Santa Catarina tem avanço de Covid-19 e Florianópolis está sob risco 'gravíssimo'

Além da capital, Joinville e Blumenau estão entre cidades com mais casos

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Porto Alegre

Quando os shoppings de Santa Catarina reabriram as portas em 22 de abril e chamaram a atenção do país, o estado somava 1.115 casos confirmados de Covid-19. Agora, em um cenário de praias lotadas e relaxamento do distanciamento social em todo o estado, já são 268.644 casos até a última quinta-feira (5), com 2.007 novos casos diários nas últimas 24 horas.

“Estamos atentos ao aumento de casos, mas, se a tendência é de piora ou estabilidade, veremos nas próximas semanas”, afirma Maria Cristina Willemann, epidemiologista do Centro de Operações do estado.

A região de Florianópolis está sob risco potencial gravíssimo, com a cor vermelha no mapa estadual de monitoramento. A maioria das regiões está sob alerta de potencial grave (laranja), mas uma matriz de risco usada internamente pela Secretaria da Saúde indica que outras regiões podem se agravar na próxima semana. A capital é a segunda com mais casos —Joinville é a primeira e Blumenau, a terceira.

Rua lotada em Florianópolis, Santa Catarina, em Maio
Rua lotada em Florianópolis, Santa Catarina, em Maio - Eduardo Valente/AFP

Já é possível afirmar que a capital catarinense vive a chamada segunda onda da Covid-19, segundo Oscar Bruno Romero, professor de doenças infecciosas e vacinas do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

“Quando se observa por semanas seguidas uma diminuição de casos como ocorreu em setembro e, sem mudanças nas circunstâncias, passa a ocorrer um aumento constante, há uma segunda onda. Em um gráfico com casos, observa-se claramente as duas ondas”, diz.

De acordo com o pesquisador, Florianópolis ainda não chegou ao topo desta segunda onda, mas os casos não param de crescer. Especialistas consideram que a pandemia chegou ao primeiro pico em 20 de julho, quando havia 2.157 casos. Na sexta-feira (6) eram 22.124 casos totais na capital, um aumento de 925%. A cidade chegou a ficar um mês sem novos óbitos, de 4 de maio a 5 de junho. Agora são 171 mortes no total.

“Certamente o cidadão de Santa Catarina tem limites para se sustentar e sofre financeiramente. Por isso, é preciso que o poder público faça seu apelo para relembrar que nada mudou, que estamos no meio de uma pandemia e temos que manter precauções”, afirma o professor.

Nesta sexta (6), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) participou de uma solenidade de formatura da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Florianópolis. O ato desrespeitou a portaria estadual publicada em 23 de outubro que proíbe eventos sociais em regiões de risco gravíssimo, como a capital catarinense. Em regiões de risco “grave”, eventos podem ser realizados com até 30% do espaço.

A Secretaria Municipal de Saúde informou que a Vigilância Sanitária abrirá um processo administrativo para verificar se os protocolos no evento com Bolsonaro “foram seguidos conforme autorizado”. A Secretaria de Estado da Saúde informou que as portarias definem critérios para realização de eventos de acordo com as regiões e que as responsabilidades sobre as fiscalizações são das vigilâncias estadual e municipal.

Questionada, a Presidência da República respondeu que a PRF deveria ser procurada. A Polícia Rodoviária Federal não retornou o contato até a publicação desta reportagem.

Joinville, campeã de casos no estado, tem um total de 24.934 infecções confirmadas. A prefeitura da cidade afirma que uma das razões para o número elevado é o número de testes realizados —foram feitos 100 mil testes desde o início da pandemia em uma população de 569.645 habitantes. Para comparação, Florianópolis realizou 49.303 testes —a população da cidade é de 477.798 habitantes.

Mas, para o secretário de Saúde de Joinville, Jean Rodrigues da Silva, o aumento está relacionado ao relaxamento das regras. Por ora, o município não recuará da reabertura mas também não flexibilizará mais.

Segundo Silva, todas as pessoas com resultados positivos para Covid-19 precisam ficar em isolamento. Já foram multadas 113 pessoas que não respeitaram a quarentena. A multa é no valor de R$ 3.300.

Blumenau, que precisou cancelar a tradicional Oktoberfest deste ano, é a terceira cidade do estado com mais casos em Santa Catarina. No ano passado o evento reuniu mais de 500 mil pessoas.

São 14.859 casos confirmados na cidade. Foram realizados 65.000 testes para detectar o coronavírus —a população é de 343.715 habitantes.

Segundo a prefeitura, a situação é estável e chegou a ter 100% de UTIs lotadas no período mais crítico, entre julho e agosto. Blumenau, onde um shopping reabriu com música ao vivo, chegou a ter 3.140 pacientes em tratamento. Agora, segundo a prefeitura, são mil pessoas em tratamento e uma ocupação de leitos de UTI de 23%.

“A tendência dos governos é jogar no cidadão a responsabilidade pelo cuidado e decisões, mas sem a comunicação efetiva sobre os dados o cidadão não tem condição de tomar uma decisão livre sobre o que fazer. Na ausência de dados, toma as próprias decisões porque seu dever é cuidar da sua família e empresa. Se ninguém diz que estas decisões estão erradas, ele vai sofrer a consequências sem que tenha sido alertado”, afirma Romero.

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