu uma casinha na cidade ao sítio.
Vivia com a gatinha Mimi, fotos das netas nas paredes coloridas de verde, e amparada pela Bíblia, tercinho de orações, e por vizinhos e parentes, como Tita, Jaderi e Nazinha.
Em uma queda na frente de casa, quebrou o fêmur e, após cirurgia, sofreu um tromboembolismo.
Morreu dia 6, em Campina Grande, aos 82. Deixa seis netos, oito bisnetos, familiares e amigos.
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