No pico da pandemia, PRF promove curso para 650 policiais em SC

Ao todo, mais de mil pessoas devem circular pela academia da corporação

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Curitiba

Enquanto Santa Catarina enfrenta o pior momento da pandemia do novo coronavírus, com Florianópolis figurando entre as capitais com situação mais crítica do país, a cidade recebeu nos últimos dias cerca de 650 alunos da Polícia Rodoviária Federal (PRF) de todo o Brasil.

Aprovados no concurso da corporação, os agentes estão passando por formação para seguirem para as ruas. Embora escolas e faculdades estejam fechadas em todo o país, as aulas na Universidade Corporativa da PRF iniciaram no último dia 15 e seguem até novembro.

Conforme apurou a Folha, a própria PRF estimou que 1.150 pessoas devem circular pelo local, incluindo instrutores e servidores. Fotos e vídeos divulgados pelo órgão mostram treinamentos presenciais em salas de aula e em ambientes externos, como práticas de tiro.

Desde o início da pandemia, em março, o governador Carlos Moisés (PSL) suspendeu as aulas de instituições públicas e privadas de Santa Catarina. O estado registra um dos maiores aumentos de mortes pela Covid-19: 40% delas ocorreram nas duas últimas semanas.

Procurada pela reportagem, a PRF não esclareceu como conseguiu manter o curso presencial. Ao jornal NSC Total, informou que a “área da universidade é considerada de segurança nacional, por isso não está submetida aos decretos estaduais –mas às determinações federais”.

Já a prefeitura de Florianópolis afirmou que as aulas foram autorizadas após apresentação de protocolo de controle de risco biológico pela PRF.

Questionada, a PRF não respondeu se já ocorreram internamentos, para qual hospital seriam encaminhados eventuais doentes nem quem arcaria com as despesas. Como os alunos vêm de todos os cantos do país, planos de saúde particulares podem não cobrir as despesas médicas.

Em Florianópolis, nesta segunda-feira (27), a taxa de ocupação de UTIs exclusivas para tratamento da Covid-19 estava em cerca de 80%. Em todo o estado, o porcentual ultrapassou essa faixa pela primeira vez na última semana desde o início da pandemia, chegando a 81,2%.

O plano da PRF inclui um período de isolamento e a testagem dos participantes do curso antes do seu início e rastreamento diário de sintomas, além de medidas preventivas, como distanciamento social e desinfecção de objetos e ambientes.

“A autorização [para as aulas] levou em conta que os riscos de transmissão são baixos e o curso se configura numa questão de segurança pública”, afirma a prefeitura em nota.

Também em nota, a PRF detalhou que todos os envolvidos já foram testados duas vezes: no dia de apresentação na academia, em 8 de julho, e uma semana depois, com o início das aulas. A corporação afirmou que, no decorrer da formação, vai submeter os agentes a exames aleatórios, mas não informou se foram registrados resultados positivos até agora.

A PRF comprou 5.600 exames rápidos para Covid-19 para monitorar a saúde dos participantes ao longo dos próximos meses, segundo consta em edital disponível no site da corporação.

“No caso de um resultado positivo de um aluno, os demais daquela sala serão testados, como também instrutores, coordenadores e pessoas que estejam convivendo no mesmo ambiente”, detalha o edital. A estimativa de gastos apenas com os testes é de R$ 529.200.

A PRF informou que está adotando também outras medidas preventivas como uso de máscaras, medição de temperatura no acesso à universidade e aplicação de questionários diários para detectar possíveis sintomas da doença. Caso haja suspeita de contaminação, a pessoa é examinada e encaminhada para isolamento ou hospital, a depender do caso.

A corporação garantiu ainda o cumprimento de outras regras, como espaçamento de 1,5 m entre as carteiras em salas de aula e proibição de aglomerações. Cada turma possui um coordenador pedagógico, responsável por monitorar “anormalidades”.

O plano da PRF prevê o contingente de 24 policiais, coordenados por um agente com formação em medicina, para trabalhar exclusivamente na área de atendimento pré-hospitalar. Duas empresas também foram contratadas pela corporação para higienização dos ambientes durante as instruções e para os serviços de sanitização e desinfecção de áreas após as aulas.

No primeiro dia de curso, os futuros agentes contaram com palavras de apoio do presidente Jair Bolsonaro. Em vídeo compartilhado no perfil do curso no Instagram, ele disse ter atendido apelo dos concursado e mobilizado ministérios para manter as aulas em meio à pandemia.

“Hoje é um dia muito importante na vida de vocês. [...] Foi unanimidade a aceitação [entre ministros] de arranjar uma maneira de vocês começarem a cursar”, mencionou.

Na sexta-feira (24), dia em que a PRF completou 92 anos e em que o governo anunciou um novo planejamento estratégico para a corporação, Bolsonaro citou o início das aulas como uma das boas ações de seu atual diretor-geral, Eduardo Aggio de Sá. Ele assumiu o cargo após a saída de Sergio Moro do governo, substituindo Adriano Furtado, indicado do ex-ministro.

Procurado, o governo de Santa Catarina não retornou ao contato da Folha.

Não é só a Universidade da PRF que manteve as aulas em meio à pandemia. A Escola de Aprendizes-Marinheiros também continua em funcionamento na capital catarinense.

Em nota, a Marinha afirmou que adotou "procedimentos compatíveis com seus respectivos cursos" e rotina de trabalho "flexibilizada" para os que fazem parte de grupos de risco. No entanto, não revelou quantos estão envolvidos na operação nem mais detalhes das medidas preventivas ao novo coronavírus.

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