Com praias liberadas no feriado, litoral norte de SP fará 'blitz sanitária' com medo de Covid-19

Prefeitura de Ilhabela quer exigir que turista assine termo de responsabilidade

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Reginaldo Pupo
Caraguatatuba (SP)

Prefeitos do litoral norte de São Paulo pretendem criar bloqueios sanitários de orientação (sem barrar carros, efetivamente) como uma das medidas para minimizar o impacto da invasão de turistas no próximo feriado prolongado, de Sete de Setembro, nas quatro cidades da região (Caraguatatuba, Ilhabela, São Sebastião e Ubatuba).

Com medo também da superlotação nas praias, prefeitos do litoral sul (cidades como Santos e Guarujá) pediram apoio do governador João Doria para atenuar os efeitos do feriado na saúde local, em meio à pandemia.

Muitos turistas resolveram antecipar a viagem para o litoral norte e o movimento de veículos começou a se intensificar já na noite desta quinta-feira (3), provocando lentidão no trecho de serra da rodovia dos Tamoios, principal acesso à região, durante toda a madrugada. Houve lentidão também na rodovia Oswaldo Cruz, que liga Taubaté a Ubatuba.

Com isso, as praias já registravam lotação logo nas primeiras horas da manhã. No início da tarde, o tempo mudou e a temperatura teve ligeira queda. Os ventos fortes e o mar agitado afugentaram parte dos turistas, que preferiram frequentar os restaurantes, sorveterias, docerias e lojinhas de artesanato.

No litoral norte, a medida mais incomum coube à Prefeitura de Ilhabela, que planeja obrigar turistas que queiram acessar o arquipélago a assinar um termo de responsabilidade. Na pandemia, a administração local já tinha proibido a entrada pela balsa de não-moradores.

praia com banhistas
Movimento de turistas na praia da Cocanha, em Caraguatatuba, no último domingo (30) - Jéssica Aquino/Agência Facto

Em São Sebastião, que tem 120 km de extensão voltados ao mar, a prefeitura realizará barreiras sanitárias nas duas entradas da cidade. Os visitantes terão a temperatura aferida e os pneus dos carros, desinfectados. O prefeito Felipe Augusto (PSDB) disse que pedirá reforço da Polícia Rodoviária para auxiliar na ação.

O prefeito de Caraguatatuba, José Pereira de Aguilar Júnior (MDB), também disse que irá pedir apoio ao governo do estado para reforçar os trabalhos de fiscalização. “Precisamos retomar a economia, mas moradores e turistas precisam seguir respeitando os protocolos sanitários”.

Em Ubatuba, o prefeito Délcio Sato (PSD) determinou que equipes da secretaria da Fazenda, Vigilância Sanitária e a Guarda Civil Municipal realizem a fiscalização, e também pediu ao estado o reforço da PM.

Em Ilhabela, será necessário o preenchimento de um termo de responsabilidade, informando a cidade de origem, tempo de permanência e local onde ficarão hospedados.

No documento, estarão listadas as orientações na cidade, como uso obrigatório de máscaras, limite até 23h para restaurantes funcionarem e veto a festas e aglomerações. Passeios pelas trilhas e cachoeiras da cidade somente podem ser feitos com acompanhamento de guias, com grupos de no máximo seis pessoas.

Praias lotadas

Mesmo com os riscos da pandemia do novo coronavírus, o movimento nas praias do litoral norte não se reduziu. Turistas e veranistas vêm lotando as praias, rios e cachoeiras da região.

No último fim de semana, os quatro municípios vivenciaram dias de forte calor, com as praias e até ilhas otadas, congestionamentos na rodovia Rio-Santos, trânsito local lento e falta de vagas para estacionar.

Também hotéis, pousadas e restaurantes tiveram bom movimento durante todo o período, algumas inclusive não respeitando o limite de ocupação de até 40% dos leitos. Restaurantes e bares também ficaram lotados.

No fim de semana, a reportagem circulou por algumas praias. A maioria dos banhistas não usava máscara nem respeitava o distanciamento social. O que se via eram grupos de famílias, entre quatro a 20 pessoas, aglomeradas na areia da praia ou debaixo de tendas. Não se viu nenhum tipo de fiscalização.

pessoas caminham em praia lotada de turista
Domingo de praia lotada em Santos, na foto detalhe da praia na altura do canal 3. - Alexsander Ferraz/A Tribuna

“Estou horrorizada com tanta gente. Parece o piscinão de Ramos, nunca vi tanta gente assim em um fim de semana normal e em pleno inverno, parece temporada de verão”, disse a aposentada Suely Dias da Silva, 68, que mora em frente à praia da Cocanha, em Caraguatatuba, e que estava com dificuldades para acessar a garagem de sua casa, por causa dos vários veículos estacionados em frente ao seu portão.

O movimento acendeu o sinal de alerta entre os prefeitos da região devido à proximidade do feriado prolongado. O temor é o de uma posterior explosão de casos de Covid-19 nas cidades lotorâneas.

Até a última quarta-feira (2), os quatro municípios registravam 5.546 casos confirmados de Covid-19 com 154 mortes.

Por outro lado, vêm recebendo pressão dos empresários do setor turístico para que o segmento não seja afetado pelas medidas, após permanecerem por cinco meses fechados.

Somente pela rodovia dos Tamoios, principal acesso ao litoral norte, a expectativa é de que 158 mil veículos trafeguem em ambos os sentidos, de acordo com a concessionária. Há ainda outros acessos, como a rodovia Oswaldo Cruz, que liga Taubaté a Ubatuba, e a Mogi-Bertioga, muito utilizada por turistas e veranistas que vão para as praias do sul de São Sebastião.

A Dersa, responsável pelas travessias litorâneas, informou que a quantidade de carros que se dirige a Ilhabela é a mesma de antes da pandemia, ou seja, movimento normal de temporada, quando entram no arquipélago entre 18 mil a 22 mil veículos. Nesta época, uma média de 1,5 milhão de pessoas descem para o litoral norte nos finais de semana das férias de verão.

Durante entrevista na última segunda-feira (31), o governador João Doria (PSDB) disse estar preocupado com a invasão de turistas.

“Houve (no último fim de semana) um número impressionante de pessoas nas praias do litoral de São Paulo, se aglomerando, sem máscaras, de forma inadequada e perigosa. As rodovias tiveram congestionamentos, como se nada tivesse acontecendo, como se fossem férias, como se houvesse razões para celebrar. Não temos o que celebrar, temos que nos preocupar”.

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