Letalidade por Covid-19 de doentes reumáticos foi maior que a média do país, diz estudo

Primeira fase do levantamento da Sociedade Brasileira de Reumatologia contemplou 338 pacientes

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São Paulo

Um estudo da Sociedade Brasileira de Reumatologia, divulgado à Folha com exclusividade, mostra que a taxa de letalidade por Covid-19 em doentes reumáticos superou a taxa no Brasil como um todo.

A constatação vem da análise de dados preliminares relacionados a 338 pacientes reumáticos infectados pelo novo coronavírus, de ambos os sexos, com idades entre 31 e 57 anos —81,4% eram mulheres— de Recife (PE), São Paulo, Campinas (SP), Manaus (AM), Rio Branco (AC), João Pessoa (PB), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte, Juiz de Fora (MG), Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), Fortaleza (CE) e Brasília.

A coleta de informações da primeira fase do levantamento ocorreu entre 20 de maio e 24 de julho de 2020. A pesquisa, que contempla 1.200 pacientes no total, levou seis meses para ser feita, mas atualmente a entidade possui apenas a análise das oito primeiras semanas.

Cláudia Marques, coordenadora nacional do estudo, professora de reumatologia da Universidade Federal de Pernambuco e gerente de ensino e pesquisa do Hospital das Clínicas da instituição, explica que, quando fez a comparação, a taxa de letalidade por Covid-19 em reumáticos estava em 5,8%, contra 3% no país. “Em relação à morte, estão associados o uso do corticoide e da ciclofosfamida (indicado para tratar doenças reumáticas) venosa", diz.

Segundo Marques, a ideia quando a pandemia começou era de que os pacientes com doenças reumáticas teriam uma evolução em relação à Covid-19 muito parecida com a da população em geral, e o agravamento da doença dependeria de outras comorbidades.

Dos pacientes, 121 (35,8%) relataram hipertensão arterial, 39 (11,5%) diabetes e 53 (15,7%) obesidade —14 (4,4%) afirmaram que são fumantes.

“A análise das oito primeiras semanas de estudo mostrou que não é bem assim. Os pacientes com doenças reumáticas, de uma maneira geral, não têm evolução mais grave, mas aqueles que tomam remédios que baixam muito a imunidade, como imunossupressores e os corticoides em doses um pouco mais altas, apresentam desfechos piores.”

“Eles têm maior frequência de admissão na UTI, entubação e internação, além da morte. São dados que nos alertam para um cuidado maior com os pacientes imunossuprimidos em relação à infecção pelo Sars-CoV-2”, afirma a médica.

Em relação ao diagnóstico de doenças reumáticas, o lúpus e a artrite reumatoide foram as mais frequentes, citadas por 111 (32,9%) e 96 (28,4%), respectivamente.

O levantamento aponta que houve necessidade de atendimento de 160 pacientes (48%); desses, 110 (68,7%) foram internados, 50 (31,2%) necessitaram de UTI, 35 (21,8%) foram submetidos à ventilação mecânica e 28 (17,5%) morreram.

Dos mortos, 24 (85,7%) eram mulheres com idade média de 53 anos, 11 estavam com lúpus, 4 tinham artrite reumatoide, 2 espondiloartrite, 5 esclerose sistêmica e 6 sofriam de outras doenças. Em relação a medicamentos, sabe-se que 5 (17,9%) usavam metilprednisolona e outros 5 (17,9%), ciclofosfamida.

Embora o risco de agravamento da Covid-19 aumente com o imunossupressor mais potente, o estudo mostra que os imunobiológicos da classe anti-TNF (fator de necrose tumoral) protegem contra um quadro mais grave da infecção.

Marques alerta que é importante seguir o protocolo de segurança contra a infecção pelo novo coronavírus. A pesquisa mostrou que apenas 202 (60%) dos pacientes respeitaram o distanciamento físico e uso de máscaras.

“É possível que o número de doentes tenha sido muito mais pela falta de cuidados do que pelo tratamento propriamente dito”, ressalta.

Dos pacientes, 159 (47%) relataram contato próximo com caso confirmado de Covid-19, sendo 104 (30,8%) dos eventos ocorridos em casa.

Quanto à vida profissional, o estudou apontou que 186 (55%) estavam ativos no momento da infecção pelo novo coronavírus 126 (37,3%) referiram profissão com contato direto com o público (atendimento, saúde, segurança e educação). Entre os inativos, 233 (69%) eram aposentados ou afastados do trabalho pela doença reumática.

Os sintomas de Covid-19 mais citados pelos pesquisados foram cefaleia, tosse e febre (51,2%), por 196 (58%), 191 (56,5%) e 173 (51,2%), respectivamente.

Dos 338, 12 pacientes eram assintomáticos e tiveram RT-PCR positivo para o novo coronavírus. A duração média dos sintomas foi de 16 dias e 102 (30,2%) disseram que ainda apresentavam sinais da doença no início do estudo.

Todos os incluídos no levantamento eram casos confirmados de Covid-19 segundo critério do Ministério da Saúde e a maioria (76,8%) foi diagnosticada através de exame laboratorial.

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