Descrição de chapéu
C. Pasquali, I. Henriques, C. Betti, L. Bahia e L. Temer

Violência sexual é questão de gênero e idade

No Dia da Menina, é preciso lembrar que a criança estuprada e grávida no Espirito Santo é o padrão, não a exceção

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“É pela vida das mulheres. A frase se repete em manifestações que denunciam os alarmantes números de feminicídio, as mortes por aborto inseguro e outras violências sistemáticas de que são vítimas as mulheres brasileiras.

Em agosto, entretanto, foi a vida de uma capixaba de 10 anos que esteve em risco por causa de violências de gênero.

Vítima de estupros recorrentes, a menina eventualmente engravidou. Grupos extremistas divulgaram sua localização e tentaram impedir a interrupção da gestação que lhe ameaçava a vida. O Brasil, estarrecido, parecia descobrir que meninas, assim como mulheres, também podem ser estupradas.

O estarrecimento convém, dado o hediondo do(s) crime(s), mas falta entender que esse não é um caso isolado.

A violência sexual é um problema de gênero —mas é também uma questão de idade.

Dentre as vítimas de estupro do sexo feminino, 72% são meninas com menos de 18 anos. O maior risco está na faixa de 10 a 13 anos, que concentra 28,6% dos estupros. É preciso repetir: entre aquelas que são estupradas no Brasil, quase um terço tem de 10 a 13 anos. A menina do Espírito Santo não é exceção, é padrão. Quando começaremos a bradar pela vida das meninas?

Mulher parda de máscara segura cartaz em que se lê "crianças não são mães"; por trás, se vê dois balões roxos
Mulheres protestam em Brasília após tentativa de impedir aborto em criança de 10 anos que engravidou após estupro - Pedro Ladeira-20.ago.20/Folhapress

Propomos começar hoje. Hoje, 11 de outubro, Dia Internacional da Menina. Desde 2012, a data estabelecida pela ONU tenta chamar atenção para a urgência de se encararem as questões de gênero também a partir de uma lente etária. Meninas sofrem violências específicas e sofrem de forma distinta as mesmas violações que vitimam mulheres.

Abuso e exploração sexual, casamento infantil, gravidez na adolescência —uma busca rápida no Google mostra o quanto essas feridas estão latejando nos corpos das meninas brasileiras. Quantas mulheres adultas poderiam prescindir de ajuda médica, de delegacias especializadas em atendimento à mulher e até mesmo de abortos se tivéssemos nos ocupado das meninas que elas um dia foram?

Quando nós fazemos a lição de casa, elas transcendem. A proteção dos direitos das meninas e a devida oferta de oportunidades deságua em figuras da envergadura de Malala e Greta, expoentes de uma onda crescente de meninas ativistas que, cada vez mais novas, estão mudando o mundo.

Precisam, porém, de campo fértil. Precisam que o dia de hoje cresça, que o mês de outubro seja tão repleto de homenagens e debates e especiais e marchas quanto março já é. Para que o futuro seja mesmo feminino, precisamos reconhecer que o feminismo começa com as meninas.

Carolina Pasquali e Isabella Henriques são diretoras executivas do Instituto Alana; Cynthia Betti é diretora executiva da Plan International Brasil; Letícia Bahia é coordenadora executiva do Girl Up Brasil e Luciana Temer é presidente do Instituto Liberta

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