Polícia mata 17 em operações contra milícias no Rio de Janeiro

Suspeitos integravam, segundo as investigações, um dos maiores grupos criminosos do país

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São Paulo e Rio de Janeiro

Em um intervalo de 24h, 17 suspeitos de integrar o maior grupo miliciano do Rio de Janeiro foram mortos em duas operações realizadas pela Polícia Civil.

A última ocorreu na noite desta quinta-feira (15), quando a corporação, em conjunto com a PRF (Polícia Rodoviária Federal), montou um cerco e interceptou quatro carros ocupados por supostos milicianos em Itaguaí, na Região Metropolitana.

Segundo a polícia, os 12 criminosos que estavam nos veículos reagiram e foram mortos. Entre eles, está o ex-policial militar Carlos Eduardo Benevides Gomes, conhecido como Bené. Apenas um policial ficou ferido durante a operação.

Os outros 11 suspeitos mortos, de acordo com a corporação, atuavam como seguranças de Bené. Foram apreendidos oito fuzis, pistolas, munição e aparelhos de comunicação.

Bené é ligado a Wellington da Silva Braga, o Ecko, apontado como o chefe da maior milícia do estado. Segundo as investigações, Benevides era a liderança do grupo na região de Itaguaí e agia de forma extremamente violenta, ameaçando, extorquindo e torturando moradores.

Em 2018, o Ministério Público do Rio denunciou e pediu a prisão de Bené, acusado de coordenar as extorsões e ser o responsável pelo aparelhamento do grupo.

A Promotoria afirma que a milícia de Itaguaí encontra-se em processo de expansão para a Costa Verde do estado, onde ficam os municípios de Angra dos Reis e Paraty.

Segundo o Ministério Público, a milícia chefiada por Ecko opera em Itaguaí com bases em condomínios do programa 'Minha Casa, Minha Vida', onde controla a vida dos moradores e dita as regras.

De acordo com as investigações, o grupo atua por meio de extorsões, exploração de jogos de azar, transporte em motos e vans irregulares, venda de água mineral e de cigarros, se valendo da violência armada.

Morto em confronto em em Itaguaí (RJ), na Baixada Fluminense, o ex-PM Carlos Eduardo Benevides Gomes era um dos criminosos mais procurados do Rio
Morto em confronto em em Itaguaí (RJ), na Baixada Fluminense, o ex-PM Carlos Eduardo Benevides Gomes era um dos criminosos mais procurados do Rio - Reprodução

A operação desta quinta-feira foi realizada por uma força-tarefa criada pela Polícia Civil para tentar atingir as milícias no período eleitoral e reduzir a interferência no pleito.

O grupo foi montado depois que dois candidatos a vereador em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, foram assassinados em um intervalo de 11 dias.

As milícias têm forte atuação na região, onde só podem fazer campanha os candidatos apoiados pelos grupos criminosos.

Segundo a Polícia Civil, o objetivo é que a força-tarefa contra as milícias continue a atuar após o fim das eleições.

Desde o início da semana, a corporação fez pelo menos seis operações contra grupos milicianos. Na quarta-feira (14) à noite, cinco suspeitos foram mortos durante forte troca de tiros com a polícia na localidade conhecida como KM 32, em Nova Iguaçu.

Os investigadores haviam recebido a informação de que Danilo Lima, o Tandera, homem de confiança de Ecko, estava na localidade.

Nesta sexta-feira (16), a corporação prendeu 13 durante nova operação na cidade para sufocar o braço financeiro do grupo chefiado por Ecko.

Os policiais estouraram uma farmácia que vendia irregularmente medicamentos de uso controlado e que era utilizada, segundo as investigações, para lavar dinheiro do crime.

“Nada adianta a gente tirar o miliciano se não quebrar o braço financeiro da quadrilha. Ela vai continuar existindo. Então tem que trabalhar nas duas frentes, na prisão dos milicianos e para quebrar a estrutura financeira do negócio”, afirmou a jornalistas o subsecretário operacional da Polícia Civil, Rodrigo Oliveira.

Oliveira também disse que a força-tarefa irá convocar determinados candidatos que, segundo denúncias recebidas pelo TRE, têm tido privilégios na realização de campanhas em áreas de milícia.

“É razoável supor que algumas dessas ações da milícia tentam de alguma forma se traduzir num voto de cabresto. O que a gente tem feito, recebendo essas informações ou essas denúncias, é buscar a pessoa que tem o privilégio de ser o único ator naquele cenário para que ele se explique porque só ele pode fazer aquele tipo de campanha.”

A intensificação das operações contra as milícias ocorre na esteira de uma série de mudanças nas chefias de departamento da Polícia Civil, desde que Cláudio Castro (PSC) se tornou governador interino. O delegado Allan Turnowski assumiu a corporação em setembro.

Os grupos paramilitares são geralmente formados por quadros das polícias Militar e Civil e dos Bombeiros. No estado do Rio, concentram-se principalmente na zona oeste da capital e na Baixada Fluminense.

No início de seu desenvolvimento, há pelo menos duas décadas, as milícias adentravam as localidades com a falsa promessa de garantir segurança e combater o tráfico. Hoje, estão associadas a determinadas facções, especialmente o TCP (Terceiro Comando Puro).

Historicamente, os grupos paramilitares obtiveram lucros em cima da extorsão dos moradores de comunidades, por meio da venda de segurança, de gás e do acesso à TV por assinatura.

Nos últimos anos, no entanto, estenderam seus tentáculos e hoje cobram por consultas em hospitais públicos e até para enterrar o lixo em aterros construídos por eles.

A venda de imóveis irregulares, como os dois prédios que caíram em abril de 2019 na comunidade da Muzema, na zona oeste da capital, representa outra perna da sustentação financeira da organização criminosa.

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