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Presidente da Fundação Palmares diz que Marina Silva e Preta Gil se declaram negras 'por conveniência'

Sérgio Camargo afirma ter tirado o nome da ex-ministra da lista de personalidades negras e que nenhum político vivo merece a homenagem

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São Paulo

O presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo, afirmou nesta terça-feira (13) em uma rede social que a ex-ministra do Meio Ambiente e ex-senadora Marina Silva (Rede), os deputados David Miranda e Talíria Petrone (ambos do PSOL-RJ), o ex-deputado Jean Wyllys e a cantora Preta Gil declaram-se negros "por conveniência" e que nenhum político vivo merece homenagem da institutição.

O presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo - Pedro Ladeira/Folhapress

Segundo Camargo, Marina Silva foi excluída da lista de personalidades negras da Fundação Palmares porque "não tem contribuição relevante para a população negra do Brasil".

"Disputar eleições não é mérito. O ambientalismo dela vem sendo questionado e não é o foco das ações da instituição", escreveu Camargo no Twitter.

Para o presidente da fundação, criada em 1988 com o objetivo de preservar a cultura negra, Marina Silva "autodeclara-se negra por conveniência política".

"Não é um caso isolado. Jean Willys, Talíria Petrone, David Miranda (branco) e Preta Gil também são pretos por conveniência. Posar de "vítima" e de "oprimido" rende dividendos eleitorais e, em alguns casos, financeiros", disse.

Marina não é a primeira a ter seu nome retirado da lista por determinação de Camargo. No começo do mês, ele informou que retirou o da deputada federal e candidata do PT à Prefeitura do Rio, Benedita da Silva. ​

Também excluiu o nome de José Francisco dos Santos, mais conhecido como Madame Satã, que ficou famoso como um dos primeiros travestis artísticos do teatro brasileiro, mas que tinha longa ficha criminal —o que foi usado como justificativa para a retirada.

Além de negar reiteradamente a ocorrência de racismo estrutural no país, Camargo já defendeu o fim do feriado da Consciência Negra e a extinção do movimento negro. ​

Em junho, em uma reunião gravada, ele chamou o movimento negro de "escória maldita", disse que Zumbi era um "filho da puta que escravizava pretos".

No ano passado, Camargo disse que a escravidão beneficiou os descendentes dos negros escravizados que vivem no Brasil. "A escravidão foi terrível, mas benéfica para os descendentes. Negros do Brasil vivem melhor que os negros da África", afirmou.

Parte das pessoas atacadas pelo presidente da Fundação Palmares reagiu.

À coluna Mônica Bergamo Marina disse que "quem julga o valor da contribuição de uma pessoa à sociedade é a própria sociedade e a sabedoria da história, não é alguém que se apega ao negacionismo para ter 15 minutos de atenção de sua bolha e da mídia".

"Parafraseando Mario Quintana, existe muita gente atrapalhando os caminhos do respeito à diversidade e à democracia, 'eles passarão, nós passarinho'", declarou.

O partido da ex-ministra, o Rede Sustentabilidade, divulgou uma nota de repúdio: "A Rede Sustentabilidade vem a público repudiar tal ataque a nossa história, em especial à história dos negros no país, à nomeação de pessoas a quem falta competência para compreender e cumprir a missão institucional dos órgãos para os quais foram nomeados".

Segundo o texto, a opinião de Camargo "não tem a menor relevância para os critérios de quem a reconheceu como digna dos prêmios, títulos e reconhecimentos". "Mas trata-se de lamentar a degradação da gestão pública em nosso país, o desmonte de nossas conquistas sociais, culturais e econômicas até aqui, o gasto de nossos impostos com a remuneração de uma condução tão medíocre de instituições que têm papéis muito importante na nossa organização institucional, que pertence a todo o povo brasileiro e não só aos eleitores e seguidores do atual governante", afirmou o partido.

O ex-deputado Jean Wyllys, que atualmente é professor nos Estados Unidos, classificou Camargo como "desqualificado".

"As decisões administrativas de um desqualificado não mudam a maneira como me identifico tampouco a etnia de meus antepassados por parte da família de meu pai, fator sobre o qual ele não tem nenhuma autoridade para se manifestar. Eu sigo sendo o que sou", afirmou em rede social.

Para a deputada federal Talíria Petrone, Sérgio Camargo "desvia a função primordial do órgão" desde que assumiu a presidência por, segundo afirmou, "atacar a memória dos que vieram antes de nós na luta contra o racismo estrutural".

"A postura de Sérgio Camargo —baseada em arroubos autoritários típicos do bolsonarismo— definitivamente não condiz com o cargo que ocupa. Não é este homem, com esta postura que reproduz o racismo e envergonha nossa história de resistência, que irá questionar minha realidade enquanto mulher negra. Está mais do que na hora de devolver a Fundação Cultural Palmares ao povo, ao qual ela deveria servir", disse a parlamentar no Twitter.

A deputada Benedita da Silva também publicou críticas. "É um crime o que está acontecendo no país, sobretudo na Fundação Palmares. O atual presidente continua perseguindo lideranças negras que não fazem parte da extrema direita. Isso é uma mancha na história da luta antirracista. É inadmissível que continue acontecendo", disse.

O deputado David Miranda defendeu a saída de Camargo da fundação e disse que está processando o presidente do órgão pelos "reiterados ataques racistas que faz contra mim".

Em junho, uma ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ) rejeitou pedido do partido Rede Sustentabilidade para afastá-lo do cargo.

"A permanência [de Camargo] envergonha todo brasileiro e brasileira consciente da luta do povo negro contra séculos de racismo estrutural e opressão. O presidente da Fundação é um inimigo da luta antirracista, completamente despreparado e indigno do cargo que ocupa na instituição que leva o nome de um dos maiores heróis da história brasileira: Zumbi dos Palmares. Sérgio Camargo vai para a lata de lixo da história", disse Miranda, em nota.

A cantora Preta Gil não se manifestou.

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