Apesar de ter estudado letras e filosofia na USP, onde participou da fundação do teatro da instituição, a paulistana Rose La Creta tinha o cinema como missão de vida.
Referência na sétima arte brasileira, foi diretora, roteirista, produtora de filmes, organizadora de festivais e atriz.
O sorriso generoso e os olhos brilhantes davam contorno ao seu encantamento. Colecionava amigos, aos quais distribuía de forma igual o privilégio de sua atenção.
Rose deixou um importante legado ao cinema, mas, por trás dos holofotes, protagonizou a doçura, gentileza, generosidade e irreverência.
Mestre em boas histórias, submetia os amigos a situações surpreendentes. Amigo de Rose desde os 23 anos, André Sturm, cineasta e programador do Cine Belas Artes, foi um dos premiados. Ele relembra alguns momentos, como um encontro com ídolos.
“Ela me liga um dia e me pede para buscar o David Byrne no aeroporto, em São Paulo. Imagine. O líder dos Talking Heads. No final dos 80, início dos 90 ele era ‘o cara’. Eu tinha um ‘chevetinho’ velho e bagunçado. Ele sai do portão com o Arto Lindsay. Simplesmente levei esses dois caras incríveis no meu carro”, conta.
Rose nunca se vangloriou de ser amiga de personalidades internacionais. Agitadora, gostava de projetos e sempre esteve envolvida com cinema, vídeo e música.
De palavra simpática, gostava de juntar as pessoas. Tinha uma energia muito positiva e mostrou que é possível ser gentil, generosa e criativa ao mesmo tempo.
No início de carreira foi assistente de direção em filmes como “O Bandido da Luz Vermelha”, de Rogério Sganzerla, “Os Deuses e os Mortos”, de Ruy Guerra, “Vai Trabalhar Vagabundo”, de Hugo Carvana, e “Capitão Bandeira contra Dr. Moura Brasil”, de Antônio Calmon—nos dois últimos também atuou.
Como atriz, também esteve no elenco de “Os Condenados”, de Zelito Viana.
Em 1976, passou a se dedicar à produção e direção. Dirigiu os curtas “Encarnação” , “I’m a Dancer”, “Ida e Volta do Inconsciente” e o longa “Missão Rio”, em parceria com Sérgio Bernardes.
Seu filme “Mestre Leopoldina, a Fina Flor da Malandragem” participou do Fórum des Images, em Paris, e do 16th Latin American Film Fest de Londres, na Inglaterra.
Em sua trajetória também está a participação na fundação da Escola de Cinema Darcy Ribeiro.
Rose Lacreta morreu no dia 20 de agosto, aos 74 anos. A causa da morte não foi informada. Deixa um filho e dois netos.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.