Descrição de chapéu Mobilidade Urbana

Apps ajudam no deslocamento e dão autonomia para pessoas com deficiência

Tecnologia pode ser aliada para driblar as más condições das calçadas

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Daniel Batista Fernanda Rosário
Pelotas (RS) e Santos
  • Após 90 dias em quarentena, a arquiteta e consultora em acessibilidade Regina Cohen, 62, tomou coragem e saiu de casa com sua cadeira de rodas em Ipanema, zona sul do Rio de Janeiro. Os cuidados na prevenção contra o novo coronavírus foram somados a obstáculos que já estavam ali desde muito antes da pandemia, como buracos nas calçadas e falta de rampas.

“Eu já usei uma cadeira manual, mas, de alguns anos para cá, devido à deterioração das calçadas, passei a me mover em cadeira motorizada”, diz.As barreiras se estendem ao transporte coletivo. “No metrô, sempre preciso pedir ajuda a um funcionário”, diz, referindo-se à dificuldade de deslocamento nas estações.

Retrato de Regina Cohen
A arquiteta Regina Cohen tem dificuldades com a falta de acessibilidade segura nos transportes coletivos - Arquivo Pessoal

Além de equipamentos mais eficientes que ajudam na locomoção, a tecnologia vem se mostrando uma grande aliada no desenvolvimento de soluções que tornem as cidades mais inclusivas.

O planejamento de rotas acessíveis é uma das soluções proposta pelo aplicativo Biomob, que fornece informações sobre acessibilidade de mais de 6.000 estabelecimentos, como restaurantes, mercados, teatros, hotéis, praças, museus e aeroportos no Brasil e no exterior.

Dentre os dados coletados, estão as condições de acesso e circulação interna, vagas de estacionamento, banheiros acessíveis e recursos para pessoas com deficiência auditiva e visual, segundo Valmir de Souza, 53, idealizador do aplicativo. As informações são inseridas de forma colaborativa por usuários, donos dos estabelecimentos e equipes treinadas pelo Biomob.

Ilustração para caderno de mobilidade urbana - Desafio para PCD
Apps ajudam no deslocamento e dão autonomia para pessoas com deficiência - Kleverson Mariano

Outra proposta, desenvolvida na Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos), no Rio Grande de Sul, é o Projeto Hefestos, que há dez anos desenvolve soluções tecnológicas para pessoas com deficiência. Um dos protótipos é a cadeira de rodas integrada ao aplicativo do Hefestos, pelo qual o usuário pode encontrar recursos acessíveis ao seu redor como rampas de acesso e vaga de estacionamento.

A estudante Samira Silveira, 22, de Pelotas (RS), é cega e diz que locomover-se pela cidade é um desafio. Aplicativos como o Google Maps, que indicam o caminho com avisos sonoros, favorecem a autonomia, mas alguns ajustes ainda são necessários. “Se estou em uma rua, por exemplo, não consigo saber quais as outras ao redor.”

Retrato de Samira Silveira
A estudante Samira Silveira utiliza a acessibilidade de aplicativos de localização para uma maior autonomia nas cidades - Arquivo Pessoal

Nas paradas de ônibus, Samira também precisa pedir ajuda. Pensando nisso, a startup brasileira OnBoard Mobility desenvolveu um sistema de notificação que faz com que o motorista seja alertado sobre a presença de pessoas com deficiência visual no ponto. O usuário envia o aviso por um aplicativo indicando onde está, e o condutor pode parar o veículo identificando-o pelo nome, inclusive. A solução foi contratada em três cidades nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná, e a fase de implementação será a partir de janeiro de 2021.

Para Valmir de Souza, criador do Biomob, a acessibilidade também beneficia idosos, gestantes, mães com carrinho de bebê e obesos.

De acordo com o censo 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), cerca de 45,6 milhões de brasileiros vivem com algum tipo de deficiência.


O conteúdo deste especial foi produzido pelos participantes do Lab 99+Folha de Mobilidade Urbana. Ao longo de dois meses, 30 estudantes do último ano do curso de jornalismo e recém-formados de 21 cidades do Brasil participaram de um programa que envolveu, além de palestras online com especialistas e profissionais da Folha, a elaboração de reportagens com diagnósticos e desafios da mobilidade em tempos de pandemia.

Devido ao risco de contágio pelo novo coronavírus, os integrantes do programa foram orientados a priorizar os canais digitais na produção dos seus trabalhos.

A iniciativa, fruto da parceria da Folha com a empresa de tecnologia em mobilidade urbana 99, busca contribuir para a formação e o aperfeiçoamento de profissionais voltados para a cobertura dessa que é uma das mais urgentes questões no dia a dia das cidades brasileiras. Dentre essas contribuições está a edição inédita do Manual de Jornalismo de Mobilidade Urbana Folha/99, com verbetes específicos sobre o tema.

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