Descrição de chapéu Mobilidade Urbana

Bike vira fonte de renda e projetos sociais ensinam mulheres da periferia a pedalar

Considerado mais seguro pela OMS, transporte por bicicleta ganha espaço na pandemia

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Luli Morante
Aracaju

Ainda no início da pandemia, a OMS (Organização Mundial da Saúde) divulgou o informativo Movendo-se durante o Surto da Covid recomendando os deslocamentos a pé ou de bicicleta como formas mais seguras de se locomover pelas cidades.

Belo Horizonte entendeu o recado e já havia implantado, até julho, 30 km de ciclofaixas emergenciais interligando a região central com as zonas leste e oeste. Em outros países, cidades como Bogotá, Paris e Londres também seguiram a recomendação da OMS.

“As ciclofaixas emergenciais refletem este momento específico da história, no qual temos a bicicleta como alternativa à aglomeração em trajetos de pequena e média distância”, afirma Gaia Lourenço, coordenadora da Ameciclo (Associação Metropolitana de Ciclistas do Recife), projeto criado em 2013 com o objetivo de sugerir alternativas ao transporte urbano.

Bike ganha espaço na pandemia por recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde)
Bike ganha espaço na pandemia por recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde) - Kleverson Mariano

No Recife, a Ameciclo chegou a propor a implantação de ciclofaixas emergenciais durante a pandemia a partir de um projeto de baixo custo baseado no Plano Diretor Cicloviário do Grande Recife, de 2014. “Dos 590 km previstos para serem criados em até dez anos, apenas 20% foram construídos”, diz Gaia. “A Câmara dos Vereadores aprovou três vezes um requerimento, mas serve só como pressão, não tem valor efetivo.”

Como forma de reduzir os riscos na pandemia, em abril, a associação criou uma ação para ciclo-entregadores, distribuindo álcool em gel e equipamentos de segurança, além de oferecer manutenção das bicicletas. “É um modo de trabalho que a gente viu crescer com a chegada do novo coronavírus. Precisamos incluir esses entregadores na mobilidade urbana”, diz Gaia.

O serviço de entregadores por aplicativo aumentou não só no Recife, mas em todo o país. Apesar de não haver um recorte apenas para os ciclistas, estimativa feita pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), divulgada neste ano, apontou que existem 645 mil trabalhadores cadastrados em aplicativos de entregas de refeições somente em São Paulo. Um aumento de 158% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Morador da região metropolitana de Aracaju (SE), Jefferson Santos Brito, 20, é entregador ciclista. Desempregado, vive com a mãe, o irmão e o padrasto, e viu nos aplicativos uma oportunidade de complementar a renda familiar na pandemia. “Precisava ajudar a minha mãe, então comprei uma bicicleta e comecei a fazer entregas.”

Sobre duas rodas, percorre 60 km por dia. “Muitos entregadores falam que o motorista não respeita quem está de bike. Isso acontece porque a bicicleta é um meio oculto no trânsito. Fora da ciclovia é uma luta contra os carros, mas no contexto da pandemia me sinto mais seguro.”

Juno, 24, trabalha como garçonete no restaurante em que Jefferson costuma buscar entregas. Desde setembro, ela voltou a se deslocar de bicicleta. “Neste momento ter bike é um alívio”, afirma.

Visando novas estratégias de geração de renda para mulheres negras e moradoras da periferia, Lívia Suarez, 33, e Maylu Isabel, 25, criaram em Salvador o empreendimento social La Frida Café Bike.

Em 2017, elas lançaram o Preta Vem de Bike, ação que já ensinou mais de 500 mulheres a andar de bicicleta. Durante a pandemia, o La Frida criou um serviço de compartilhamento gratuito de bicicletas para entregadores. “O Compartilhamento La Frida surgiu de uma demanda de mulheres que estavam buscando a alternativa da entrega”, explica Lívia Suarez.

desenho mostra um homem e uma mulher em cima de suas bicicleta
Iniciativas organizam oficinas para ensinar mulheres da periferia a andar de bicicleta - Medevi

O Pedal na Quebrada, que atua em São Paulo, também incentiva mulheres da periferia a se deslocarem de bicicleta. Jô Pereira, cicloativista e fundadora do projeto, explica a necessidade de construir cidades onde a bicicleta seja uma prioridade.

“Garantir o uso da bike como principal meio de transporte na pandemia é viabilizar a segurança dos cidadãos. Além disso, permite construir uma nova cultura de inclusão desse meio de transporte no nosso deslocamento diário."


O conteúdo deste especial foi produzido pelos participantes do Lab 99+Folha de Mobilidade Urbana. Ao longo de dois meses, 30 estudantes do último ano do curso de jornalismo e recém-formados de 21 cidades do Brasil participaram de um programa que envolveu, além de palestras online com especialistas e profissionais da Folha, a elaboração de reportagens com diagnósticos e desafios da mobilidade em tempos de pandemia.

Devido ao risco de contágio pelo novo coronavírus, os integrantes do programa foram orientados a priorizar os canais digitais na produção dos seus trabalhos.

A iniciativa, fruto da parceria da Folha com a empresa de tecnologia em mobilidade urbana 99, busca contribuir para a formação e o aperfeiçoamento de profissionais voltados para a cobertura dessa que é uma das mais urgentes questões no dia a dia das cidades brasileiras. Dentre essas contribuições está a edição inédita do Manual de Jornalismo de Mobilidade Urbana Folha/99, com verbetes específicos sobre o tema.

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