Funcionários administrativos da USP questionam exigência de retorno ao trabalho presencial

Medida atinge parte dos 13.700 trabalhadores; sindicato fará assembleia para decidir sobre greve

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Parte dos 13.700 funcionários de setores técnico-administrativos da USP terão de retomar as atividades presenciais a partir de 6 de novembro. A determinação não inclui os docentes, que só retornarão aos campi em 2021.

Há duas semanas, a reitoria decidiu mudar o plano de retorno gradual das atividades presenciais, que havia sido apresentado no final de agosto. Segundo o Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP), que representa a categoria, isso foi feito sem diálogo.

No dia 5 de novembro, às 14h, os servidores discutirão em assembleia virtual a possibilidade de entrarem em greve sanitária —quando o motivo é a existência de um risco à saúde ou segurança do trabalhador presente no ambiente de trabalho— a partir do próximo dia 9.

O novo plano foi elaborado por seis dirigentes da USP escolhidos pela reitoria. “Em nenhum momento a reitoria aceitou receber o sindicato e não há representação de funcionários no grupo [de dirigentes]. Nós solicitamos reunião várias vezes e fomos ignorados. Não houve nem resposta à nossa solicitação”, afirma o diretor do Sintusp, Reinaldo Souza.

Ao longo da pandemia do novo coronavírus, na maior parte dos setores da USP foi adotado o trabalho remoto. As exceções ficam por conta dos serviços essenciais, como nos hospitais universitários e alguns laboratórios de pesquisa, por exemplo.

Na versão anterior do plano, o retorno se dava de maneira gradual, não era compulsório —dependia de acordo entre a chefia e o funcionário—, e tinha como uma das diretrizes a manutenção do teletrabalho, quando possível.

Segundo a categoria, o plano tem problemas graves e importantes. “Não há nenhuma justificativa no retorno presencial a partir do elemento da necessidade do trabalho, porque está sendo cumprido remotamente. Como as aulas não vão voltar, a demanda de atendimento é baixa”, diz Souza.

Outro questionamento é a categorização que a reitoria da USP fez de fatores de risco, em contradição com o que tem sido disseminado pela área médica. Para a instituição, idosos acima de 60 anos não são considerados de risco, assim como doentes crônicos.

Pelo documento, hipertensos, diabéticos e pneumopatas só serão preservados se a doença for considerada descompensada. Também poderão continuar em home office os imunodeprimidos e as grávidas, se a gestação for de risco.

“Se os grupos de risco fossem preservados e o retorno pudesse ser discutido nas unidades a partir das necessidades reais do trabalho, daria para debater sem precisar de medidas como a greve sanitária”, diz Souza.

“Da maneira como o plano foi elaborado, sem discussão prévia com o sindicato, sem preservar idosos, grávidas e doentes crônicos e tornando o retorno compulsório, o sindicato não viu alternativa a não ser a de defender ou indicar para a categoria a necessidade de preservar a vida.”

Um levantamento extraoficial elaborado pelo Sintusp aponta que 13 trabalhadores da USP, entre efetivos e terceirizados, já morreram em decorrência da Covid-19.

Segundo a Secretaria Estadual da Saúde, São Paulo registrou até esta terça-feira (3) 39.364 mortes e 1.118.544 casos confirmados do novo coronavírus.

Dos óbitos, 76,4% estão concentrados em pacientes com 60 anos ou mais. As cardiopatias, o diabetes e as pneumopatias estão entre os principais fatores de risco associados à mortalidade por Covid-19 – 23.579 (59,9%), 17.005 (43,2%) e 3.267 (8,3%), respectivamente.

A Congregação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas emitiu uma nota contra a medida da reitoria da USP. De acordo com o texto, o caráter compulsório do retorno presencial proposto irá expor os funcionários a um risco desnecessário, uma vez que o trabalho vem sendo desempenhado com eficiência.

Outro lado

A USP afirma que está previsto o retorno de 20% dos servidores técnicos e administrativos em cinco dos oito campi, que já estão com cenário epidemiológico mais favorável.

"A despeito das aulas de graduação e de pós-graduação continuarem a ser ministradas de forma remota, as atividades de pesquisa e as administrativas da Universidade não estão suspensas", diz parte do texto.

A reportagem questionou a instituição sobre a volta de idosos com 60 anos ou mais e grávidas, além de doentes crônicos, como hipertensos e diabéticos, cujo home office só será mantido se a doença estiver comprovadamente descompensada. Sobre esses grupos, não houve resposta.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.