A professora Eurídice Belmonte Gandra, ou Dida, como gostava de ser chamada, era a prova de que a linha da vida tinha muitas nuances.
Dida nasceu em uma família cheia de amor, um sentimento que seguiu seus pais, Paschoale Carmine Belmonte e Philomena Crudo, da Calábria, na Itália, para o Brasil.
Ambos moravam a apenas 50 km de distância e só se conheceram na adolescência, em terras brasileiras.
Paulistana, Dida era a caçula de nove filhos. A criação foi humilde, mas Paschoale depositou os sonhos na filha, a única a cursar universidade. Estudou letras neolatinas na USP e Pedagogia na Faculdade Piratininga. Depois, especializou-se em Francês e Espanhol.
A mesma universidade deu-lhe a oportunidade de encontrar Rui Gandra, estudante de Direito. Casaram-se e tiveram dois filhos. O marido trabalhava como delegado de polícia e Dida lecionava.
A viuvez veio aos 54 anos. Dida ainda perdeu um filho e o neto, o diretor de cinema publicitário Paulo Gandra, à época com 28 anos. “Ela era uma pessoa especial, ponderada e generosa. Sempre ajudou a família. Soube devolver o amor que recebeu dos irmãos”, diz o filho, o jornalista José Ruy Gandra, 63.
Dida morreu dia 26 de setembro, aos 96 anos, enquanto dormia, serena, em casa e perto da família.
Até um dia antes, preservou o sorriso no rosto, que apareceu em muitos momentos ao longo da vida: quando lia, ouvia MPB ou música francesa, ou até mesmo dedilhava no violão “Abismo de Rosas”, um clássico de Dilermando Reis.
O dom para tocar o instrumento estava impregnado na família —entre os irmãos e sobrinhos. Dida deixa um filho, um neto e um bisneto.
“Suas qualidades, como a honestidade, eram salientes. A vida de minha mãe foi uma lição e ela um exemplo de ser humano”, afirma José.
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