Vídeo mostra senador chegando com modelo a flat em noite que ela o acusou de estupro

Defesa do político diz que imagens indicam que ela estava consciente; advogado da modelo fala em vazamento seletivo

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São Paulo

Imagens de câmeras da boate Café de la Musique e de um flat no Itaim Bibi, zona oeste da capital paulista, mostram a modelo de 22 anos e o senador Irajá Silvestre Filho (PSD-TO), 37, juntos na madrugada do dia 23 de novembro, dia em que ela acusa ele de tê-la estuprado.

Nas gravações, é possível ver apenas os dois de mãos dadas, caminhando, e ela, hesitante em entrar no elevador, digitando no celular. Não é possível concluir que as imagens desmentem a versão de nenhum dos dois.

Ao acusar o parlamentar de estupro, a modelo alegou ter sofrido um "apagão", um período de amnésia, causada pelo consumo de alcool e possivelmente outra substância e que só recobrou o discernimento “já com o [senador] em cima de si, mantendo conjunção carnal”.

Ela afirma que não tinha capacidade para consentir uma relação sexual.

O político, que é filho da também senadora Kátia Abreu (PP-TO), nega que tenha cometido crime e chama a acusação de farsa.

Uma das testemunhas ouvidas pela polícia, a recepcionista do flat afirmou que quando a modelo chegou ao local, percebeu que “alguma coisa não estava certa, pois [a moça] ficava perguntando para [o senador] onde estava, que não sabia". Ela então pediu para outro funcionário subir até o andar do apartamento do político, para ver se ouvia algo, mas ele não ouviu nada.

O advogado criminalista Daniel Leon Bialski, que defende o parlamentar, afirmou em nota que "todas as imagens, de todos os locais, revelam justamente o contrário [que a modelo não estaria insconsciente]. Eles chegaram de mãos dadas, caminhando tranquilamente, e, mais que isso, mostrando que ela manuseara seu celular, conduta incompatível com alguém que estaria alegadamente sem a capacidade e discernimento de seus atos".

Já o advogado da modelo, Jair Jaloreto, afirmou em nota estar indiginado "com o vazamento –seletivo– de imagens que fazem parte de um procedimento investigatório, que tramita em absoluto sigilo".

Ele afirmou que a modelo está "profundamente abalada com o ocorrido e com a repercussão do caso".

Quanto ao teor das imagens, Jaloreto disse ser "imprudente fazer qualquer juízo de valor a seu respeito antes da conclusão das investigações, pois tais filmagens (bem como outras provas, ainda não divulgadas pela imprensa) serão objeto de perícia".

O senador Irajá Silvestre Filho (PSD-TO) - Edilson Rodrigues/Agência Senado

Segundo relato da modelo à polícia, ela conheceu o senador em um almoço com amigos em um restaurante do Jockey Club. Os dois acabaram se beijando na casa de uma colega, onde havia uma recepção, e depois foram até a balada na zona oeste, onde continuaram consumindo bebidas alcoólicas.

A modelo diz se lembrar de ter bebido um drinque com saquê e frutras no restaurante e doses de gim na recepção.

"[Ela diz que lembra] vagamente de sua chegada no 'Café de La Musique' e, pelo que se recorda, chegou a ingerir bebida alcoólica no local, mas não sabe informar que tipo de bebida", afirma o termo de declaração com o depoimento da modelo no dia seguinte, 24 de novembro.

"Sua última lembrança é de quando estava dançando na casa noturna, a partir de então afirma ter tido um 'apagão' (um período de amnésia), não se recordando, nem mesmo por flash do que aconteceu; até que começou a recobrar a consciência, já com o investigado em cima de si", diz o depoimento.

A modelo afirma que nesse momento o senador estava penetrando-a e dizendo para ela se calar, além de declarar e as frases “agora você é minha”, “eu estou apaixonado” e "eu vou te fazer um filho agora”.

Temendo por sua segurança, ela afirmou à polícia que não resistiu à violência, mas que pediu para ir ao banheiro e pegar o celular, na tentativa de fugir do político, sem sucesso.

Conforme registrado pela polícia, a vítima diz que conseguiu sair após o suspeito concluir o ato sexual, no qual afirma que ele não usou preservativo. Em seguida, ela se trancou no banheiro e enviou mensagens a amigos, informando do abuso.

Uma amiga da vítima, também modelo, de 34 anos, chegou ao flat para ajudá-la. Ambas saíram do local e foram à recepção do edifício, onde acionaram a PM.

"Com a chegada da sua amiga, [a vítima] saiu do banheiro porque sentiu-se mais segura e, com ódio, foi para cima do investigado chutando-o e esmurrando-o", diz a Polícia Civil. O exame de corpo de delito nele, no entanto, deu negativo —ou seja, as supostas agressões não aconteceram ou não deixaram marca.

Ao chegarem ao prédio, policiais foram ao quarto onde o senador estava, mas o político havia saído do local.

A modelo afirmou que não ficou com lesões aparentes, mas se lembra que o senador ficava segurando seu corpo na cama, impedindo-a de levantar.

A Folha ainda não teve acesso ao resultado dos exames de corpo de delito e toxicológico da modelo nem ao laudo da perícia feita na suíte. Ela também entregou prints de conversas e o celular para a polícia. O processo corre em segredo de Justiça.

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