Polícia prende fiscal do Carrefour por participação no assassinato de Beto Freitas

Esta é a terceira prisão do caso; os dois seguranças terceirizados do mercado foram presos em flagrante

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Porto Alegre

A Polícia Civil prendeu mais uma pessoa ligada à morte de Beto Freitas, 40, assassinado por espancamento em uma loja do Carrefour em Porto Alegre.

A prisão preventiva da fiscal Adriana Alves Dutra ocorreu na tarde desta terça-feira (24). É ela quem aparece na filmagem vestindo uma blusa branca ao lado dos agressores.

A delegada Vanessa Pitrez, do Departamento de Homicídios, afirmou que a participação de Dutra foi decisiva, porque depois se verificou que ela tinha posição de comando. "A lei contempla como coautora a pessoa que tem poder de evitar e não o fez."

Dutra se apresentou à polícia. Segundo Pitrez, ela pode ser presa porque é eleitora de um município onde não haverá eleição no próximo domingo (29).

Procurada pela Folha, a defesa da fiscal disse que não se manifestaria.

Esta é a terceira prisão do caso. Os dois terceirizados do Grupo Vector que atuavam no Carrefour foram presos em flagrante após a morte. A Justiça converteu a prisão de ambos em prisão preventiva.

Os dois investigados, que vêm sendo identificados como seguranças, também cumpriam a função de fiscais no supermercado.

Dutra é investigada por homicídio doloso triplamente qualificado. Inicialmente, ela não foi localizada em sua residência, mas foi informada por telefone, por meio de sua defesa, do mandado de prisão expedido e se apresentou à polícia.

Em depoimento, Adriana Alves Dutra relatou episódios anteriores de conflito com Beto Freitas no Carrefour. A polícia investiga se de fato há incidentes anteriores.

Os policiais também apuram se a funcionária mentiu no depoimento dado no mesmo dia da morte, tomado como parte do auto de prisão em flagrante dos seguranças.

Ela disse que um cliente tentou apaziguar a agressão. O suposto cliente, porém, era o funcionário temporário Giovane Gaspar da Silva, policial temporário que estava em seu primeiro dia de “bico” no mercado.

Segundo novo depoimento, dado na tarde desta terça, Adriana afirmou que havia dito que o funcionário era cliente do local pois, como tinha retornado havia pouco de férias, não sabia que ele trabalhava no supermercado.

A fiscal pode responder por falso testemunho, se ficar comprovado ao final do inquérito que ela mentiu. A delegada Roberta Bertoldo disse que investiga, além do falso testemunho, omissão de socorro e racismo.

Adriana Alves Dutra disse ainda que Beto teria empurrado uma cliente dentro da loja, o que não ficou comprovado até o momento com as imagens das câmeras internas do mercado.

Um motoboy que filmou as agressões disse que a fiscal do Carrefour feriu a própria mão, afirmando que Beto havia cortado seu dedo. “Ela pegou a unha dela e começou a forçar no dedo. Não tinha machucado, eu olhei bem. Me chamou atenção ela tentar machucar a própria mão”, disse.

A Folha obteve depoimento de outra funcionária que também apresenta indícios de contradições. No depoimento, a mulher afirma que Beto a teria “encarado”. Depois, que ele a teria intimidado com “olhar agressivo” e, por fim, que teria dito algo que ela não entendeu porque ele usava máscara no momento.

A funcionária disse que, então, se afastou e ele teria feito um sinal que ela não soube interpretar. Em imagens obtidas pela Folha, ele parece estar sinalizando com o polegar para baixo.

Perguntada pela polícia se o gesto foi ofensivo, ela disse que não. Entretanto, quando questionada sobre por que Beto foi acompanhado pelos seguranças até a saída, diz supor que foi porque ele a teria importunado.

Os seguranças optaram por não dar depoimento à polícia após serem presos em flagrante, recorrendo ao direito constitucional de permanecerem em silêncio.

A morte de Beto Freitas já tem sido considerada mais violenta que a de George Floyd, nos Estados Unidos. Beto Freitas foi velado e sepultado no último sábado (21) no cemitério São João, em Porto Alegre, sob pedidos de justiça e fim do racismo.

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