Descrição de chapéu trânsito

Motorista atropela ciclista na zona oeste de SP e foge sem prestar socorro

Vítima era ativista e pesquisadora de mobilidade urbana; 24 ciclistas foram mortos este ano na cidade

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Thiago Amâncio Ana Carla Bermúdez
São Paulo | UOL

Um motorista atropelou e matou uma ciclista na madrugada deste domingo (8) na avenida Paulo VI, na zona oeste de São Paulo, e fugiu sem prestar socorro.

A cena foi presenciada por Adriana Braga, enfermeira e policial militar de folga, passava pelo local quando percebeu uma movimentação. Ela conta que não chegou a presenciar o atropelamento, mas decidiu parar para prestar assistência ao ver a ciclista caída no chão. Marina Kohler Harkot, 28, não resistiu ao atropelamento e morreu no local.

"Estava passando de carro com um amigo e vi ela já caída na via. Dois médicos também pararam para tentar socorrer", conta. Adriana acionou o Samu e a Polícia Militar, mas, segundo ela, a ciclista já estava sem vida.

Pouco depois, de acordo com Adriana, um motoqueiro que disse ter seguido um Hyundai Tucson após ver o carro atingir a ciclista e, em seguida, fugir, apareceu no local. Ele informou o que seria a placa do veículo.

O caso foi registrado no 14º Distrito Policial (Pinheiros).

Cicloativista, feminista e pesquisadora de mobilidade urbana, Harkot tinha a bicicleta como seu principal meio de locomoção. Em 2018, obteve o título de mestre pela Universidade de São Paulo, com a dissertação “A bicicleta e as mulheres: mobilidade ativa, gênero e desigualdades socioterritoriais em São Paulo”.

Marina Kohler Harkot, pesquisadora de gênero e mobilidade urbana, em palestra em 2017
Marina Harkot, pesquisadora de gênero e mobilidade urbana, em palestra em 2017 - Youtube/Reprodução

Ela também foi coordenadora da Ciclocidade (Associação de Ciclistas Urbanos de SP), deu aulas na Escola da Cidade e foi consultora de projetos no Banco Mundial, além de ter feito parte do Conselho Municipal de Trânsito e Transporte.

De janeiro a setembro deste ano, 567 pessoas foram mortas no trânsito na cidade de São Paulo, segundo informações do Infosiga, do governo paulista. Desse total, 24 eram ciclistas.

O atropelamento ensejou reações de ativistas e políticos. O candidato a prefeito Jilmar Tatto (PT) afirmou que "a cidade perde muito com sua morte".

"É com muita tristeza que recebo a notícia do falecimento da Marina Hakort, ciclista muito importante na luta pela mobilidade ativa e igualdade de gênero em São Paulo. Ela foi mais uma vítima da violência no trânsito e perdeu a vida após ser atropelada na noite de ontem", escreveu.

"Marina foi muito importante na época da criação do Conselho Municipal de Transportes e muito contribuiu com sua tese sobre mobilidade ativa e gênero. Minha solidariedade à família e amigos. A cidade perde muito com sua morte", completou.

O também candidato Guilherme Boulos (PSOL) prestou solidariedade à família. "Marina Harkot, ativista do ciclismo em SP que contribuiu com a construção do nosso programa, faleceu nesta madrugada, vítima de atropelamento quando andava de bicicleta. O motorista covarde fugiu. Minha solidariedade aos familiares e amigos e vamos levar a luta de Marina adiante!"

A deputada federal Sâmia Bonfim (PSOL) também prestou solidariedade. "Muito triste com a notícia do falecimento da querida Marina Harkot. Jovem pesquisadora e ativista em defesa da mobilidade urbana, Marina foi vítima da violência no trânsito. Aos familiares, colegas e amigos, expresso meus sentimentos de profundo pesar. Contem comigo na luta por justiça. Marina presente!", escreveu em rede social.

A Ciclocidade (Associação dos Ciclistas Urbanos de SP), em nota, disse: "Que o sorriso e a garra e Marina esteja com todes neste momento de luto."

A arquiteta Carol La Terza, amiga de Marina, diz que a ciclista estava voltando para casa, na noite de sábado, após ter visitado uma outra conhecida. "Ela costumava fazer esse caminho, era o preferido dela", diz.

Carol, que também é cicloativista, conta que conheceu Marina pedalando. "Oito anos atrás eram poucas mulheres que pedalavam em São Paulo. Ficamos muito amigas de cara e meio que viramos unha e carne uma da outra", diz.

Ela descreve Marina como uma pessoa "brilhante, querida e carismática". "Só machuca mais o fato de a gente perder uma das melhores pessoas dessa pauta da mobilidade, e desse jeito, ainda por cima".

A arquiteta diz que a perda da amiga será sentida por toda a rede de cicloativistas de São Paulo e afirma que vai tirar forças para continuar batalhando pela pauta.

"Como mulher e como ciclista, vou continuar pedalando. Não vou sair da rua de jeito nenhum. Acho que é o que a Marina faria", diz.

Um grupo de ciclistas realizou uma manifestação na tarde deste domingo (8) em homenagem à Marina. O ato, ocorrido na praça do Ciclista, na avenida Paulista, também serviu de protesto contra as mortes no trânsito.

Em 2011, o empresário Antonio Bertolucci morreu aos 68 anos de idade após ser atropelado por um ônibus de turismo quando andava de bicicleta na alça de acesso à av. Paulo VI, na mesma região onde morreu Harkot neste domingo.

Bertolucci era acionista e presidente do Conselho de Administração do Grupo Lorenzetti, fabricante de duchas e chuveiros.

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